Uma declaração feita pelo principal delator da Operação Publicano, o auditor fiscal Luiz Antônio de Souza, sugere que haveria uma ligação direta do governador do Paraná, Beto Richa (PSDB), com o grupo de servidores acusados de corrupção na Receita Estadual. Em depoimento prestado ao Ministério Público de Londrina entre 11 e 12 de maio, o delator revela aos investigadores que o auditor fiscal Márcio de Albuquerque Lima chegou à Penitenciária Estadual de Londrina dizendo que “o Beto tá com a gente, hein, não esquece não”. “Ele bateu no peito e disse”, afirmou Souza, de acordo com o termo de colaboração firmado com o MP. Souza permanece preso.
Ex-inspetor geral de Fiscalização na Receita e parceiro de corridas automobilísticas do governador, Márcio de Albuquerque Lima chegou a ser preso no âmbito da Operação Publicano, deflagrada em março, e hoje responde a duas ações penais em liberdade.
Em outro depoimento prestado por Luiz Antônio de Souza, no dia 4 de maio, o auditor fiscal também fala da ligação do empresário Luiz Abi Antoun, acusado de comandar o esquema de corrupção na Receita, com o governador. Souza conta que, em 2010, quando Richa era candidato ao Executivo, Lima tentava se aproximar do tucano, na tentativa de ganhar um cargo de chefia dentro da Receita. Para ajudar Lima, Souza sugeriu que ele, então, se aproximasse “do primo do Beto Richa”, o Abi, quem “efetivamente tinha influência”.
“Nessa época (...), para aproximar-se de Beto Richa, Márcio [de Albuquerque Lima] deveria, na realidade, aproximar-se de Luiz Abi, o qual, segundo o depoente [Souza], já mandava nos bastidores do governo municipal desde quando Beto Richa era prefeito de Curitiba”, diz trecho do termo de declaração. A partir daí, segundo Souza, Lima passou a ajudar na campanha eleitoral do tucano, inclusive sendo liberado “informalmente” por seus superiores na Receita Estadual, sem que fossem descontados os dias de falta ao serviço.
Em janeiro de 2011, primeiro ano do mandato de Richa, Lima foi nomeado delegado regional da Receita de Londrina, cargo que ocupou até junho de 2014. Na sequência, quando Richa já disputava a reeleição ao governo, Lima assumiu o comando da Inspetoria Geral da Receita.
“Na realidade, quem efetivamente manda na Receita Estadual do Paraná é Luiz Abi Antoun, e esse fato é de pleno conhecimento no governo e nas delegacias regionais, tanto que é Abi quem efetivamente decide quem ocupa os cargos de alto escalão da Receita Estadual”, reforçou Souza aos investigadores.
Na quinta-feira (8), a reportagem procurou a assessoria de imprensa do governador, que se manifestou por nota, na qual sustenta que “as declarações são absurdas e não encontram respaldo na verdade”. A reportagem deixou recado ao advogado Douglas Maranhão, que defende Lima, mas não obteve retorno. O advogado de Abi, Antonio Carlos Coelho Mendes, tem dito que só se manifesta nos autos.
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