| Foto: YASUYOSHI CHIBA/AFP

Com receio de que o desgaste do PT provoque uma drástica diminuição da sua bancada na Câmara em 2018, o ex-presidente Lula elaborou um plano para lançar os principais nomes do partido na disputa por uma vaga de deputado federal. A estratégia, porém, está ameaçada pela resistência de alguns nomes de aceitar a tarefa.

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Se perder parlamentares, o PT terá menos tempo de televisão e repasses do fundo partidário, o que pode inviabilizar o seu futuro. A legenda elegeu 68 deputados em 2014, a maior bancada da Câmara. Debandadas provocadas pela crise originada da Lava-Jato e do impeachment da presidente Dilma Rousseff já reduziram o número de parlamentares para 58, permitindo que o PMDB se tornasse a legenda como mais representantes na Câmara: 65.

“Se o número de deputados cair para em torno de 20, vamos virar uma partido pequeno e a recuperação, mesmo no futuro, fica difícil. Agora, se fizermos uma boa bancada, podemos manter a estrutura partidária e aí dá para recuperar, mesmo que a gente perca a eleição presidencial”, diz um cacique.

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Na eleição municipal do ano passado, o número de prefeitos petistas eleitos caiu 60% em relação a 2012. O PT foi apenas o 10º na lista dos partidos que mais elegeram prefeitos, com 256. O temor é que o fenômeno se repita em 2018.

O sistema de disputa das vagas na Câmara permite que um candidato bem votado ajude, por causa do quociente eleitoral, a eleger outros integrantes do mesmo partido ou da mesma coligação. Assim, se a sigla tiver nomes bem votados, pode compensar uma perda de votos na legenda e nos atuais parlamentares. A ideia de Lula é ter na disputa ex-governadores como Jaques Wagner, Tarso Genro, Olívio Dutra e ex-prefeitos de capitais como Fernando Haddad e João Paulo.

“É uma das nossas prioridades pegar os principais quadros, ex-prefeitos que encerraram o mandato no ano passado, vereadores que tiveram uma votação grande, e colocar todos como candidatos a deputado federal para formar uma boa bancada. Essa é a nossa estratégia”, afirmou o vice-presidente nacional do partido, Alberto Cantalice.

Em São Paulo, estado que possui o maior de números deputados (70), os preparativos para montagem da chapa estão sendo conduzidos pelo ex-prefeito de São Bernardo do Campo Luiz Marinho, amigo próximo de Lula. Marinho será indicado pela CNB, a corrente majoritária da legenda, para assumir o comando do diretório estadual na eleição interna, em maio.

Haddad, Genro e Suplicy seriam os puxadores de votos

Pelo menos três nomes apontados pela cúpula do PT como possíveis puxadores de voto na disputa por uma vaga na Câmara colocam empecilhos para entrar na disputa. A ideia de brigar por um mandato no ano que vem não agrada o ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad, o ex-governador do Rio Grande do Sul Tarso Genro e o ex-senador Eduardo Suplicy.

Vereador mais votado de São Paulo no ano passado com 300 mil votos, Suplicy tem afirmado em reuniões internas que gostaria de disputar o governo do estado, o Senado ou até uma prévia para a Presidência da República, se Lula não for candidato. A imagem de político honesto do ex-senador é vista como principal trunfo do partido em São Paulo. O cálculo de petistas é que caso se candidatasse à Câmara, o ex-senador poderia garantir a eleição de pelo menos mais dois nomes.

“Está tudo em aberto”, afirmou Eduardo Suplicy, ao ser perguntado sobre os seus planos para 2018. Lula já reconheceu a aliados que se Suplicy insistir em tentar voltar ao Senado será difícil impedi-lo.

Um outro possível puxador de votos em São Paulo seria Haddad, que apesar de ter sido derrotado no primeiro turno ao tentar se reeleger prefeito no ano passado, teve 967 mil votos. Mas o ex-prefeito avalia que não tem perfil para cargos no Legislativo.

Já Tarso afirma que só aceitaria concorrer a deputado se fosse convocada uma constituinte. “Somente nesta hipótese valeria o sacrifício, já que depois de tantos anos cumprindo mandatos, posso reorganizar a minha atividade política, combinando-a com a retomada da minha vida profissional e das minhas relações familiares”, disse o ex-governador, acrescentando que não pretende disputar nenhum cargo na próxima eleição.

Principal líder da corrente Mensagem ao Partido, adversária do grupo que comanda a legenda, Tarso afirma ser “boa” a ideia de lançar nomes fortes para o Legislativo, mas avalia que antes é importante saber qual o caminho que o PT vai adotar no congresso interno, que será realizado em junho.

“(A ideia de lançar quadros de destaque para Câmara) Não é uma panaceia. Tudo vai depender do grau de renovação que o PT vai processar no seu congresso e de como isso será compreendido pela sociedade.”

Antes das definições das chapas para deputado federal, o PT deve lançar a candidatura de Lula a presidente. A expectativa é que o ex-presidente seja apresentado como candidato já nas próximas semanas.

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