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Joaquim Barbosa, ao centro, deixa o prédio do STF ladeado por outros ministros, após a sessão que resultou em bate-boca: relacionamento com Gilmar Mendes já está ruim há tempos | Nelson Júnior/STF
Joaquim Barbosa, ao centro, deixa o prédio do STF ladeado por outros ministros, após a sessão que resultou em bate-boca: relacionamento com Gilmar Mendes já está ruim há tempos| Foto: Nelson Júnior/STF
  • Pivôs da crise

Há tempos Joaquim Barbosa não fala com Gilmar Mendes fora das sessões do Supremo Tribunal Federal (STF). Nem com Marco Aurélio Mello e Eros Grau. Por outro lado, sobram manifestações de afeto a Carlos Ayres Britto.

O difícil relacionamento entre os ministros é uma das origens da briga escancarada entre Barbosa e Mendes na última quarta-feira. Ao dizer que não era uma dos "capangas do Mato Grosso" do presidente do Supremo, Barbosa tentou demonstrar que não era submisso. Protagonizou, porém, um raro momento de descompostura em um dos ambientes mais formais da República.

Pessoas com vivência nos bastidores do Supremo não estranharam a explosão dos ministros. Uma ex-funcionária do gabinete de Barbosa definiu o antigo chefe como alguém "sério e formal", mas que não tolera qualquer "incorreção". "Ele não dá espaço para ninguém se aproximar."

Por outro lado, segundo ela, a origem humilde e o fato de ser o primeiro ministro negro do Brasil despertam admiração entre os funcionários (a maioria deles com um alto grau de escolaridade). "Nunca vi preconceito. Muito pelo contrário, as pessoas fazem questão de demonstrar respeito por tudo o que ele fez e até onde ele chegou."

A moça, que não pôde se identificar porque teve de assinar um termo de confidencialidade ao deixar a função, destaca também o profissionalismo de Barbosa. Outra característica marcante: o sofrimento causado pelas dores nas costas, que obriga o ministro a acompanhar a maior parte das sessões em pé e agrava o constante mau humor.

Repercussão

Entre os parlamentares paranaenses, um em especial teve uma relação mais próxima com Barbosa e Mendes. O deputado federal Osmar Serraglio (PMDB) foi relator da CPI do Mensalão, que ajudou a embasar o processo que está no STF. Em 2007, Barbosa indiciou 40 envolvidos no esquema de compra de votos no Congresso Nacional, incluindo o antigo braço direito do presidente Lula e ex-ministro da Casa Civil, José Dirceu.

"O que eu posso falar do Barbosa? Só posso dizer que tenho admiração. Afinal ele foi muito correto na condução do processo e também humilde de me procurar", diz Serraglio. Neste ano, o parlamentar aproximou-se de Mendes como interlocutor do Congresso Nacional na elaboração do pacto republicano entre os três poderes para melhoria no funcionamento da Justiça brasileira.

"Não preciso nem dizer que a relação entre os dois ministros não é muito boa. Mas, do ponto de vista técnico, não dá para falar que este ou aquele é melhor. Acho que o Gilmar Mendes tem feito um trabalho muito bom, principalmente nas questões administrativas do Supremo."

Serraglio lembra que a trajetória de Mendes cruzou-se com o Paraná quando ele era advogado-geral da União (2000 e 2002) e ajudou a bancada do estado nas discussões sobre a faixa de fronteira com a Argentina e o Paraguai. Além disso, o presidente do STF é professor honorário das Faculdades Integradas do Brasil (UniBrasil), em Curitiba. Foi ele quem ministrou a aula inaugural da instituição, em 2000.

O diretor-geral da UniBrasil, Clèmerson Clève, lamentou o episódio entre Barbosa e Mendes, que também é empresário do ramo e dono do Instituto Brasiliense de Direito Público. "Foi lamentável, mas ao menos eu destaco uma virtude de ambos: são pessoas que defendem fortemente suas opiniões."

O deputado federal Gustavo Fruet (PSDB), sub-relator da CPI do Mensalão, diz que a falta de entrosamento entre os dois ministros não pode ser considerada como algo factual. "É só ver a carreira dos dois, de onde eles vieram." Ambos integraram o Ministério Público Federal e Barbosa ainda manteria os ensinamentos aprendidos nos 15 anos como procurador. Já Mendes não esconde as divergências com a linha de atuação dos procuradores "modernos", mais atuantes no andamento das investigações policiais.

Se o passado foi realmente a origem do estremecimento da relação entre os dois ministros, o futuro tende a piorá-la. Daqui a um ano, Mendes deixará a presidência do STF, enquanto Barbosa assumirá o comando do Tribunal Superior Eleitoral às vésperas de uma das campanhas de sucessão ao Palácio do Planalto mais acirradas da história brasileira. Sem contar que esse será apenas mais um dos episódios de uma longa convivência que ambos ainda devem ter pela frente no Supremo.

Por idade, a aposentadoria de Mendes, aos 70 anos, só ocorrerá em 2026. A de Barbosa, em 2024.

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