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Curitiba – A crise política que praticamente monopoliza a atenção da mídia nacional nos últimos meses, além de alimentar jornais, revistas, rádios, tevês e sites de notícias com escândalos e denúncias quase diárias, é também matéria-prima perfeita para humoristas e chargistas que, especialmente pela internet, traduzem de uma forma mais leve um sentimento geral de indignação.

"A piada está vindo pronta", diz Antonio Pedro Tabet, criador do site www.kibeloco.com, um dos mais conhecidos entre os que costumam satirizar os acontecimentos em Brasília. "Tem um deputado corrupto que se tornou um herói da nação e que um dia aparece com o olho roxo nitidamente causado por um soco, o assessor do irmão do presidente do PT flagrado com dólares na cueca... Tudo isso é engraçado por si só. Até os nomes parecem de uma novela mexicana: Delúbio, Marcos Valério, Fernanda Karina, Roberto Jefferson...", diz o humorista. Mas, entre os nomes recorrentes no notíciário, sem dúvida o mais sugestivo é o de Jacinto Lamas, tesoureiro do PL, um dos partidos acusados de receber o mensalão no Congresso.

Para Tabet, a atual crise política não é maior do que outras pelas quais o país já passou, como a que resultou no impeachment do ex-presidente Fernando Collor de Mello, em 1992. A diferença, segundo o humorista, está na quantidade e na facilidade do acesso à informação. Como exemplo, cita o fato de as pessoas poderem acompanhar as notícias de Brasília em tempo real pela internet ou assistir aos depoimentos pelas tevês da Câmara e do Senado. "Na verdade é um grande Big Brother."

A mesma análise faz o professor Carlos Alberto Martins da Rocha, do departamento de Comunicação Social da Universidade Federal do Paraná. "O interesse das pessoas é o mesmo, o que muda são as ferramentas para a busca pela informação", analisa. O professor explica que, além da internet, a troca de e-mails pessoais é mais uma forma de difundir informações sobre a situação política nacional. "Mesmo entre aqueles que sempre acompanham o noticiário, uma conversa com outras pessoas pode sempre trazer um fato novo à tona", diz.

Rocha destaca também o papel das charges, as quais, de uma maneira muito rápida, conseguem passar uma informação relevante. Para Tabet, a crítica humorística consegue atingir o âmago das pessoas, que, de um modo geral, estão sintonizadas com a realidade de uma maneira um pouco diferente do que os jornalistas especializados na área de política. "Como não estão tão próximos do poder, os humoristas conseguem ter uma visão mais crítica", analisa.Tabet ressalta ainda o papel educativo dos sites de humor. "Há casos de adolescentes de 15 anos que não costumam abrir o noticiário de política, mas que acabam tentando se informar melhor, mesmo que seja só para entender a piada."

Lado sério

Além dos sites que buscam uma visão mais bem-humorada da crítica, a internet serve também como uma maneira mais democrática de se difundir a informação classificada como "séria". Um dos sites que está fazendo sucesso nesta crise é o www.cpmidoscorreios.org.br, criado pela equipe do senador Delcídio Amaral (PT-MS), presidente da CPI dos Correios. No site, o internauta pode acessar informações como a lista das quebras de sigilo já autorizadas pela comissão, a agenda de atividades e a transcrição integral dos depoimentos. De acordo com José Eduardo Marzagão, administrador da página, a média de acessos varia entre 20 e 22 mil usuários diferentes por dia, e chega a triplicar em dia de depoimentos importantes. Além disso, segundo Marzagão, a equipe recebe entre 300 e 400 e-mails diários, entre críticas e elogios à atuação de parlamentares na CPI, mensagens de indignação e até denúncias de corrupção. Ele considera que o site é uma maneira de facilitar o canal de comunicação entre os parlamentares e os cidadãos e serve para mostrar com mais transparência os trabalhos da comissão. Para quem está longe de Brasília, nada mais adequado. Afinal, o show não pode parar.

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