A possibilidade de Eike Batista de colaborar com a Operação Lava Jato pode trazer revelações envolvendo uma série de agentes políticos e áreas na qual ele investiu – da Olimpíada ao BNDES, passando por dívidas de campanha de Dilma Rousseff e sua proximidade com o ex-presidente Lula e o ex-governador do Rio Sérgio Cabral.
O empresário foi preso na manhã desta segunda-feira (30) ao voltar de Nova York em um voo comercial. Ele realizou exame de corpo de delito e foi encaminhado ao presídio Ary Franco, no Rio de Janeiro.
Eike Batista chega ao Brasil e é preso pela Polícia Federal
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Eike Batista foi um grande “mecenas” do projeto para trazer a Olimpíada para o Rio – uma bandeira que uniu o governo do estado (à época comandado por Sérgio Cabral), a prefeitura da cidade (Eduardo Paes) e o governo federal (Lula).
O empresário doou R$ 23 milhões para a vitoriosa campanha brasileira – 16% do valor total da candidatura. Em 2009, emprestou seu jatinho para Sérgio Cabral viajar a Copenhage (Dinamarca), onde foi anunciada a cidade que iria ser sede dos Jogos de 2016.
Há dúvidas, porém, das reais intenções por trás da “benevolência” para trazer a Olimpíada para o Rio. Eike havia adquirido a concessão da Marina da Glória – local usado para as competições de vela. Ali, pretendia construir um complexo de restaurantes, lojas e casa de shows.
A Marina da Glória e o Parque do Flamengo integram um espaço público tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) – o que criou uma grande polêmica em torno da obra de Eike. Ele também comprou o tradicional Hotel da Glória, nas imediações, e recebeu R$ 80 milhões do BNDES para reformá-lo para a Copa do Mundo e para a Olimpíada. Os empreendimentos não foram para a frente e ele os vendeu.
Maracanã
Uma empresa de Eike Batista, a IMX, foi responsável pelo estudo de viabilidade econômica do Complexo Esportivo do Maracanã – usado na Copa de 2014 e na Olimpíada de 2016. Um ano antes da Copa, Eike se associou à Odebrecht para adquirir a concessão do Maracanã. Abriu mão de sua participação no estádio quando seu império começou a ruir.
Hoje, o Maracanã está abandonado. A Odebrecht considera o projeto inviável economicamente. A obra de reforma do Maracanã também é alvo de suspeita de superfaturamento.
Campanha de Dilma
Em depoimento, Eike Batista afirmou que, em novembro de 2012, o ex-ministro da Fazenda Guido Mantega solicitou R$ 5 milhões para pagar dívidas da campanha de 2010 de Dilma Rousseff. Nessa época, Mantega, além de ministro, era presidente do Conselho de Administração da Petrobras – Eike tinha negócios no ramo do petróleo.
O empresário também falou que o dinheiro foi pago ao marqueteiro de Dilma, João Santana – preso pela Lava Jato. Mantega nega ter feito o pedido de dinheiro.
BNDES
As empresas do grupo de Eike Batista receberam, a partir de 2008, US$ 10 bilhões do BNDES – banco de desenvolvimento do governo federal. Em depoimento à CPI do BNDES, em novembro de 2015, ele negou ter dado prejuízo ao banco e disse que não houve interferência política na liberação das verbas, embora tenha admitido ter relação de proximidade com Lula. Mas, no ano passado, em depoimento à Lava Jato, sugeriu que era preciso fazer uma devassa nos negócios do BNDES
Porto de Açu
Em 2013, Eike Batista foi acusado de usar tráfico e influência para tentar “turbinar” seu projeto do Porto de Açu – que ele construía em São João da Barra, no Rio de Janeiro. Levou o ex-presidente Lula para conhecer o empreendimento em seu jatinho. Segundo as suspeitas, Lula teria agido como lobista do empresário para tentar tirar do Espírito Santo o projeto de um estaleiro a ser operado pela empresa Jurong Shipyard, de Cingapura.
A mudança de endereço do empreendimento tornaria o Porto de Açu mais lucrativo. O Itamaraty e os então ministros Guido Mantega (Fazenda) e Fernando Pimentel (Desenvolvimento) também foram acusados de terem atuado em favor de Eike.
Negócios com a família Cabral
Eike Batista foi preso nesta segunda-feira (30) sob a acusação de ter pago US$ 16,5 milhões de propina ao ex-governador Sérgio Cabral. A relação de Eike com a família de Cabral, porém, ia além disso: era de muita proximidade – o que levanta suspeitas sobre contrapartidas ilícitas que ele teria recebido do governo.
O empresário também repassou R$ 1 milhão ao escritório de advocacia da ex-primeira-dama, Adriana Ancelmo (ele alega que o pagamento se referia a um investimento sugerido pela Caixa Econômica). O ex-governador e a mulher dele recebiam ainda vantagens pessoais e políticas bancadas por Eike. Viajaram 13 vezes no jatinho do empresário – a trabalho e de férias.
Eike também financiava do próprio bolso investimentos que davam visibilidade ao governo de Cabral – tais como a despoluição da Lagoa Rodrigo de Freitas (tradicional ponto turístico do Rio) e investimentos em algumas UPPs (unidades e polícia pacificadora – uma das bandeiras do ex-governador).
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