Depois de nove dias de silêncio, o governador Beto Richa (PSDB) voltou a se pronunciar nesta sexta-feira (8) sobre os fatos do dia 29, quando a Polícia Militar feriu 213 pessoas em uma manifestação no Centro Cívico de Curitiba. No dia do confronto, Richa acusou parte dos manifestantes pela confusão e isentou a polícia de culpa. Depois disso, o comandante da PM, coronel Cesar Kogut, e o secretário de Segurança, Fernando Francischini (SD), caíram. E imagens nas tevês, nos jornais e na internet comprovaram vários abusos cometidos pelos policiais. Nesta sexta, Richa voltou ao Facebook, deu entrevista para a tevê, gravou publicidade e concedeu a entrevista abaixo para a Gazeta do Povo. Nela, diz que “não tem ninguém mais machucado” do que ele. E, embora mantenha a versão de que manifestantes iniciaram o confronto, pede desculpas aos feridos.
O sr. disse no dia dos confrontos que entendia que o que houve foi uma reação da PM a atos de arruaceiros. Depois de ver as imagens, o sr. mudou de ideia?
Eu acredito que tem um inquérito hoje instalado pela Polícia Militar, Polícia Civil, Ministério Público, de forma aberta, transparente, e acredito que analisando o registro de cenas daquele dia vão poder tirar conclusões precisas e corretas. E havendo excessos não tenha dúvida de que devem ser punidos, de ambos os lados. O que fizemos ali foi proteger uma instituição democrática, com cerco da polícia para que não acontecesse como da outra vez, com deputados impedidos de cumprir suas funções, de votar projetos. Agora, tinha pessoas estranhas ao movimento dos professores, porque acredito que professor não tira pedra do calçamento da praça de petit pavê para atirar em polícia, com pedaços de pau, com cercas, que foram para cima dos policiais que ficaram acuados e reagiram. Questiona-se se foi um excesso de uso de balas de borracha. E se houve excesso pode ter certeza de que vai haver punições. Não faz parte do meu estilo o que eu assisti. Eu acredito até que o governo, o sindicato devem desculpas a sociedade paranaense, à sociedade brasileira, porque são imagens tristes que foram para o Brasil inteiro.
Em casos pontuais, como as imagens de PMs batendo em gente caída no chão, ou da aluna da UEL que foi obrigada a se despir, o sr. afirmaria que houve excesso?
Tem que avaliar. Qualquer afirmação agora talvez não seja tão precisa quanto o inquérito que está apurando essas cenas que podem ser chocantes, que são chocantes. Vamos aguardar o inquérito para ter uma avaliação mais precisa. Esse caso da moça eu tomei conhecimento ontem [quinta] e hoje [sexta] pedi as explicações, pedi que haja uma investigação para saber o que aconteceu.
Algum arrependimento pessoal quanto à sua condução dos fatos?
Veja bem, o que eu fiz foi pedir o cerco à Assembleia Legislativa. Orientei o tempo todo o comando, o secretário que avisasse aos policiais, orientassem que tivesse calma, serenidade, tolerância, que evitassem de toda forma o confronto, a agressão. Ninguém deseja qualquer pessoa agredida, qualquer pessoa ferida. Posso garantir que não tem ninguém mais machucado do que eu. Falo com muita franqueza e com muita sinceridade. Eu sofro na alma, fui atingido na alma pelo que está acontecendo. O mais machucado de tudo isso foi eu.
Sobre a saída do secretário Francischini, o sr. já tem um substituto? Como lidar com essa situação de a tropa ter se rebelado?
Em função dessa incompatibilidade é que se entendeu por bem a saída dele. Não tinha mais clima com essa revolta de alguns oficiais da Polícia Militar. O Francischini entendeu por bem se retirar. O comandante da mesma forma. Então fica lá na Polícia Militar como interino o coronel Bührer e interino na Segurança Pública o delegado federal Mesquita.
O sr. deve anunciar os substitutos na próxima semana?
Não, com cautela. Agora não tem prazo. Vamos analisar a melhor pessoa possível que possa ter esses dois comandos.
Governo lança propaganda para explicar mudanças na Paranaprevidência
- Amanda Audi
O governo estadual começou a veicular nesta sexta-feira (8) em todos os canais de televisão uma campanha publicitária para tentar explicar as mudanças no Paranaprevidência. A propaganda é basicamente uma explicação, em textos corridos e gráficos, sobre o que foi alterado na previdência dos servidores. Em resumo, o objetivo do governo é dizer aos servidores estaduais que as mudanças aprovadas pela Assembleia Legislativa não teriam impacto direto na poupança dos futuros aposentados.
O edital de concorrência para escolher a agência que faria a propaganda foi aberto apenas na última quarta-feira (6), ou seja, exatamente uma semana depois da confusão no Centro Cívico. No dia, manifestantes tentavam impedir a votação do projeto da previdência e foram reprimidos com balas de borracha, spray de pimenta e bombas de efeito moral e de gás lacrimogêneo.
O governo tem como dar o reajuste de 8,5% reivindicado pelos servidores? Como lidar com a greve dos professores a partir de agora?
Na minha avaliação, nunca houve um motivo para a existência da greve. Não tem um objeto específico. Cada hora é um pretexto diferente. Essa última foi a pretexto de que falaram para os professores de forma maldosa, irresponsável que iríamos acabar com a aposentadoria dos professores ou dos servidores em geral. Isso nunca houve. Essa proposta da previdência por exemplo foi construída ao longo de mais de dois meses. Mas é difícil, você não convence quem não quer ser convencido.Não há motivo para essa greve. Até porque na prática eu demonstrei o respeito e a valorização dos servidores. Contratei quatro mil professores, dez mil policiais, aumento de 60% para eles. Não está sendo fácil pagar essa conta. Até por essa razão, respondendo de maneira mais objetiva, estamos no limite prudencial de gastos com professores. Então, o que também vai basear nossa decisão do índice de reajuste dos professores vai ser a lei. Eu não estou acima da lei.
Mas pelo que o sr. está dizendo, vai ser difícil conceder os 8,5%?
Pelos cálculos que os técnicos têm me passado é muito difícil. Mas também não dá para antecipar porque tem que esperar o cálculo e ver o limite prudencial.
O sr. se preocupa com o fato de 20 deputados terem votado contra o governo? Como fica a base na Assembleia?
A votação era polêmica, era difícil alguns deputados resistirem ali à pressão de professores, servidores, à confusão toda que se deu na praça.
Mas como fica essa situação dos deputados que votaram contra? Eles podem voltar a integrar a base?
Vamos discutir, ainda não sentamos para conversar com os deputados. Mas veja, mesmo com a dificuldade e o desgaste dessa votação, ainda tivemos maioria. Eu acredito que as coisas devem melhorar daqui para frente. Eu sabia do risco que estava correndo de colocar minha imagem política nessa situação, minha popularidade. Mas eram medidas amargas, impopulares, mas fundamentais, imprescindíveis, inadiáveis para o estado do Paraná. Agora é trabalho, trabalho, trabalho, presença no interior, como fiz da outra vez, ações, obras, programas sociais. Enfim, agora com a situação do estado melhorando dia a dia eu acredito que fiz o correto pelo presente e pelo futuro do estado do Paraná.
O sr. falou que tinha arruaceiros lá. Mas ficou claro que muita gente que estava protestando pacificamente e saiu ferida pela polícia. O que o sr. diria para essas pessoas?
Uma palavra de desculpas. Nunca foi o meu desejo.Todos conhecem o meu estilo, conciliador, de diálogo, de respeito às pessoas. Minha formação de valores e princípios inclusive cristãos.Jamais agi dessa forma na minha vida pessoal, ao longo da minha carreira, da minha trajetória política de mais de 20 anos. Peço desculpas, como tive oportunidade de ligar para o deputado Rasca [Rodrigues], para o cinegrafista [ Luiz Carlos de] Jesus. Pedir desculpas a ele, em meu nome pessoal, em nome do governo por terem saído feridos [foram mordidos por cachorros da PM]. Posso te garantir, com toda a sinceridade, não tem ninguém mais machucado do que eu nesse momento. Tenho sofrido profundamente nos últimos dias. Sofrido mesmo.
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