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Elas servem para fazer bolsas, cortinas e pufes. Podem também ser usadas na fabricação de camisetas, brincos e pulseiras. Em tempos em que a moda é ser ecologicamente correto, as garrafas pet – aquelas de plástico, que na maioria das vezes acabam indo para o lixo – viraram verdadeiros artigos de mil e uma utilidades no mercado nacional.

Transformar as garrafas de plástico em artesanato tem garantido há mais de dez anos o sustento da família dos artistas plásticos Rudi e Eduardo Webster, que têm quatro filhos em Tanguá, no Rio de Janeiro.

Eles adaptaram a técnica que usavam em porcelana para fazer pequenos sulcos no plástico e dar o efeito de bordado às peças, que em nada lembram as garrafas verdes: são cortinas, objetos decorativos, móveis e bijuterias.

Preconceito

Apesar da criatividade do trabalho, descobrir que está comprando um produto feito de pet ainda causa estranheza em alguns clientes. "Existe o preconceito entre as pessoas de baixa renda. É muito fácil vender numa área para turistas. Você não diz que é pet", explica Rudi. Para conseguir matéria-prima, ela e o marido saem em busca da garrafa pela comunidade: vizinhos e comerciantes vendem cada garrafa usada por R$ 0,05. Depois de pronta, uma bolsa feita de pet pode ser vendida por R$ 25.

Há dois anos, então recém-formada em moda, Camila Sotto buscava um produto com apelo ambiental para apresentar a confecção em que trabalhava. A resposta veio com a fabricação de camisetas a partir de garrafas PET.

"Achei uma pessoa que fazia o fio, e começamos a comprar o fio e fazer a malha", diz. A aposta deu certo: hoje, a empresa produz para marcas conhecidas como Osklen e Track and Field. A confecção a partir da reciclagem ainda não é significativa para a fábrica, mas Camila espera uma mudança no cenário. "A gente acredita que daqui a um tempo, até o final do ano, as camisetas tomem grande parte da nossa produção".

O primeiro desafio da empresária foi enfrentar a desconfiança do cliente com relação ao material. Para isso, foi feito um material explicativo sobre o produto. "As pessoas acham que o tecido vai ser só verde, ou duro, ou quente porque é de plástico", diz. Camila enumera as qualidades da malha: "Ela tem um toque macio como algodão, não é quente, é mais resistente porque tem o poliéster", afirma.

O processo de produção começa com os catadores de lixo, que recolhem as garrafas usadas. O material é levado para cooperativas, de onde são depois vendidas a empresas como a Repet, de Mauá, em São Paulo. Lá elas são lavadas, moídas e transformadas em flocos.

Em outra etapa, os flocos são por sua vez transformados em fibras de poliéster para confecção de tecidos, tapetes e enchimentos, diz Hélio Losito, gerente comercial da Unnafibras, empresa de Santo André, na Grande São Paulo, que fabrica cerca de 2,2 mil toneladas de fibras a partir de garrafas PET todos os meses.

300 empresas

A reciclagem das garrafas pet movimenta a economia: mais de 300 empresas brasileiras são diretamente ligadas ao negócio de reciclagem de PET no Brasil, segundo a Associação Brasileira da Indústria do PET (Abipet). O faturamento estimado do setor formal, só no primeiro estágio da reciclagem, foi de mais e R$ 150 milhões em 2005.

Naquele ano, foram recicladas 174 mil toneladas do produto – 47% do total de garrafas comercializadas. Além disso, empresas "antenadas" já começam a fazer da reciclagem parte de seus negócios diretos, como é o caso da Natura. Desde março deste ano, ela vem substituindo os frascos de uma de suas linhas de produtos por embalagens que têm em sua composição 30% de Pet reciclado.

O desenvolvimento da nova embalagem levou três anos e a redução do impacto ambiental, segundo a companhia, será de cerca de 15%. "Esse número é significativo, mas estamos trabalhando, junto com nossos parceiros, para aprimorar o processo de reciclagem de forma a utilizar uma resina com 100% de PET reciclado. Desta forma, conseguiremos alcançar 50% de redução", afirma Victor Fernandes, diretor de desenvolvimento da Natura.

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