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Internacional

Oposição acusa Lula de misturar interesses do país com empresariais

Reportagem do jornal Folha de S.Paulo revelou que quase a metade das viagens do ex-presidente para o exterior foi bancada por empreiteiras

Lula na África: países do continente são foco de interesse de empreiteiras que financiaram viagens do ex-presidente | Ricardo Stuckert/Presidência
Lula na África: países do continente são foco de interesse de empreiteiras que financiaram viagens do ex-presidente (Foto: Ricardo Stuckert/Presidência)

A oposição acusou o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva de misturar interesses "nacionais com empresariais" ao viajar para o exterior bancado por empreiteiras que têm interesses nos locais de suas viagens. Reportagem de ontem do jornal Folha de S.Paulo mostrou que quase metade das viagens internacionais feitas pelo ex-presidente Lula após deixar o governo foi bancada por essas empresas. De acordo com documentos obtidos pela publicação, o foco são países da América Latina e da África, regiões que foram prioridades da política externa do petista em seus dois mandatos.

Apesar de congressistas da oposição admitirem que o pagamento das viagens não é ilegal, eles dizem que Lula deveria agir "às claras" em relação aos seus patrocinadores. "Se ele quer fazer lobby, que faça às claras, que receba honorários para isso. Feito por baixo dos panos é indecoroso. O problema é confundir o interesse de uma empresa com os interesses do país", disse o líder do PSDB no Senado, Aloysio Nunes Ferreira (SP).

Na noite de ontem, o presidente do PSDB, deputado Sérgio Gerra (PE), divulgou nota pedindo explicações sobre o comportamento do ex-presidente. "Para que não pairem dúvidas sobre o tipo de interesses que estariam levando empreiteiras a custear essas viagens internacionais, o ex-presidente Lula deve vir a público esclarecer os motivos que o levaram a aceitar essa oferta tão generosa", afirmou o tucano, em nota. "O Brasil aguarda que o ex-presidente Lula revele qual a remuneração que recebeu para fazer lobby em favor de empreiteiras brasileiras, conforme atestam documentos oficiais emitidos pelo Itamaraty", completou.

Líder do PPS na Câmara, o deputado Rubens Bueno (PR) disse que Lula manteve "relações incestuosas" com as empreiteiras no governo e que trabalha agora para beneficiar o PT, defendendo os interesses de financiadores de campanha. "O Lula está agindo nessas viagens não como defensor dos interesses da nação, mas como mercador do PT e de seus financiadores de campanha", disse o deputado.

"Interesses da nação"

A assessoria do ex-presidente diz que Lula trabalha para promover "interesses da nação" e não das empresas que bancam suas atividades. Mas políticos e empresários familiarizados com as andanças de Lula afirmam que o ex-presidente ajudou a alavancar interesses de gigantes como Camargo Corrêa, OAS e Odebrecht.

Um telegrama diplomático de novembro do ano passado, enviado ao Itamaraty pela embaixada do Brasil em Moçambique após uma visita de Lula, diz que ele ajudou empresas brasileiras a vencer resistências locais ao "associar seu prestígio" a elas.

Desde 2011, Lula visitou 30 países, dos quais 20 ficam na África e América Latina. As empreiteiras pagaram 13 dessas viagens. Na última terça-feira, Lula iniciou novo giro africano, começando pela Nigéria, e patrocinado por Odebrecht, OAS e Camargo Corrêa.

AnáliseConstrutoras e classe política mantêm relação de proximidade

Guilherme Voitch

Empreiteiras e a classe política brasileira mantêm um relacionamento próximo e intenso, fruto do sistema de financiamento de campanha praticado no Brasil. O custeio das viagens do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva por construtoras é um reflexo dessa proximidade, dizem especialistas.

Ricardo Oliveira, professor da Universidade Federal do Paraná (UFPR) e cientista político, diz que todos os partidos competitivos brasileiros gravitam sob a área de influência das empreiteiras. "Além desse caso do ex-presidente Lula, tivemos um exemplo que para mim é ainda mais significativo, que é o do deputado André Vargas (PT-PR) homenagear o empreiteiro Cecílio do Rego Almeida [fundador da C.R Almeida] com um nome de estrada", diz Oliveira.

Ele lembra ainda da ex-senadora Marina Silva, que, ao definir as regras de funcionamento do seu novo partido, afirmou que não aceitaria doações de empresas da indústria da bebida e do cigarro, mas não negou eventuais doações de construtoras.

Doutor em Ciências Sociais pela Unicamp e professor da UFPR, Fabrício Tomio tem visão semelhante. "Como ele [Lula] não ocupa cargo público, não temos uma ilegalidade, mas é óbvio que há interesse das construtoras. Elas têm interesse na figura do presidente", diz Tomio, que cita o exemplo do ex-primeiro-ministro britânico Tony Blair. "Ele foi adotado quase como um RP de diversas empresas".

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