Em manifestação ao STF (Supremo Tribunal Federal), o juiz federal Sergio Moro afirmou que ex-diretores da Odebrecht e o ex-presidente da empreiteira, Marcelo Odebrecht, ainda não apresentaram esclarecimentos à Justiça sobre estratégia que teria sido estabelecida pelo empresário para dificultar as investigações do esquema de corrupção da Petrobras.
Anotações feitas por Marcelo Odebrecht, apreendidas pela Polícia Federal em julho de 2015, sugerem que a empreiteira tentou barrar a Lava Jato, de acordo com investigadores.
“Até o momento não foram prestadas explicações pelos pacientes ou por seus defensores sobre a orientação de Marcelo Odebrecht para, aparentemente, apagar mensagens e memórias de aparelhos celulares de Márcio Faria e Rogério Araújo [ex-diretores], ou seja, destruir provas (‘Higienizar apetrechos MF e RA’)”, disse o juiz.
“Também nada esclareceram sobre a orientação de Marcelo Odebrecht para, aparentemente, que Márcio Faria e Rogério Araújo não movimentassem seus ativos, pois, se sequestrados, seriam reembolsados pela Odebrecht (‘MF/RA: não movimentar nada e reembolsaremos tudo e asseguraremos a família; vamos segurar até o fim’), também nada esclareceram sobre a orientação de Marcelo Odebrecht para, aparentemente, divulgar doações de campanhas, sabe-se lá com qual objetivo obscuro (‘vazar doação de campanha’), e igualmente nada esclareceram sobre o que consistiria o trabalho ‘para parar/anular (dissidentes da PF)’, em aparente cooptação ilícita de policiais federais para atrapalhar as investigações”, completou Moro.
As declarações do juiz foram feitas em parecer defendendo a manutenção da prisão preventiva de Marcelo Odebrecht. Na semana passada, o presidente do STF, Ricardo Lewandowski, negou pedido de liberdade feita pela defesa de Marcelo Odebrecht. O ministro justificou sua decisão com base no parecer da Procuradoria-Geral da República, que sustenta que há risco de, uma vez fora da cadeia, o empresário volte a interferir no processo judicial.
Moro afirmou ao STF que a prisão do empresário tem fundamentos legais. Segundo o juiz, especialmente, por provas documentais de transferências de valores milionários de contas controladas pela Odebrecht no exterior para contas controladas por agentes da Petrobras, além de outras provas.
Moro afirmou que ainda estão presentes fundamentos legais, como “risco à ordem pública, caracterizada pela aparente prática profissional e habitual de crimes de corrupção ativa e de lavagem de dinheiro, envolvendo não só agentes da Petrobras, mas também agentes políticos (conforme investigações em trâmite perante esta Egrégia Suprema Corte), risco à instrução e à investigação, ilustrados pelas orientações do executivo controlador para interferir na colheita de provas, e risco à aplicação da lei penal, ilustrada pela remessa de ativos no curso da instrução por um dos pacientes, e conforme detalhamentos constantes nas duas decisões vigentes nas quais a preventiva foi decretada”.
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