Um estudo divulgado nesta quinta-feira pelo escritório da Organização Internacional do Trabalho (OIT) no Brasil mostra que o país avançou muito na última década, mas ainda tem como sonho distante erradicar o trabalho infantil. Segundo a projeção feita pela OIT com base nos dados anuais das Pesquisas Nacionais por Amostra por Domicílio (Pnads), em 2015 ainda existirão 2,7 milhões de crianças trabalhando no Brasil. Seguindo este cálculo e considerando o ritmo atual de queda do índice, o trabalho infantil só estaria erradicado em 2022.
A pesquisa põe uma pá-de-cal na promessa do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao assumir o mandato, em 2003, de erradicar o trabalho infantil ainda em seu governo. O estudo é intitulado "O Brasil sem Trabalho Infantil! Quando? Projeção de estimativas de erradicação do trabalho infantil, com base em dados de 1992 - 2003", que indica a situação do país no combate ao trabalho infantil em 2015, à luz das metas do milênio das Nações Unidas e do Relatório Global sobre o tema que será lançado pela OIT em 2006.
O estudo mostra que quanto mais cedo a criança começar a trabalhar menor será a sua renda na fase adulta. Quem inicia o trabalho depois dos 18 anos tem a possibilidade de ter uma renda 85% maior do que se não tivesse que trabalhar.
"As médias salariais maiores concentram-se nas mãos daqueles que iniciaram seu trabalho numa faixa de idade mais alta. Esse fato deve estar atrelado ao nível diferenciado de escolaridade e de preparo para o trabalho que este grupo de trabalho possui", salienta o estudo.
Segundo o coordenador nacional do Programa Internacional para Eliminação do Trabalho Infantil (IPEC), Pedro Américo Furtado de Oliveira, "está provado que quem entra mais tarde no trabalho ganha muito mais ao chegar aos 60 anos de idade". De acordo com ele, é preciso deixar clara essa relação aos pais.
- Há pais que ainda acreditam que o trabalho infantil vai ajudá-lo. Pode ajudar sim, naquele período, mas não vai fazer com que seus filhos consigam ter vida melhor que a deles no futuro - explicou.
O estudo também mostra que um domícílio com renda até R$ 1,8 mil, um aumento nessa renda não reduz o número de crianças que trabalha na faixa de 10 a 17 anos. No Brasil, 81% dos domicílios têm uma renda nessa faixa. Já no caso dos meninos e meninas entre 5 e 9 anos, para qualquer faixa de renda o aumento do salário ajuda a reduzir a proporção de crianças no trabalho.
"Desta forma, provavelmente os programas de incentivo financeiro para a redução do trabalho infantil surtem maiores efeitos para a eliminação do trabalho infantil na faixa de 5 a 9 anos, sem atingir plenamente seus objetivos na faixa entre 10 a 17 anos", conclui o estudo.