O ex-gerente de Engenharia da Petrobras Pedro Barusco, um dos delatores da Operação Lava Jato, informou em depoimento à Justiça Federal na terça-feira (14) que o nome do ex-ministro José Dirceu (Casa Civil) ‘aparecia nas conversas’ sobre repasses de propinas. Ele disse que não sabe se Dirceu efetivamente recebeu.
“O nome dele [Dirceu] aparecia nas conversas. Agora, se ele efetivamente recebeu, não era papel meu. Eu cuidava da parte da Casa e já era difícil. Eu não me envolvia com esse negócio do partido”, afirmou Barusco, após ser questionado pelo juiz federal Sérgio Moro se o ex-ministro recebia valores. O ex-gerente era braço direito de Duque na Diretoria de Serviços da estatal.
Barusco depôs como testemunha de acusação nos autos da ação penal contra o ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto, o ex-diretor de Serviços da Petrobras, Renato Duque, e outros 25 réus por lavagem de dinheiro.
Na mesma audiência, realizada na terça-feira depôs o lobista Julio Camargo. Delator da Lava Jato, Camargo afirmou que entregou R$ 4 milhões em propinas para José Dirceu, ‘autorizado’ por Renato Duque.
Pedro Barusco falou também sobre João Vaccari. “Eventualmente, teve uma vez que eu estava com dificuldade de receber de uma empresa e o Vaccari, coincidentemente, falou que tinha facilidade de receber daquela empresa. Nós trocamos, vamos dizer, um aporte de uma empresa pelo aporte de uma outra.”
Barusco contou que começou a receber propinas na Petrobras em ‘95, 96’ – primeiro mandato do presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB). Segundo ele, o dinheiro teria saído de contratos de plataforma.
“Eu comecei recebendo propina da SBM em 95, 96. Eu não lembro exatamente o início, quando começou. [Era] ligado a uns contratos de plataforma, ganhava um porcentual da comissão de representação do representante da SBM. No tempo eu não sei precisar exatamente. Em 2003 eu comecei a conviver com muitas empresas, começou uma empresa, uma outra empresa. Quando eu vi, eu estava nesse mercado, vamos dizer assim, nesse cenário”, afirmou ao juiz federal Sergio Moro, que conduz as ações da Lava Jato.
O delator amealhou US$ 97 milhões em propinas, segundo ele próprio admitiu em depoimento à Polícia Federal e à Procuradoria. Ele abriu mão da fortuna e concordou em comunicar as instituições financeiras na Suíça sua disposição em repatriar os valores.
“Até 2003, eu só me lembro de ter recebido e de receber da SBM. A partir de 2003, final de 2003, quando eu entrei não tinha tanta intimidade, relacionamento com as empresas nem com diretor, eu comecei a receber de outras empresas”, contou.
Em março, o Ministério Público Federal informou que havia repatriado R$ 182 milhões da Suíça, dinheiro que estava depositado em contas de Pedro Barusco. As transferências foram autorizadas espontaneamente pelo próprio Barusco, dentro do acordo de delação premiada que ele firmou com a força tarefa da Operação Lava Jato.
Pedro Barusco disse, ainda, que entregava a Renato Duque quase semanalmente envelopes com dinheiro de propinas.
A rotina da corrupção se prolongou, segundo Barusco, ‘por cinco ou seis anos’. O dinheiro era entregue em envelopes, quase sempre. “Às vezes pulava uma semana, era assim”, disse o ex-gerente delator.
O criminalista Roberto Podval afirma que o ex-ministro José Dirceu nunca recebeu propinas. Ele disse que a JD Assessoria – hoje inativa –, realizava efetivamente serviços de consultoria. “Todos os recebimentos eram contabilizados”, assegurou Podval.
O advogado Luiz Flávio Borges D’Urso, defensor de João Vaccari Neto, afirma que o ex-tesoureiro do PT se dedicava à arrecadação de valores lícitos para o partido. D’Urso tem reiterado que Vaccari ‘jamais recebeu propinas’.
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