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Brasil e Estados Unidos esperam acertar sobre questões estratégicas e econômicas quando o presidente norte-americano, Barack Obama, visitar o país neste final de semana.

Abaixo estão algumas das principais questões que serão discutidas, segundo autoridades, com chances de sucesso:

Petróleo

Este tema provavelmente oferece a mais sólida oportunidade de substanciais progressos durante a visita de Obama. O Brasil detém uma das maiores reservas mundiais de petróleo em alto mar, mas pode precisar de ajuda de outros países --possivelmente de empresas norte-americanas de petróleo-- para ajudar a extrair o óleo, que está a 6 quilômetros abaixo da superfície do oceano.

A presidente Dilma Rousseff disse autoridades dos EUA em visita ao país, incluindo o senador republicano John McCain, que as reservas do pré-sal podem ajudar o Brasil a se tornar um importante exportador de energia e gerar recursos para obras de infraestrutura e desenvolvimento econômico.

Contudo, Dilma também afirmou querer encontrar mercados externos para o consumo da maior parte do petróleo. Ela acredita que o Brasil deve continuar dependendo de fontes de energia renovável, como a gerada por hidrelétricas e a partir de etanol, para a maior parte de suas necessidades.

Os Estados Unidos são um consumidor ideal, disse Dilma.

O secretário de Energia dos EUA, Steven Chu, fará parte da delegação de Obama, o que sugere possíveis negociações.

A viagem poderia render acordos preliminares que levariam a um compartilhamento de tecnologias para a exploração no mar ou a uma participação maior de companhias de energia dos Estados Unidos na extração do pré-sal.

Infraestrutura

Obama oferecerá novos financiamentos para ajudar o Brasil a expandir sua infraestrutura nos próximos anos e permitir que mais companhias norte-americanas participem do esperado "boom" no setor de construção civil.

Os empréstimos, de centenas de milhões de dólares anualmente ou mais, ajudariam o Brasil a construir a infraestrutura necessária para sediar a Copa do Mundo de 2014 e a Olimpíada de 2016. Alguns importantes projetos, entre eles estádios, estradas e aeroportos, estão bem atrasados.

A proposta também ajudaria a financiar projetos de infraestrutura em conjunto com outros países, principalmente na África.

Comércio

Essa é a pedra no sapato. Apesar do progresso e a boa vontade em outras áreas, Brasil e Estados Unidos ainda estão se arrastando em questões comerciais, continuando um confronto que caracterizou a maior parte da década passada.

Em poucas palavras, o Brasil quer um acesso maior de seu etanol e de outras commodities e menos subsídios dos EUA nas culturas de algodão e agricultura no geral. Por outro lado, os EUA estão pressionando por mais acesso de seus bens de consumo no Brasil.

Conversas preliminares, incluindo um recente encontro entre a secretária norte-americana de Estado, Hillary Clinton, e o ministro das Relações Exteriores brasileiro, Antonio Patriota, em Washington, convenceram ambos os lados a esperar um progresso insuficiente.

O Brasil diz que não pode oferecer mais acesso a seu mercado consumidor, em parte porque as indústrias estão sofrendo devido ao real valorizado e a uma onda de produtos baratos importados da China.

No entanto, Dilma tem dito aos visitantes que a menor participação de mercado das exportações e importações brasileiras nos últimos anos é algo negativo e deveria ser revertido.

Os dois lados estão dispostos a evitar confrontos. Dessa forma, as conversas provavelmente deverão se concentrar num Acordo Quadro de Comércio e Investimento (Tifa, na sigla em inglês), que as duas partes podem apresentar como um avanço claro. O Tifa oferece um mapa do caminho para conversas mais profundas sobre comércio.

China

A expansão econômica chinesa é uma importante razão para Brasil e Estados Unidos buscarem uma aliança bilateral mais forte, e isso será objeto de discussão nesta semana. Mas autoridades tomarão cuidado para não aborrecer os chineses em seus comunicados, e há ideias diferentes sobre que estratégia assumir.

Preocupado com as políticas cambial e comercial chinesas, o Brasil se juntou pela primeira vez ao coro, liderado pelos EUA, para que a China deixe sua moeda se fortalecer.

Importantes autoridades têm culpado publicamente as baratas importações chinesas por golpearem as indústrias brasileiras. Os ministros do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Fernando Pimentel, e das Relações Exteriores, Antonio Patriota, viajaram à China neste mês em parte para apresentar queixa às autoridades chinesas.

Algumas autoridades brasileiras acreditam que uma cooperação maior com os Estados Unidos é a melhor chance de convencer a China a adotar práticas comerciais mais justas. Mas o Brasil ainda evita pressionar a China, como quer Washington, em fóruns públicos como o G20.

Brasília demonstra cuidado para não se indispor com seu parceiro comercial número um e fonte de investimento estrangeiro e acredita que o movimento poderia ser ineficaz ou contraprodutivo.

Reforma na ONU

O Brasil tem feito "lobby" por mais de uma década por um assento permanente no Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU), argumentando que merece um maior papel nos assuntos globais uma vez que seu forte crescimento pode transformar sua economia na quinta maior do mundo nos próximos anos.

Autoridades recentemente têm tido cuidado para não discutir a questão em público, para não criarem uma percepção de que a visita de Obama será um sucesso ou um fiasco com base em apenas um tópico. Em privado, contudo, as autoridades esperam algum tipo de inflexão e estão tentando convencer seus colegas norte-americanos nos bastidores.

Obama surpreendeu o mundo ao endossar a candidatura da Índia como membro permanente do Conselho de Segurança quando esteve no país no ano passado, e o Brasil espera um gesto similar nesta viagem.

Eles dizem que o Brasil deveria ser um candidato mais forte do apoio norte-americano, porque, diferente da Índia, o país não possui bombas atômicas e compartilha valores comuns com o Ocidente. Autoridades norte-americanas não descartaram alguma novidade, mas estão tratando a questão com cuidado.

Sob o governo do antecessor de Dilma, Luiz Inácio Lula da Silva, o Brasil irritou os Estados Unidos e alguns países da Europa Ocidental ao tentar negociar um acordo com o Irã sobre seu programa nuclear.

Dilma comprometeu-se a assumir uma postura mais rígida com países que violam direitos humanos --incluindo o Irã--, mas o ceticismo sobre se a política externa brasileira é suficientemente pró-Ocidente para justificar o apoio norte-americano à candidatura do país a um assento no Conselho de Segurança permanece alto, principalmente entre os republicanos do Congresso dos EUA.

Commodities

Essa é uma questão extremamente importante para o Brasil. Dilma é veementemente contra uma proposta francesa para limitar a alta nos preços das commodities e quer que os Estados Unidos ajudem a garantir que essa ideia não tenha apoio nos próximos fóruns como o G20.

O Brasil é um dos maiores produtores de commodities, como minério de ferro, soja e carne bovina, e tem se beneficiado bastante nos últimos anos do crescimento da demanda chinesa e de outras economias em desenvolvimento. Autoridades norte-americanas mostram ceticismo com a proposta francesa e parece provável que apoiem o Brasil.

Defesa

Dilma parece estar se inclinando a favor da Boeing em um acordo multibilionário com a Força Aérea Brasileira, e Washington tem esperança de avanços nas discussões, embora nenhuma conversa importante seja esperada.

A decisão surpresa de Dilma em janeiro de reiniciar o processo para o acordo foi um dos mais recentes sinais de uma mudança em favor dos EUA sob seu governo.

Lula deu fortes sinais a favor da proposta da francesa Dassault, enquanto Dilma disse ao secretário de Tesouro dos Estados Unidos, Timothy Geithner, acreditar que o F-18 da Boeing é o melhor jato entre os finalistas e que o acordo poderia modernizar a Força Aérea e melhorar os laços estratégicos e comerciais com Washington.

As dúvidas de Dilma envolvem a falta de boa vontade de Washington de autorizar transferências de tecnologia que o Brasil quer como modo de ajudar a desenvolver sua própria indústria de defesa.

Satélite e espaço

Autoridades dizem que estão trabalhando em um acordo que poderia envolver transferências de tecnologia norte-americana para o programa de satélites brasileiro.

Os detalhes ainda estão sendo negociados, mas o acordo poderia servir de base para que os EUA participem do programa ou auxiliem bases de lançamento operadas pela Força Aérea Brasileira.

O Brasil está ávido para desenvolver um programa espacial e satélite, mas necessita melhorar primeiramente sua tecnologia.

Energia renovável e limpa

O Brasil é pioneiro no uso de biocombustíveis e outras fontes de energia renovável, e Washington entende que pode aprender com a experiência e tecnologia do Brasil. Lisa P. Jackson, chefe da Agência de Proteção Ambiental, faz parte da delegação de Obama que visitará o Brasil.

No governo Lula, as conversas eram caracterizadas por irritação do Brasil com as elevadas tarifas dos EUA que tornam quase impossível a exportação de etanol da cana-de-açúcar aos Estados Unidos.

Contudo, essas pressões têm diminuído um pouco recentemente. O aquecido mercado consumidor brasileiro sugere que há menos etanol para o Brasil exportar.

Como resultado, o foco será em outras áreas para um aumento na cooperação. Um proposta em discussão envolveria como a tecnologia brasileira e os combustíveis poderiam ser utilizados para fornecer biocombustível a jatos e a outros equipamentos do Pentágono.

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