• Carregando...
Ricardo Lewandowski: presidente do STF é autor do novo projeto em discussão. | Antônio More/Gazeta do Povo
Ricardo Lewandowski: presidente do STF é autor do novo projeto em discussão.| Foto: Antônio More/Gazeta do Povo

O projeto de nova Lei Orgânica da Magistratura Nacional (Loman), que prevê o aumento de prerrogativas e benefícios dos magistrados, não deve ser aprovado até o final deste ano, conforme havia sido inicialmente previsto pelos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF). Os integrantes da Corte fizeram, pelo menos, cinco reuniões sobre o tema no segundo semestre, mas nenhuma das medidas mais polêmicas entrou em pauta.

A lei que regula a função da magistratura no Brasil é de 1979, mas em 1988 a Constituição determinou que sua atualização fosse feita por meio de lei complementar de iniciativa privativa do STF – o que até hoje não foi feito.

O texto é polêmico por ampliar gastos do Judiciário, polemizar com o Conselho Nacional de Justiça e com os juízes de primeira instância por não incluí-los em votações para presidentes de tribunais. Outro ponto de discordância é a proposta de emenda à Constituição apresentada pelo senador Ricardo Ferraço (PMDB-ES), que visa estender a influência do Legislativo sobre o Judiciário

O texto cria, por exemplo, auxílio-educação para filhos com até 24 anos de juízes, desembargadores e ministros do Judiciário em escolas e universidades privadas; auxílio moradia equivalente a 20% do salário; transporte, quando não houver veículo oficial; reembolso por despesas médicas e odontológicas não cobertas por plano de saúde, e licenças para estudar no exterior com remuneração extra. Hoje, o teto salarial dos ministros, aprovado pela Comissão de Trabalho da Câmara dos Deputados, é de R$ 39.293,38, sem nenhum desses benefícios.

O projeto da nova Loman, elaborado pelo ministro Ricardo Lewandowski a partir de proposta do ministro Luiz Fux, deve ainda ir para análise do Congresso.

Uma emenda de Fux estabelece que juízes condenados por improbidade não percam as suas funções. O ministro também pede que, se houver feriados nos 60 dias de férias que os juízes têm direito a tirar por ano, esses dias não contem, e o período de folga seja prolongado na mesma quantidade de dias. O projeto determina o livre ingresso e trânsito de magistrados em qualquer recinto público ou privado, quando em serviço, e prioridade em transportes públicos em urgências.

Entre as propostas em discussão no projeto, também estão a proibição de indiciamento de magistrados em inquéritos policiais, salvo se o tribunal a que pertencem o autorizar. O projeto também proíbe que juízes, desembargadores e ministros do Judiciário sejam interrogados em processo disciplinar ou criminal, a não ser por magistrado de instância igual ou superior.

Os poderes do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) também serão reduzidos, se a proposta for aprovada. Os conselheiros não poderão mais, por exemplo, criar as semanas de conciliação e os mutirões carcerários, que agilizam o trabalho do Judiciário. O conselho também não poderá mais criar “normas abstratas”, contexto em que se insere, por exemplo, a resolução que proíbe o nepotismo no Poder Judiciário.

Entenda os benefícios

Veja alguns dos novos benefícios propostos.

No bolso

Auxílios

Filhos de juízes ganham auxílio-educação até 24 anos. O mesmo vale para desembargadores e ministros do Judiciário; auxílio-moradia; auxílio-transporte; reembolso por despesas médicas e odontológicas não cobertas por plano de saúde; e licenças para estudar no exterior com remuneração extra.

Na Justiça

Tratamento especial

Juízes condenados por improbidade não perdem funções. Proíbe-se indiciamento de magistrados em inquéritos. Proíbe que juízes sejam interrogados, a não ser por magistrado de instância igual ou superior.

Na folga

Férias

Se houver feriados nos 60 dias de férias a que os juízes têm direito, esses dias seriam acrescidos às férias.

Projeto da nova Loman recebe críticas até de magistrados

  • rio de janeiro

A Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB) afirma que o projeto da nova Loman não é consensual na categoria. Segundo o presidente da entidade, João Ricardo Costa, a proposta não inclui, por exemplo, uma demanda antiga dos juízes de primeira instância para que eles sejam incluídos nas votações de presidentes dos tribunais. “Um juiz, que faz audiência, que atende à população, resolve a maioria dos conflitos, não pode estar sem nem sequer um estagiário no seu gabinete, sem folha de papel para imprimir suas sentenças, enquanto os tribunais têm carro oficial, motorista e todos os equipamentos mais sofisticados e modernos e atendem apenas um resíduo da demanda por Justiça, a população que tem recursos”, criticou Costa.

Já o professor da Escola de Direito da Fundação, Getúlio Vargas Thomaz Pereira, é contra alguns dos novos benefícios criados para os juízes no projeto. “Os salários dos magistrados, em geral, são os mais altos em comparação com o restante do funcionalismo público e com o que ganha o profissional brasileiro. Por isso, acho que só o subsídio poderia cobrir algumas dessas despesas dadas como auxílios”, ressaltou o professor.

Em nota, a Ordem dos Advogados do Brasil informou que o Colégio de Presidentes dos Conselhos Seccionais da OAB manifestou preocupação em relação da Loman. Para a entidade, a remuneração dos magistrados deve ser estabelecida em parcela única, submetendo-se ao teto constitucional, incluindo as vantagens pessoais.

Já assessoria de imprensa do STF declarou que a atual norma está sendo analisada e que ainda não existe um texto finalizado.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]