Brasília (Folhapress) O amigo de Luiz Inácio Lula da Silva e presidente do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), Paulo Okamotto, atribuiu ontem ao ex-tesoureiro Delúbio Soares a responsabilidade pelo lançamento, segundo ele equivocado, de uma dívida do presidente com o PT, assim como a orientação para que o débito fosse quitado mediante remessa de dinheiro vivo à tesouraria do partido.
Em depoimento à CPI dos Bingos, Okamotto não informou o valor nem a data dos saques que teria feito para honrar a dívida de Lula.
À reportagem, ele disse não dispor de detalhes nem comprovantes das operações três meses e meio depois de ter assumido publicamente o pagamento do débito.
Os saques teriam sido feitos em agências de dois bancos em Brasília, São Paulo e São Bernardo do Campo, segundo o ex-sindicalista, que atuou como tesoureiro da campanha de Lula ao Planalto em 1989 e até hoje não tinha o sigilo bancário quebrado pela CPI.
A dívida de R$ 29,4 mil de Lula foi registrada na prestação de contas do PT de 2003, e seu pagamento, feito em quatro parcelas pagas entre dezembro de 2003 e março de 2004 em nome do próprio presidente.
O valor corresponde à remuneração mensal que Okamotto declarou à CPI, "pouco mais de R$ 30 mil". Além do salário do presidente do Sebrae (cargo para o qual foi indicado por Lula), o ex-amigo recebe pela participação no conselho da BrasilPrev (fundo de previdência complementar do Banco do Brasil) e o pagamento de aposentadoria como ex-metalúrgico. "Não sou um homem de posses", disse.
Além do suposto uso indevido de dinheiro (público) do fundo partidário para pagar despesas de Lula, parlamentares da oposição investigam se o partido não teria recorrido a recursos do caixa 2 para quitar a dívida.
Empréstimo
Em depoimento à CPI dos Correios em julho, Delúbio Soares afirmou ser prática no PT emprestar dinheiro sem juros a dirigentes e ex-dirigentes partidários algo proibido pela legislação eleitoral. No depoimento, o ex-tesoureiro se recusou a responder se a dívida havia sido paga com dinheiro do caixa 2 operado pelo publicitário Marcos Valério Fernandes de Souza.
Vinte dias depois de a dívida de Lula ter sido objeto de reportagem e permanecer sem explicação por parte do Palácio do Planalto, Okamotto assumiu a responsabilidade pela quitação do débito, na condição de procurador nomeado pelo presidente da República para cuidar da rescisão do contrato com o PT.
A rescisão foi homologada em janeiro de 2003. Na ocasião, o partido depositou na conta de Lula R$ 31,9 mil.
A dívida ficou pendente de acordo. Ontem, Okamotto insistiu em que não comentou a dívida com o presidente, um amigo de "quase" 30 anos. "Eu jamais comentei que os débitos estavam em aberto porque considerava a cobrança indevida."
Segundo declaração levada por escrito por Okamotto à CPI dos Bingos, a maior parte da dívida (R$ 13,6 mil) refere-se à participação de Marisa Letícia, mulher de Lula, na comitiva de viagem à China, em 2001.
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