A CPI do Cachoeira recebeu um ofício que pode ser uma confissão por escrito de formação de caixa dois com dinheiro da Delta Construções. Ao cobrar explicações do Comercial de Bebidas Rolim, em Planaltina de Goiás, no entorno de Brasília, sobre um depósito de R$ 30 mil da Alberto & Pantoja Construções - empresa de fachada que servia ao grupo de Cachoeira - a comissão descobriu que "o depósito destinou-se a cobrir despesa de campanha em favor do então senador e candidato à reeleição Demóstenes Torres", segundo resposta encaminhada à comissão pela revendedora de bebidas.
A Alberto & Pantoja é a principal empresa fantasma constituída pelo grupo de Carlinhos Cachoeira, abastecida com R$ 27 milhões da Delta. Não há doações oficiais da revendedora a Demóstenes ou ao comitê financeiro do DEM, em 2010, conforme registro do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). A Alberto & Pantoja fez o depósito de R$ 30 mil em 30 de setembro de 2010, poucos dias antes da eleição, como mostra a quebra do sigilo bancário. Demóstenes foi cassado em 11 de julho deste ano.
Como antecipou o GLOBO, uma representação assinada por 80 promotores e procuradores foi protocolada nesta segunda-feira (27)no Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP), com pedido para que o colegiado investigue Demóstenes e afaste o procurador do cargo enquanto durar a apuração.
Os promotores argumentam na representação que a presença de Demóstenes no MP é constrangedora. Eles citam o fato de o ex-senador ter participado da reunião do Colégio de Procuradores que definiu a comissão que acompanha a sindicância, em 31 de julho, quando até confrontou os colegas. Os promotores também questionam a amizade do ex-senador com Cachoeira.
Licença médica de "cunho pessoal"
O procurador-geral da República, Roberto Gurgel, fará uma análise prévia da representação, antes de sortear um dos 13 conselheiros do CNMP para relatar o caso. No dia 18, Demóstenes entrou em licença médica até o próximo dia 3 de setembro. A assessoria do MP disse que o pedido tem "cunho pessoal". O advogado de Demóstenes, Antônio Carlos de Almeida Castro, disse que o pedido de afastamento é "absurdo" e fruto de "briga política".
A Corregedoria-Geral do MP contesta a representação: "Todas as diligências e providências foram adotadas e são de conhecimento formal do CNMP".
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