Os partidos de oposição na Câmara querem evitar que o ministro do Trabalho, Carlos Lupi, transforme seu depoimento nesta quinta-feira na Comissão de Fiscalização Financeira e Controle em um "grande oba-oba", em um palanque para falar apenas o que quer, sem entrar nos detalhes das denúncias de irregularidades que pesam sobre sua pasta. Este roteiro que a oposição quer evitar que se repita já foi cumprido por pelo menos quatro outros ministros que perderam os cargos após denúncias contra seus ministérios - Alfredo Nascimento (Transportes), Pedro Novaes (Turismo), Wagner Rossi (Agricultura) e Orlando Silva (Esportes).
A ida de Lupi à comissão foi acertada por deputados pedetistas, que se anteciparam na quarta-feira, antes da votação de um requerimento de convocação, e disseram que o ministro estava disposto a falar, que não seria preciso votar os pedidos da oposição. Mas os opositores pediam também, nos requerimentos, a convocação de outros envolvidos nas denúncias de cobrança de propina e dos responsáveis pelo descontrole e falta de fiscalização nos convênios do ministério com ONGs.
Deputados do DEM criticaram a ida de Lupi à Câmara antes que sejam ouvidos os ex-assessores do ministério, que teriam supostamente praticados as irregularidades. Para eles, será mais uma oportunidade de a base aliada transformar a audiência em palanque para dar apoio ao ministro que está sob fogo cruzado.
"Não vejo resultado prático da vinda de Lupi sem que a gente ouça antes os (assessores) acusados de cobrar propina", afirmou o deputado Ronaldo Caiado (DEM-GO).
Os tucanos também pretendem tornar o depoimento de Lupi mais proveitoso, cobrando explicações em relação a todas as denúncias, que vão desde a venda de registro a centrais sindicais até a concessão fraudulenta de bolsa a pescadores, além das mais recentes.
"Se o ministro repetir a receita Orlando Silva, vir aqui e falar só o que quer, sem explicar uma única linha sobre as gravíssimas suspeitas que recaem sobre ele, não dura 48 horas no cargo. Se o intuito é fazer proselitismo e oba oba, como as declarações de que é à prova de bala, vai se desmoralizar e apequenar a autoridade da presidente Dilma", avisou o líder do PSDB, Duarte Nogueira (SP).
Lupi dará o depoimento numa comissão presidida pelo tucano Nilson Leitão (MT), primeiro vice-presidente do colegiado. Isso porque o presidente Sérgio Brito (BA) deixou o PSC e foi para PSD. Como a comissão, pela proporcionalidade foi destinada ao PSC, Brito perde o direito a presidir. Em seu lugar deve ser eleito o deputado Felipe Pereira (PSC-RJ), mas a eleição deve ser feita só na próxima semana.
Líder garante que não há estratégias para blindar ministro
O líder da bancada do PDT, deputado Giovanni Queiroz (PA), garante que não há qualquer estratégia montada para o depoimento e, destaca que nem estará presente na sessão, porque já tinha agendado um compromisso em Belém anteriormente. O presidente em exercício do PDT, André Figueiredo (CE), também estará ausente. O presidente de fato do PDT é o próprio Lupi, mas ele está licenciado do cargo, por orientação da Comissão de Ética Pública da Presidência da República, enquanto exercer a função de ministro.
"Na reunião com a bancada, Lupi disse que aceitaria prontamente os convites que recebesse para falar na Câmara e no Senado. Estive com o ministro e avisei que não poderei estar na sessão. O deputado André Figueiredo também tem um compromisso no Ceará. Ele disse para não nos preocuparmos, porque está tranquilo e irá responder a todas as perguntas", disse Giovanni, acrescentando: o ministro Lupi não precisa de uma couraça de proteção, de um colete político que o defenda. Está tranquilo, está aberto às perguntas e disposto a responder tudo. Mas teremos deputados nossos na sessão.
Assessores de André Figueiredo informaram que ,apesar de ele ter um compromisso no Ceará, estará presente no início da sessão em que Lupi será ouvido.
Embora não tenha havido uma defesa pública de Lupi por parte dos petistas, o líder do PT na Câmara, Paulo Teixeira (SP), confirmou presença na audiência, assim como os petistas da comissão: "vamos participar e prestar nossa solidariedade, até porque, até agora não há qualquer acusação contra o ministro", disse Paulo Teixeira.
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