Dilma durante entrevista coletiva sobre a nomeação de Lula para a Casa Civil.| Foto: Pedro Ladeira/Folhapress

O dia 16 de março de 2016 entrará para a história como a data em que o governo Dilma Rousseff ruiu definitivamente. Para salvar seu mentor político do juiz Sergio Moro – e do risco iminente de prisão dentro da Operação Lava Jato –, a petista acabou abrindo a via para ser derrubada do poder. Uma conversa telefônica entre Dilma e Lula indicou que a nomeação do ex-presidente para assumir a Casa Civil teria a intenção de dar a ele foro privilegiado – o que, consequentemente, faria as denúncias contra Lula saírem de Moro para o Supremo Tribunal Federal (STF).

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A ligação foi interceptada pela Polícia Federal como parte da investigação a Lula e a retirada do sigilo telefônico foi determinada por Moro, em despacho no fim da tarde de ontem. O diálogo é das 13h32. Dilma diz ao ex-presidente: “Seguinte, eu tô mandando o ‘Bessias’ junto com o papel pra gente ter ele, e só usa em caso de necessidade, que é o termo de posse, tá?!”. Exatos dezessete minutos após a ligação, o Palácio do Planalto confirmou a nomeação de Lula, conforme vinha sendo especulado desde a semana passada.

Os investigadores da Operação Lava Jato interpretaram o diálogo como uma tentativa de Dilma de evitar uma eventual prisão de Lula. Se houvesse um mandado judicial, de acordo com essa interpretação, o ex-presidente apresentaria o termo de posse como ministro, o que, em tese, tiraria a validade da decisão caso partisse de outra instância que não fosse o Supremo.

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O reflexo foi instantâneo. Milhares de pessoas foram para as ruas pedir a saída de Dilma e a prisão de Lula. O primeiro alvo dos protestos foi o Palácio do Planalto, que precisou ser cercado por policiais. Uma bomba chegou a explodir na rampa principal. Os atos se multiplicaram pelo país. Até o fim da noite, eram manifestações nas ruas de 14 estados, além do Distrito Federal. Em Curitiba, centenas de pessoas foram para a frente da Justiça Federal, prestar apoio a Moro e à Lava Jato.

No plenário da Câmara, a sessão foi tomada por gritos da oposição de “renúncia, renúncia, renúncia” e “fora, PT”. Os governistas responderam com “golpe, golpe, golpe”. Na iminência de confrontos físicos, foi necessário fazer um cordão de isolamento entre as bancadas. Em seguida, a sessão precisou ser encerrada.

O Palácio do Planalto divulgou nota repudiando o vazamento do áudio e prometeu medidas legais contra Moro. Segundo a presidência, Lula não tinha dado certeza se estaria presente à sua posse, nesta quinta-feira (17) – e não na próxima terça, como os demais novos ministros. E o termo assinado só seria usado caso, efetivamente, Lula não comparecesse.

Além do diálogo com Dilma, outros áudios de conversas telefônicas de Lula foram divulgados ao longo da noite. Neles, o ex-presidente pede ajuda de Dilma no STF, diz que tribunais e Congresso estão acovardados, critica a atuação da Polícia Federal e diz estar assustado com a “República de Curitiba” – alusão ao núcleo da Lava Jato. Em petição ao juiz Sergio Moro, a procuradoria do Ministério Público Federal (MPF) alegou que os áudios mostravam tentativas de interferência na operação.

Tudo leva a crer que essa interferência tornou-se o começo do fim do governo petista.

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