A Polícia Federal (PF) prendeu preventivamente nesta terça-feira (28) o ex-gerente da Petrobras Roberto Gonçalves. Ele substituiu Pedro Barusco (preso na Lava Jato) no cargo de gerente-executivo da Diretoria de Serviços da Petrobras e ficou na função de março de 2011 a maio de 2012. Segundo a força-tarefa da Lava Jato, Gonçalves “herdou” o esquema de propina deixado por Barusco. O ex-gerente da Petrobras, preso nesta terça-feira em Boa Vista (RR), será transferido para Curitiba na quarta-feira (29). Segundo a força-tarefa da Lava Jato, Roberto Gonçalves movimentou mais de US$ 4 milhões ilicitamente em contas no exterior.
A prisão do ex-gerente da Petrobras faz parte da Operação Paralelo, 39 ª fase da Lava Jato, deflagrada nesta terça-feira. Além da prisão de Gonçalves, foram cumpridos cinco mandados de busca e apreensão no Rio de Janeiro. Os mandados foram expedidos por ordem do juiz Sergio Moro.
Movimentações na Suíça
Investigações da Suíça identificaram cinco contas movimentadas por Gonçalves, abertas em nome de offshores criadas nas Bahamas e no Panamá. Numa delas, apenas em 2011 foram depositados mais de US$ 3 milhões, por meio do departamento de propina da Odebrecht. As contas receberam dinheiro ainda do operador Mário Goes e do ex-diretor da Petrobras Renato Duque, já condenado na Lava Jato.
A corretora AdValor, que teria movimentado mais de R$ 6 milhões de investigados na Lava Jato entre 2010 e 2014. Segundo as investigações, um dos sócios da corretora, Miguel Júlio Lopes, teria atuado como operador de recursos ilícitos. A corretora teria feito serviços de câmbio paralelo para investigados como Barusco, Gonçalves e Mário Goes.
A 39.ª fase da Lava Jato foi batizada de Operação Paralelo, aliás, por causa dessa atuação clandestina por parte dos investigados, à margem dos órgãos de controles oficiais do mercado financeiro.
Herança da propina
O procurador da República Roberto Pozzobon, da Operação Lava Jato, disse nesta terça-feira (28) que a propina passada dentro da Petrobras era “inter-geracional”, que passava de funcionário para funcionário, mesmo que o primeiro tenha já deixado a empresa.
“Havia uma herança da propina. Na sucessão de cargos, também se passou bastão da propina”, declarou Pozzobon, salientando que este caso de hoje mostra que essa gerência da Petrobras foi afetada pela corrupção mesmo após Barusco deixar o cargo. “Há ainda muitas investigações em andamento, que podem afetar outras gerências”, disse o procurador, durante entrevista coletiva realizada em Curitiba nesta terça-feira, para detalhar a operação.
A força-tarefa usou várias delações para chegar à operação. O que chamou a atenção da força-tarefa foi “a sofisticação para se ocultar a lavagem”. Gonçalves usou contas no exterior, e a Lava Jato chegou a elas graças à colaboração com autoridades suíças.
A corretora e as empreiteiras
Além de Roberto Gonçalves, pessoas físicas e jurídicas ligadas à corretora de valores Advalor Distribuidora de Títulos e Valores Mobiliários Ltda (Advalor) foram alvo da operação. Roberto já era investigado no Brasil a partir de investigações internas da Petrobras e de depoimentos prestados por investigados que firmaram acordos de colaboração premiada com o Ministério Público Federal.
Ricardo Pessoa, dirigente da UTC Engenharia, e Mario Goes, operador financeiro e intermediário entre os executivos e agentes públicos, admitiram o pagamento de propinas a Roberto Gonçalves.
Os colaboradores comprovaram documentalmente quatro depósitos de US$ 300 mil feitos no exterior, a partir de conta em nome da offshore Mayana Trading, mantida por Mario Goes.
Além disso, apuração interna da Petrobras imputou ao ex-gerente executivo parte das irregularidades encontradas nas licitações e contratos do Comperj, como a contratação direta em 2011 do Consórcio TUC, formado, dentre outros, pela Odebrecht e pela UTC Engenharia. Paralelamente, autoridades suíças que investigam desdobramentos do caso Lava Jato transferiram ao Brasil investigações por crimes de lavagem de dinheiro relacionadas a Roberto Gonçalves, com base em acordos de cooperação internacional.
LAVA JATO: a cobertura completa sobre a operação e seus desdobramentos
Durante a apuração dos fatos foram identificadas cinco contas bancárias, sendo que uma delas, registrada em nome da offshore Fairbridge Finance SA e que tem Roberto Gonçalves como beneficiário final, recebeu, somente em 2011, cerca de US$ 3 milhões de offshores ligadas ao setor de propinas da Odebrecht.
Outra conta, registrada no nome da offshore Silverhill Group Investment Inc. e que também tem Gonçalves como beneficiário final, recebeu, no ano de 2014, mais de US$ 1 milhão provenientes da conta em nome da offshore Drenos Corporation, vinculada a Renato Duque.
“Esta conta do ex-diretor da Petrobras foi abastecida por valores oriundos da conta em nome da offshore Opdale Industries, que tem por benefíciário final Guilherme Esteves de Jesus, já acusado pela Lava-Jato de ter intermediado propinas em contratos da Petrobras para o Estaleiro Jurong“, diz nota do MPF.
Ainda de acordo com os documentos encaminhados pela Suíça, Roberto Gonçalves transferiu, em abril de 2014, parte do saldo da conta Fairbridge Finance S/A para contas na China e nas Bahamas.
“Essa conduta demonstra, além da reiteração de crimes de lavagem de dinheiro, o propósito de impedir o bloqueio dos ativos criminosos e frustrar a aplicação da lei penal. Apesar da tentativa de esconder o patrimônio, ainda foi possível o sequestro de mais de US$ 4 milhões de conta ligada a Roberto Gonçalves”, salientou o MPF em nota.
Fase anterior
A fase anterior da Lava Jato havia sido deflagrada em 23 de fevereiro. A Operação Blackout, 38.ª etapa da operação, prendeu os lobistas Jorge Luz e Bruno Luz, pai e filho respectivamente, apontados como operadores do PMDB. Na ocasião, foram cumpridos 15 mandados de busca e apreensão e dois mandados de prisão preventiva no Rio.
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