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AÉCIO NEVES: Entre a lábia e o choque

Leia o perfil do pré-candidato do PSDB

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EDUARDO CAMPOS: Especialista em ser zebra

Leia o perfil do pré-candidato do PSB

Aos 21 anos, Aécio deixou o Rio para se tornar secretário particular do avô Tancredo Neves
Eduardo Campos foi chefe de gabinete do avô Miguel Arraes, na segunda gestão como governador de Pernambuco
Aécio Neves: aposta tucana para voltar à presidência
Campos deixou o governo para tentar desbancar Dilma

Dois economistas joviais, recordistas de votos e com discurso de "nova política" vão tentar evitar a quarta vitória presidencial seguida do PT. O mineiro Aécio Neves (PSDB) e o pernambucano Eduardo Campos (PSB) são desafiantes com trajetórias similares, dispostos a seduzir o eleitorado com retratos positivos das gestões como governadores. Nas entrelinhas dos currículos, ambos também carregam marcas da "velha política", como o vale-tudo na formação de alianças partidárias. A reportagem da Gazeta do Povo passou a última semana de março entre Belo Horizonte e Recife para colher informações e depoimentos de representantes da oposição e personagens centrais das engrenagens das duas administrações. Dados e declarações ressaltam as convergências entre Campos e Aécio. Termos como "choque de gestão" e "Estado para resultados" são peças-chave para entender o que eles têm a apresentar. A primeira lição para decifrar os presidenciáveis e suas semelhanças, contudo, é de genética. Ambos são fruto das apostas de dois personagens históricos da política brasileira. Aécio é neto de Tancredo Neves, morto dias antes de tomar posse como primeiro presidente civil após a ditadura militar, em 1985. Avô de Campos, Miguel Arraes foi governador de Pernambuco por três mandatos e símbolo da resistência ao golpe.

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Veja vídeos sobre Eduardo Campos e Aécio Neves

De surfista a engravatado

O Natal de 1981 mudou a vida de Aécio. Aos 21 anos, o então universitário havia passado metade da vida em Belo Horizonte, onde nasceu, e outra metade no Rio de Janeiro. "Foi nessa data que Tancredo fez a proposta: 'você não acha que está na hora de largar o surfe e trabalhar na sua terra?'", descreve a jornalista Ana Vasco, autora da biografia Aécio Neves, de Fato e de Direito.

O pedido cifrado, tipicamente mineiro, era para que Aécio atuasse como secretário particular de Tancredo na campanha pelo governo de Minas Gerais, em 1982. O surfista transferiu o curso para a PUCMG e mudou de vida. "Na época não foi dito dessa forma, mas vendo agora concordo que o que o meu avô queria era levar o Aécio para a faculdade da política", diz a irmã do senador, a jornalista Andrea Neves Cunha – que, além do parentesco, foi figura emblemática da gestão tucana em Minas.

Andrea costuma contar outra anedota sobre a escolha. "Dizem que o que aconteceu foi simples: ele viu o peixe [Aécio] e o colocou dentro d'água." Além de Tancredo, o hoje senador tinha mais dois políticos em casa: o pai, Aécio Cunha, e o avô paterno, Tristão da Cunha, que foram deputados federais.

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Além do jeito de fazer política, Tancredo queria ensinar disciplina ao neto. Na primeira reunião com o novo secretariado após vencer a eleição para governador, Aécio apareceu sem gravata. O avô pediu para que ele se retirasse, mas o neto deu um jeito: emprestou a gravata-borboleta de um garçom e voltou à sala, quebrando o gelo.

Aécio também participou da campanha pela eleição indireta do avô a presidente, em 1985. Ele já havia sido nomeado secretário de Assuntos Especiais da Presidência da República quando Tancredo morreu, vítima de infecção generalizada. Encerrada a faculdade com o avô, começou a própria carreira política.

Em 1986, foi o deputado federal mais votado de Minas (236.019 votos). Permaneceu na Câmara por quatro mandatos consecutivos e, nos últimos dois anos no cargo (2001 e 2002), foi presidente da Casa. A experiência abriu espaço para a candidatura a governador, cargo que ocupou entre 2002 e 2010, quando se elegeu para o atual cargo de senador.

Uma novela da vida real

Cem soldados armados foram destacados para a capela da Aeronáutica do Recife, no dia 9 de agosto de 1964. No local, casariam Ana Lúcia Arraes e Maximiano Campos Acioly – e a ideia não era protegê-los. A missão era vigiar o pai da noiva, Miguel Arraes.

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Quatro meses antes, o "alvo" havia sido deposto do governo de Pernambuco em um dos primeiros atos do regime militar. Tornou-se preso político e foi enviado para Fernando de Noronha. Ana apelou ao comando do Exército para que o pai pudesse comparecer à cerimônia.

O matrimônio saiu (com Miguel e sem tiros) e dele nasceram dois filhos, Antonio e Eduardo Campos. "Do nosso avô veio o ensinamento de não se curvar aos poderosos do momento e resistir pelos valores do Brasil", narrou Antonio, após descrever o episódio em cerimônia sobre os 50 anos do golpe militar, realizada no Instituto Miguel Arraes, no dia 27 de março.

Miguel Arraes foi libertado em 1965 e partiu para um exílio de 14 anos na Argélia. Ana e Maximiano ficaram no Brasil. O primeiro encontro de Eduardo com o avô ocorreu em 1976, quando o garoto de 11 anos viajou com a família para Argel.

"Mesmo quando menino, dava para perceber que o Eduardo era diferente. Ele brincava como qualquer um, mas sempre tinha reações de adulto", recorda Joaquim Pinheiro, que é primo do presidenciável e coordenador-administrativo do Instituto.

Eduardo completou o curso de Economia da Universidade Federal de Pernambuco em 1985. Depois, virou chefe de gabinete do avô, em 1987, na segunda gestão Miguel Arraes. Em 1990, elegeu-se deputado estadual e, em 1994, chegou à Câmara dos Deputados.

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Logo licenciou-se do cargo para voltar ao terceiro (e último) governo do avô, como secretário de Fazenda. Em 2002, reelegeu-se com a maior votação no estado (173.657 votos) e em 2004 assumiu o Ministério de Ciência e Tecnologia. Um ano depois, Miguel Arraes morreu de uma infecção respiratória.

O avô não viu o neto assumir o Palácio do Campo das Princesas, em 2006. Cinco décadas depois, Eduardo acaba de renunciar voluntariamente, mas de olho em outro palácio, o do Planalto.