O valor total dos bens apreendidos na Operação Hurricane ultrapassa R$ 20 milhões. Segundo a Polícia Federal, com os presos acusados de integrarem a máfia dos caça-níqueis, foram encontrados R$ 10 milhões em dinheiro, R$ 5 milhões em cheques, US$ 300 mil, 34 mil euros e 400 libras esterlinas. Os agentes federais se surpreenderam ao encontrar 27 relógios de luxo Rolex em um cofre na casa do contraventor Ailton Guimarães Jorge, o Capitão Guimarães, presidente da Liga Independente das Escolas de Samba do Rio de Janeiro.

CARREGANDO :)

Também foram apreendidos 51 carros, a maioria de luxo. O mais caro possivelmente é um Mercedes CLK 500, com valor estimado de R$ 550 mil. Todos serão levados este domingo para Brasília, onde ficará concentrada a investigação. Para o transporte dos veículos, serão utilizados cinco caminhões-cegonha, que serão acompanhadas de um forte esquema de segurança da PF.

A PF informou que, para depositar o dinheiro apreendido no Rio, foram utilizados quatro carros-forte. Os recursos ficarão em uma conta até o fim do processo criminal. O restante do material apreendido, entre eles documentos e computadores, será levado para Brasília no mesmo jato da FAB (Embraer 145) que transportou os presos. O vôo deve sair por volta das 11h.

Publicidade

Neste momento, três equipes de policiais estão ouvindo o depoimento dos 25 presos. Muitos advogados, porém, instruíram seus clientes a deporem apenas em juízo. Não foi descartada a possibilidade de uma acareação.

Esta é a maior operação no combate à corrupção no Judiciário, realizada no Rio de Janeiro, em São Paulo, na Bahia e em Brasília. A operação é um dos passos da PF para desarticular uma organização criminosa que estaria infiltrada no Judiciário e no Executivo . Os detidos são acusados de corrupção, exploração de jogos ilegais e tráfico de influência ( veja fotos da operação ).

Todos os 25 detidos estão distribuídos por sete celas da PF. Por volta das 10h, eles tomaram um café da manhã. Do lado de fora, os advogados dos presos reclamaram que foram impedidos de ter contato com os clientes e da falta de informações sobre as investigações.

- Não estou a par de nada. Os advogados desse caso estão igual a marido enganado. Somos os últimos a saber de tudo - disse Flávio di Pilla, advogado e amigo do desembargador José Ricardo Siqueira Regueira.

Os 23 presos no Rio foram transferidos para Superintendência da Polícia Federal em Brasília durante a madrugada deste sábado.

Publicidade

O presidente nacional da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), César Britto, chegou a dizer, por meio de nota, que reclamaria ao ministro da Justiça, Tarso Genro . Segundo ele, o impedimento de acesso dos advogados a seus clientes pode fazer com que o processo da investigação seja anulado. Entretanto, o delegado regional-executivo da PF, Ângelo Gioia, explicou que os presos estavam sendo revistados mais cedo e o contato foi impedido por questões de segurança.

No início da tarde, alguns dos presos já estavam recebendo visitas. O presidente da Beija-Flor, Farid Abrahão David, visitou seu irmão, o contraventor Aniz Abrahão David, o Anísio . O advogado Ubiratan Guedes, que defende Anísio, disse que após o depoimento vai avaliar se pede ou não o relaxamento da prisão. Ele disse que Anísio está deprimido e não sabe exatamente os crimes dos quais é acusado.

- Ele está mal, péssimo. Está abismado com as imputações - disse.

A prisão temporária dos suspeitos de envolvimento na rede de corrupção foi decretada e eles podem permanecer na prisão por cinco dias, podendo esse prazo ser prorrogado por mais cinco dias. Entretanto, advogados de alguns já entraram com pedido de relaxamento da prisão.

Entre os presos estão desembargadores, funcionários da Polícia Federal e o ex-vice-presidente do 2º Tribunal Regional Federal (TRF) desembargador José Eduardo Carreira Alvim, afastado na quinta-feira, além dos contraventores Aílton Guimarães Jorge, o Capitão Guimarães, presidente da Liga das Escolas de Samba; Anísio e Antônio Petrus Kalil, o Turcão. Os bicheiros estavam no grupo de 14 contraventores condenados por formação de quadrilha pela juíza Denise Frossard, em 1993.

Publicidade

Além do desembargador José Eduardo Alvim; foram presos o desembargador Ricardo Regueira, também do TRF do Rio; o juiz Ernesto da Luz Pinto Dória, do Tribunal Regional do Trabalho de Campinas (SP); e o procurador Regional da República João Sérgio Leal Pereira. Também foram presos o advogado Virgílio de Oliveira Medina, irmão do ministro do Superior Tribunal de Justiça (STJ) Paulo Medina. Além deles, foram detidos os delegados federais Carlos Pereira da Silva, chefe da PF em Niterói, Luiz Paulo Dias de Mattos e Susie Pinheiro de Matos, bem como outras 14 pessoas, algumas ligadas a casas de bingo e bancas do bicho no Rio.

Liminar em favor de bingos por R$1 milhão

Gravações revelaram irmão do ministro Paulo Medina negociando sentença com advogado de importadoras de caça-níqueis. Os advogados Virgílio de Oliveira Medina e Sérgio Luzio Marques de Araújo, o Sérgio Maluquinho, são personagens de uma das mais importantes conversas gravadas no grampo da Operação Hurricane. Nela, Virgílio negocia com Sérgio, advogado de empresas importadoras de máquinas de caça-níqueis, uma decisão judicial por R$1 milhão . A decisão atenderia aos interesses de donos de bingos. Como informa o blog " Repórter de Crime ", o nome de Virgílio foi retirado na sexta-feira mesmo da página na internet do escritório onde ele trabalhava no Rio.

As ordens de prisão foram expedidas pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Cezar Peluso, a pedido do procurador-geral da República, Antonio Fernando de Souza. As investigações sobre a organização começaram há pouco mais de um ano, a partir de dados recolhidos nas operações Gladiador e Cerol, destinadas a apurar corrupção de servidores públicos por bicheiros e donos de bingos no Rio. A Operação Gladiador foi desencadeada em dezembro para desarticular uma quadrilha formada por policiais civis e militares, que garantia proteção aos bicheiros Rogério Costa de Andrade e Silva e Fernando de Miranda Iggnácio. Na Operação Cerol, foram presos em julho passado seis delegados federais e outras 11 pessoas, sob acusação de fraudes no recolhimento de impostos, contrabando e tráfico de influência.

STF assumiu o controle das investigações

Publicidade

No início, a investigação da Operação Hurricane estava centrada em um pequeno grupo de bicheiros no Rio. Numa segunda etapa, os policiais descobriram indícios de envolvimento de desembargadores e de Virgílio Medina, irmão de Paulo Medina, ministro do STJ. A partir daí, o STF assumiu o controle das investigações. Pela Constituição, cabem ao STF os casos relacionados a ministros de tribunais superiores.