Francischini é contido por Rubens Bueno (de cinza) ao se dirigir rispidamente na direção de Dr. Rosinha, com quem havia brigado| Foto: Cadu Gomes/Liderança do PSDB

"Tchutchucas" e "tigrões" provocam bate-boca de paranaenses

A disputa entre petistas e tucanos na CPMI do Cachoeira levou dois deputados paranaen­ses, Fernando Francischini (PSDB) e Dr. Rosinha (PT), a baterem boca e quase brigarem fisicamente durante a sessão de ontem. O clima esfriou graças à intervenção de outros dois paranaenses, o senador Alvaro Dias (PSDB) e o deputado Rubens Bueno (PPS).

A confusão começou após Francischini criticar a postura do relator da comissão, Odair Cunha (PT-MG), no depoimento do ex-vereador Wladimir Garcez, ligado ao governador goiano Marconi Perillo (PSDB). "Quando o relator faz perguntas sobre a Delta nacional e sobre o governador [petista] Agnelo [Queiroz, do Distrito Federal], é ‘tchutchuca’. Quando pergunta sobre o governador Perillo [tucano], é ‘tigrão’", afirmou Francischini.

Logo depois, Rosinha pediu a palavra e insinuou que havia parlamentares que queriam aparecer. "Quando a CPI é secreta, há um tipo de comportamento, quando é pública, há deputados que usam um palavreado que não é correspondente ao ambiente. Foi o caso do Francischini", falou Dr. Rosinha depois da reunião.

Depois de usar o microfone, Francischini riu das colocações do colega. Então Rosinha retrucou dizendo que o assunto era sério. "Aí, eu me levantei e só fui tirar satisfações; não iria brigar", disse o tucano. "Na verdade, ele me chamou para o tapa", declarou Rosinha.

Contradição

O ex-vereador Wladimir Garcêz deu uma versão diferente para a compta de uma casa que pertencia ao governador Marconi Perillo (PSDB-GO), supostamente com dinheiro de Cachoeira e da Delta. Garcêz afirmou que comprou a casa por R$ 1,4 milhão, dinheiro "emprestado" por Cachoeira e Claudio Abreu, então diretor da construtora Delta no Centro-Oeste. Já Perillo afirmou que vendeu a casa ao mantenedor da Universidade Padrão, em Goiânia, conhecido como professor Walter Paulo, e que Garcêz simplesmente intermediou o negócio.

André Gonçalves, correspondente

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Diante do silêncio do bicheiro Carlinhos Cachoeira no depoimento que ele prestou ao Congresso na última terça-feira, deputados e senadores da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) decidiram centrar seu alvo na construtora Delta – envolvida em novas suspeitas de participar da organização criminosa controlada por Cachoeira. Mas a intenção de investigar a fundo a empreiteira não é unânime na CPMI. E a próxima terça-feira será decisiva para o futuro da comissão: será votado o requerimento de quebra dos sigilos bancário e fiscal da Delta nacional (atualmente, só os sigilos da subdivisão da empreiteira no Centro-Oeste foram quebrados). A rejeição do pedido praticamente decretaria o fim da CPMI, que acabaria em pizza.

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A Delta, que tem estreita relação com Cachoeira, é a principal empreiteira do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). No ano passado, recebeu R$ 862,4 milhões do governo federal. Além disso, a construtora tem contratos com 18 dos 27 governos estaduais, que garantiram à empresa um faturamento de R$ 718,2 milhões em 2011 (o governo paranaense não teve contratos com a Delta no ano passado).

A possibilidade de políticos de vários partidos terem suas relações com a Delta esmiuçadas assusta tanto governistas quanto oposicionistas. Isso tem gerado tensão nas sessões da comissão. Ontem, deputados paranaenses se envolveram em um bate-boca.

Novas revelações

A decisão da CPMI de colo­­­car em votação o requerimento de quebra do sigilo da Delta foi tomada após a revelação de que recursos de contas da construtora no Rio de Janeiro abasteceram empresas de fachada que serviam à organização de Cachoeira, segundo a Polícia Federal.

O senador Pedro Taques (PDT-MT) informou no começo da sessão de ontem que saíram da conta nacional da Delta R$ 12 milhões para a Alberto e Pantoja e Brava Construções, empresas de fachada usadas pelo grupo do bicheiro. O senador queria que a quebra de sigilo fosse votada ontem. Mas o PT e o PSDB foram contra. "Essa CPI não pode ser a CPI chapa-branca", criticou Taques.

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Integrantes da CMPI já haviam identificado na terça-feira um elo financeiro entre a direção nacional da empreiteira Delta, no Rio, e o esquema do empresário Carlinhos Cachoeira, acusado de contravenção e corrupção.

O relator da CPI, Odair Cunha (PT-MG), disse que o Ministério Público do Distrito Federal levantou indícios de que o ex-diretor da Delta no Centro-Oeste Cláudio Abreu, que tinha estreita ligação com Cachoeira, detinha procuração para movimentar contas bancárias da direção nacional da construtora.Uma dessas contas, disse o relator, foi a mesma que alimentou empresas-laranjas utilizadas pelo grupo de Cachoeira e de Abreu em Goiás. "Isso alimenta a tese de que a diretoria da Delta tinha ciência dos negócios que ele operava", afirmou Cunha.

A CPMI também marcou para a próxima terça-feira a convocação dos governadores Marconi Perillo (Goiás), Ag­­­­­­­­nelo Queiroz (Distrito Fe­­­­deral) e Sérgio Cabral (Rio de Janeiro) – os três citados em investigações da Polícia Federal sobre o esquema de Cachoeira. Também será votado um pedido para investigar as relações do ex-procurador geral da República Geraldo Brindeiro com Cachoeira. O escritório de advocacia dele recebeu R$ 161,2 mil do contador do bicheiro.

"Só" promiscuidade

Procurador explica que não viu crime na investigação de 2009

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O procurador-geral da República, Roberto Gurgel (foto), justificou em ofício encaminhado à CPMI do Cachoeira por que "segurou" desde 2009 a investigação que apontava para o envolvimento de parlamentares com Carlinhos Cachoeira. Gurgel disse que, quando recebeu as informações da Polícia Federal, constatou que não havia indícios de crime para pedir ao STF a abertura de inquérito contra o senador Demóstenes Torres (ex-DEM-GO) e os deputados Sandes Junior (PP-GO) e Carlos Alberto Leréia (PSDB-GO). Gurgel disse que os dados mostravam apenas uma "relação promíscua" dos parlamentares com Cachoeira. Além disso, afirmou Gurgel, se encaminhasse a investigação contra Cachoeira ao STF, ela teria sido frustrada porque o caso se tornaria público em 2009, antes do fim da apuração policial.