A Operação Lava Lato entrou em 2017 parecendo estar à beira de seu ápice, com a delação gigante da Odebrecht podendo levar centenas de políticos de relevância nacional a responder por crimes ligados à corrupção na Petrobras. No entanto, os primeiros quarenta dias do ano deram a entender que a operação pode estar mais ameaçada do que em qualquer outro momento de seus três anos de existência.
Veja a seguir oito fatos que pareceram maus sinais para a continuidade da Lava Jato e quatro indícios positivos de que a operação, apesar de tudo, deverá continuar atuando com firmeza.
Em 19 de janeiro, a queda de um avião matou o ministro Teori Zavascki, relator de todos os processos da Lava Jato no Supremo Tribunal Federal (STF). Mesmo para quem jamais acreditou nas teorias conspiratórias que viam a possibilidade de sabotagem no avião, a morte do ministro era motivo de mau presságio: Teori vinha se mostrando um ministro independente e firme em suas decisões. Na célebre conversa entre Sérgio Machado e Romero Jucá, dizia-se que com o ministro não havia conversa.
A revelação do nome escolhido por Michel Temer para a vaga aberta no STF causou ainda mais medo sobre o futuro da Lava Jato. Michel Temer indicou seu ministro da Justiça, Alexandre de Moraes, que além de ser filiado ao PSDB tem várias ligações políticas no PMDB de Temer. Moraes se afundou ainda mais ao aceitar participar de um encontro numa embarcação com vários senadores antes de sua sabatina na CCJ.
A própria formação da Comissão de Constituição e Justiça que sabatinará Moraes escandalizou o país. Dos 27 titulares da comissão, cinco são alvos da Lava Jato. Dos 27 suplentes, que têm direito a questionar o indicado, outros cinco estão enroscados na operação.
Edison Lobão: em defesa da anistia do caixa dois.
Não bastasse a escalação da comissão, a escolha de seu presidente também pareceu um mau indício. Edison Lobão, um político da velha guarda peemedebista, é investigado pela operação, que critica abertamente. Disse após sua posse que a operação “criminaliza a vida pública”. Disse ainda que a anistia ao caixa dois é constitucional.
Temer dá posse a Moreira Franco: acobertamento.
O presidente Michel Temer, dando outro sinal de desrespeito às investigações, recriou um ministério com o nítido propósito de dar foro especial a seu amigo Moreira Franco, um dos investigados do primeiro escalão de Brasília. A Secretaria-Geral da Presidência surgiu para reviver o caso de Lula, nomeado para a Casa Civil por Dilma Rousseff, embora o atual governo jure que as situações são diferentes.
Temer e Eliseu Padilha: em busca de novo ministro.
Temer também dá a entender que usará o Ministério da Justiça, vago com a saída de Alexandre de Moraes, para dar ainda mais espaço ao PMDB, seu partido. O ministério tem comando da Polícia Federal, que faz as investigações. E o PMDB está enrolado até o pescoço na Lava Jato – o que inclui o próprio Michel Temer.
Maia e Eunício: citados na delação da Odebrecht.
As eleições internas no Congresso também colocaram dois investigados pela Lava Jato no controle da Câmara e do Senado. Eunício Oliveira, eleito presidente do Senado, aparece na delação da Odebrecht como o “Índio”. Rodrigo Maia, reeleito na Câmara, é o “Botafogo”. E ambos são acusados de receber dinheiro ilicitamente.
Márcio Anselmo: rumo ao Espírito Santo.
Na base da investigação, também houve mudanças discretas na força-tarefa policial encarregada de encontrar as provas contra os acusados. O delegado Márcio Anselmo, por exemplo, que foi o iniciador da operação, saiu da equipe de Curitiba. Foi transferido para o Espírito Santo.
Quatro bons sinais
Edson Fachin: ministro visto como “incorruptível”.
Um dos maiores receios entre os defensores da Lava Jato era que, sem Teori, a relatoria no STF caísse nas mãos de algum ministro que parecesse disposto a enterrar os processos. No entanto, a ida de Edson Fachin para a segunda turma do Supremo permitiu que o ministro assumisse o posto. O próprio Sergio Moro imediatamente soltou nota dizendo que se trata de ministro independente.
Sarney: alvo de inquérito, junto com Renan e Jucá.
Fachin deu seu primeiro grande passo no processo ao permitir que três dos grandes nomes do PMDB se tornem oficialmente alvo de inquéritos no Supremo. José Sarney, Renan Calheiros e Romero Jucá serão investigados por tentativa de obstruir a Lava Jato.
Teori: substituição rápida.
A substituição de Teori em si, feita pelo próprio Supremo sem interferência do governo federal, que poderia ter feito uma indicação rápida de um novo ministro, destinado a assumir o caso, pareceu uma boa notícia. Se Temer tivesse forçado a indicação de um relator poderia ter colocado a reputação de seu governo ainda mais em xeque do que já está.
Sergio Moro: juiz volta a poder julgar Moreira Franco.
Moreira Franco, o amigo que Temer protegeu, também se viu barrado às portas do foro privilegiado. A Justiça determinou que, assim como no caso de Lula, um investigado não pode ser promovido apenas para mudar a sede de seu julgamento. Com isso, o quase-ministro volta a ser julgado por Sergio Moro, em Curitiba.
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