Os depoimentos do empresário Marcelo Odebrecht e de outros dois ex-executivos da construtora Odebrecht no processo de cassação da chapa Dilma-Temer ameaçam tornar ainda mais complicada a situação tanto da ex-presidente quanto do atual ocupante do Palácio do Planalto. O ex-presidente da empreiteira já tem o depoimento marcado: Marcelo será ouvido nesta quarta-feira (1.º), no Tribunal Regional Eleitoral do Paraná (TRE-PR).
Trechos de delações e de depoimentos prévios à assinatura das colaborações premiadas que vazaram à imprensa indicam que Dilma Rousseff (PT) e Michel Temer (PMDB) teriam participado diretamente de negociações para que a Odebrecht financiasse, com verba de caixa 2, a campanha de reeleição de ambos em 2014.
Os dois negam qualquer irregularidade. Mas o ministro Herman Benjamin, relator no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) do processo de cassação da chapa, requisitou os depoimentos porque, nas delações da Odebrecht, surgiram elementos que podem contribuir para a decisão final. Caso a chapa seja cassada, Dilma perderá os direitos políticos e Temer, a Presidência. Além de Marcelo Odebrecht, serão ouvidos os ex-executivos da empreiteira Cláudio Melo Filho e Alexandrino de Salles Ramos.
Confira quais suspeitas envolvendo o financiamento da campanha que os três poderão esclarecer:
O suposto pedido de Temer
Na única delação de executivos da Odebrecht cuja íntegra já se tornou pública, Cláudio Melo Filho contou que, em maio de 2014, Marcelo Odebrecht participou de um jantar com Michel Temer no Palácio do Jaburu no qual o então vice-presidente teria pedido R$ 10 milhões de caixa 2 para seu partido, o PMDB. Marcelo teria concordado com o pagamento. Em troca, a empreiteira esperava uma “contrapartida institucional”, disse Melo Filho.
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Não há informações se Marcelo Odebrecht confirmou a delação do ex-executivo de sua empresa. Tampouco está claro se o suposto caixa 2 teria sido usado por Temer em sua campanha de 2014 – o que poderia complicar a estratégia da defesa do presidente no processo, que é tentar separar suas contas das de Dilma.
Quando a suspeita se tornou pública, Temer repudiou o que classificou de “falsas acusações”. Negou caixa 2 e disse que todas as doações da Odebrecht ao PMDB foram legais e declaradas ao TSE.
A suposta cobrança de Dilma
Em junho de 2016, a revista IstoÉ publicou reportagem informando que, nas negociações para fechar a delação premiada, Marcelo Odebrecht teria contado que Dilma cobrou pessoalmente que a empreiteira pagasse R$ 12 milhões para o marqueteiro de sua campanha, João Santana, e ao PMDB. O repasse seria feito por caixa 2. Marcelo teria ficado reticente em fazer o pagamento, mas acabou concordando.
Na ocasião, Dilma negou ter feito o pedido e chamou as acusações de “mentirosas e infundadas”. O PT e o PMDB também negam ter feito caixa 2. João Santana negocia com a Lava Jato um acordo de colaboração premiada.
A suspeita de compra de tempo de TV
Em dezembro do ano passado, o jornal O Estado de S. Paulo noticiou que, nas delações, a Odebrecht teria admitido ter feito uma doação ilegal de cerca de R$ 30 milhões para a campanha – o equivalente a 10% do total oficialmente arrecadado. No último dia 18, O Estado de S.Paulo noticiou que esse valor teria sido pago a partidos que deram apoio à chapa Dilma-Temer na eleição de 2014, como forma de “comprar” o tempo de TV a que eles tinham direito. As siglas citadas das delações seriam: PRB, Pros, PCdoB, PP e PDT.
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