Pressionado pela oposição e diante da denúncia de que teria participado de uma reunião para tratar da defesa do então ministro da Fazenda Antonio Palocci, o ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, decidiu antecipar sua ida ao Congresso Nacional.

CARREGANDO :)

Ele terá que explicar sua atuação e o envolvimento de seus assessores no episódio da quebra do sigilo bancário do caseiro Francenildo Costa. Bastos envia nesta segunda-feira uma petição ao presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), dizendo que está disposto a falar "o quanto antes".

No fim de semana, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva determinou ao ministro da Justiça que esclarecesse o episódio o mais rápido possível. Lula disse a assessores que a oposição vai usar Márcio Thomaz Bastos para tentar desgastar o governo. Ele demonstrou irritação com a tentativa de tucanos e pefelistas de explorar o episódio.

Publicidade

Para o presidente, a oposição vai apelar de todas as formas para atingir o governo e, por isso, o ministro da Justiça tinha que neutralizar o discurso dos adversários.

- Na verdade, o que a oposição quer é atingir Lula. Estão me usando para isso. Essa é uma estratégia para desgastar o governo - desabafou Márcio Thomaz Bastos para um amigo neste fim de semana.

Bastos sustenta que tomou a decisão de ir ao Congresso ainda esta semana por causa das críticas da oposição, que o acusava de querer tentar postergar sua inquirição. Mas a cobrança por explicações ganhou força com a revelação de que o ministro participara de uma reunião com Palocci que tratou da quebra do sigilo bancário do caseiro Francenildo Costa.

Até mesmo integrantes da cúpula da Polícia Federal defenderam neste domingo uma explicação rápida do ministro. A PF foi surpreendida com a divulgação da informação de que Bastos esteve no dia 23 de março na casa de Palocci para uma reunião com ele, o então presidente da Caixa, Jorge Mattoso, e o advogado Arnaldo Malheiros. O encontro ocorreu quatro dias depois de Bastos ter pedido à PF para abrir inquérito e investigar o vazamento do extrato do caseiro.

Em nota divulgada no sábado, a assessoria de Bastos confirmou que ele se encontrou com Palocci, Mattoso e o advogado Malheiros, indicado pelo próprio ministro da Justiça ao colega da Fazenda. Na nota, a assessoria nega negociação de uma estratégia de defesa e informa que Malheiros teria feito apenas uma exposição sobre aspectos jurídicos do caso.

Publicidade

"O ministro Márcio Thomaz Bastos não participou ou tomou conhecimento de encontro para articular suposta estratégia de defesa ou de cobertura para possíveis responsáveis pelo crime de quebra de sigilo do senhor Francenildo da Costa - ilegalidade que está sendo investigada pela Polícia Federal", diz a nota.

Oposição espera bons argumentos do ministro

Apesar de haver requerimentos para ouvir Bastos na Câmara e na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Casa, tudo indica que o ministro deve falar no plenário do Senado. Ele já teria acertado detalhes do depoimento com o senador Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA), um ex-cliente seu, que na semana passada vetou a convocação de Bastos pela CPI dos Bingos.

O líder do PFL no Senado, José Agripino Maia (RN), disse que o momento da crise impõe que Bastos vá o quanto antes dar suas explicações aos deputados e senadores.

- O ministro da Justiça é quem comanda a Polícia Federal, responsável pela investigação. Ele coloca o governo em xeque e precisará ir ao Congresso o quanto antes. E que vá com bons argumentos para desmanchar a cadeia de evidências, que é muito forte - disse o senador.

Publicidade

Para o líder do PSDB na Câmara, deputado Jutahy Junior (BA), o ministro da Justiça agiu como suspeito ao se antecipar à convocação.

- Como criminalista, o ministro sabe o que um suspeito tem que fazer. Ele é suspeito porque a quebra de sigilo foi uma operação de governo. Para salvar Palocci, todos se envolveram. A ação de Márcio no episódio não foi a de um ministro, mas a de um partidário, para sustentar o ministro da Fazenda - observou.

O presidente do PT, deputado Ricardo Berzoini (SP), defendeu Bastos e disse ter certeza que jamais o ministro participaria de uma conversa que fosse incompatível com sua função:

- Tenho absoluta e total confiança na postura do ministro. E a presença dele no Congresso, seja nesta semana ou depois, terá a função de explicar e tornar públicos os fatos ocorridos.

Para o presidente da CCJ e vice-líder do governo, deputado Sigmaringa Seixas (PT-DF), Bastos acertou ao antecipar-se à convocação do Congresso para esclarecer o episódio.

Publicidade

- Ele acerta ao tomar a iniciativa. Até porque não tem nenhuma responsabilidade no episódio. Se ele tivesse sido comunicado sobre a quebra de sigilo, certamente teria evitado isso. Também não vejo problema algum no fato do Márcio ter se encontrado com Palocci e o advogado. Afinal, eles eram amigos - observou Sigmaringa.