A Polícia Federal informou ao Supremo Tribunal Federal (STF) que um novo delator deverá ajudar a esclarecer os relatos feitos por Paulo Roberto Costa, ex-diretor de Abastecimento da Petrobras, e pelo doleiro Alberto Youssef de que houve pagamento de R$ 10 milhões de propina ao então senador Sérgio Guerra (PSDB-PE) e ao deputado federal Eduardo da Fonte (PP-PE), para que uma CPI não aprofundasse suas investigações sobre a estatal em 2010.
Guerra, morto em 2014, era um dos principais nomes do PSDB. Eduardo da Fonte é o atual líder do Partido Progressista na Câmara.
O delegado da Polícia Federal Milton Fornazari Junior informou no dia 31 de agosto ao ministro Teori Zavascki, relator do inquérito no STF, que aguardava a conclusão “de tratativas com potencial colaborador”, motivo pelo qual a prorrogação da investigação por mais 60 dias, segundo o delegado, se tornava “imprescindível” para a continuidade das investigações.O inquérito que investiga a suposta propina foi aberto em março.
Fornazari Junior é lotado no GINQ (Grupo de Inquéritos do STF), vinculado à diretoria da PF voltada para o combate ao crime organizado e responsável por todos os inquéritos que tramitam no Supremo que envolvem políticos com foro privilegiado, em desdobramento da Operação Lava Jato.
O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, concordou com a prorrogação do inquérito, autorizada por Zavascki no dia 3 por um prazo de dois meses. Embora não tenha citado nominalmente o colaborador cujo acordo de delação estava em negociação, o delegado pode ter se referido ao lobista Fernando Soares, conhecido como Fernando Baiano, que no final de agosto mantinha negociações com a PF e a Procuradoria-Geral da República (PGR) para um acordo de colaboração.
O acordo foi selado no dia 9 de setembro. Os depoimentos de Baiano ainda estão sob sigilo na PGR e no STF.
Obstrução
No ano passado, em sua delação premiada, Paulo Roberto Costa havia contado que fora abordado por Fonte e Guerra para pagar R$ 10 milhões a fim de obstruir os trabalhos da CPI no Congresso. Ele contou ter se reunido pessoalmente pelo menos duas vezes com os dois políticos em hotéis no Rio de Janeiro, em 2010, e que o tucano “apresentou o valor de R$ 10 milhões como contrapartida para barrar a CPI”.
Costa disse ainda que informou suas negociações com o líder do PSDB ao então chefe de gabinete da presidência da Petrobras, no Rio, e que o pagamento foi operacionalizado por Ildefonso Colares, um dos executivos da empreiteira Queiroz Galvão, que mantinha obras na Refinaria Abre e Lima em Pernambuco -Estado de origem de Guerra.
O nome de Baiano surgiu no caso após depoimento de Youssef em novembro de 2014. O doleiro não só confirmou a história de Costa como acrescentou que “Fernando Soares cuidou do pagamento aos parlamentares, utilizando recursos da Queiroz Galvão”.
Youssef também afirmou que do mesmo esquema participou o senador Ciro Nogueira (PP-PI). Ele e Fonte, segundo o doleiro, “teriam cooptado Sérgio Guerra para que a CPI não fosse instalada”.
Outro lado
Em março, em petição protocolada no STF, Eduardo da Fonte negou qualquer irregularidade. “Inicialmente esclareço que nunca compactuei ou pratiquei atos de corrupção em minha vida e que estou à inteira disposição de Vossa Excelência e desse egrégio Supremo Tribunal Federal para esclarecer quaisquer elementos referentes”, escreveu o deputado.
Ildefonso Colares Filho e Ciro Nogueira já negaram qualquer envolvimento no episódio. Quando da abertura do inquérito, em março, a Queiroz Galvão, afirmou, em nota, que nega “veementemente qualquer pagamento ou atividade ilícita para obtenção de contratos ou vantagens”.
Durante a campanha eleitoral do ano passado, o filho do ex-senador, Francisco Guerra, afirmou à imprensa que não teria “absolutamente nenhuma declaração a dar”. “Eu não tenho como falar com alguém que já não está mais aqui. Mas eu preservo o legado do meu pai com muita honra.”
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