Alvaro: "estão vendo fantasmas."| Foto: Arquivo /Gazeta do Povo

Um dos principais mentores da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Petrobras, o senador Alvaro Dias (PSDB) considera que só o debate para a instalação da comissão já vem trazendo resultados positivos. "Seguramente hoje, com o debate sobre a instalação ou não da CPI, muito mais brasileiros sabem das irregularidades na estatal", afirmou o senador tucano, integrante da comissão. A CPI da Petrobras foi criada na metade de maio, mas até agora não foi instalada. Embora os integrantes já tenham sido indicados – três deles da oposição e oito da base governista – por três vezes a instalação da comissão foi adiada. Somente os senadores da oposição Antonio Carlos Magalhães Neto (DEM-BA), Alvaro Dias (PSDB-PR), Sérgio Guerra (PSDB-PE) estiveram presentes no encontro em que seriam escolhidos o presidente e o relator da comissão. O atraso no início dos trabalhos atende aos interesses do governo federal. Os senadores governistas que integram a CPI vem declarando que só vão participar de nova reunião se a oposição devolver a relatoria da CPI das ONGs. O cargo pertencia ao senador da base aliada Inácio Arruda (PCdoB-CE), mas há duas semanas, a oposição tomou dos governistas a relatoria. O líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio (AM), assumiu o posto que era de Arruda.

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Mas um impasse entre os partidos da base sobre quem vai assumir a presidência e a relatoria da comissão também atrapalham o início da CPI. O presidente Lula comunicou nesta semana aos ministros da coordenação política que iria agir diretamente para tentar contornar o problema. Para o ministro das Relações Institucionais, José Múcio Monteiro, já estaria definido que PT e PMDB deverão ocupar os principais cargos.

Em entrevista concedida ontem à Gazeta do Povo, Alvaro acusou o governo federal de "lotear" a Petrobras, ao colocar políticos em postos que deveriam ser preenchidos por pessoas com capacitação técnica. Na avaliação do senador, isso diminui a qualidade da administração da empresa. "A CPI quer desprivatizar a Petrobras."

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O senador defendeu também que o PSDB só deve sair da relatoria da CPI das ONGs, se for concedido ao partido um cargo na CPI da Petrobras. "Mas o governo não abre mão, porque tem pavor da CPI da Petrobras", afirma o senador tucano.

Na quarta-feira, Alvaro subiu à tribuna do Senado para criticar os integrantes da base aliada do governo, por terem faltado à reunião de instalação da CPI. O tucano criticou também o presidente Lula por, num primeiro momento, ter atacado a criação da comissão, para, em seguida a sua criação, defender que a presidência e relatoria fossem ocupadas pelos parlamentares governistas. Na ocasião, Alvaro disse também que caso as investigações da CPI se mostrem infrutíferas, as denúncias que tiverem sido apresentadas à comissão se transformarão em uma representação que será encaminhada ao Ministério Público Federal, a fim de que sejam tomadas as providências necessárias.

Que resultados a CPI já produziu, mesmo sem ter sido instalada?

O "efeito CPI" já trouxe consequências. Boa parte da população não tinha nem ideia dos escândalos que estavam ocorrendo na Petrobras. Seguramente hoje, com o debate sobre a instalação ou não da CPI, muito mais brasileiros sabem das (supostas) irregularidades na estatal, entre eles o superfaturamento bilionário de uma obra de refinaria em Recife e repasses de recursos de patrocínio a organizações não governamentais para festas juninas e blocos carnavalescos. Certamente a CPI interrompeu a ocorrência desses problemas. As planilhas de custos da refinaria no Recife não foram mais pagas. Outra consequência foi o debate da liberdade de imprensa, com a Associação Nacional dos Jornais protestando contra a criação do blog da estatal para divulgar perguntas de jornalistas, alegando que o que a Petrobras estava fazendo era intimidação.

O governo está condicionando a instalação da CPI da Petrobras à devolução da relatoria da CPI das ONGs. A oposição vai aceitar, já que o senador Arthur Virgílio (PSDB, líder da oposição no Senado) já disse que estaria propenso a ceder a relatoria?

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Seria natural aceitar se o governo obedecesse a praxe e permitisse à oposição presidir a CPI da Petrobras. Mas a oposição assumiu a CPI das ONGs (comissão que funciona há dois anos) como reação ao fato de o governo não respeitar essa praxe. Se o governo permitir que a oposição presida a CPI, não haveria dificuldades de cedermos a relatoria da CPI da ONGs. Mas o governo não abre mão, porque tem pavor da CPI da Petrobras, o que dá a ideia de que o escândalo é bem maior do que o anunciado.

Tem-se comentado que essa CPI tem cunho político e não trará resultados. Como o senhor vê essa crítica?

Com todos os escândalos levantados pela imprensa não se pode dizer isso. Houve loteamento político da Petrobras, uma espécie de privatização da empresa. É como se ela tivesse sido arrendada à "base alugada". A CPI quer desprivatizar a Petrobras.