Mensalão
Ministros do STF dizem que não vão aceitar pressão por adiamento
Ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) reagiram à denúncia de que haveria um lobby para adiar o julgamento do mensalão. E disseram que o STF não se submeterá a pressões, seja de quem for, para alterar o rumo do julgamento do mensalão, que ainda depende do relatório do ministro revisor Ricardo Lewandowski para ter a data marcada.
O presidente do STF, Ayres Brito, disse que o julgamento do mensalão não pode ser postergado. "A sociedade quer o julgamento, quer que o Supremo julgue. Não estou precipitando nada, ou pré-julgando ninguém.". Sobre o suposto lobby de Lula, Britto afirmou: "Prefiro acreditar que o Gilmar [Mendes] fez uma interpretação equivocada disso".
O ministro Lewandowski, que segundo a revista Veja também teria sido procurado por Lula para um encontro, negou qualquer interferência do ex-presidente. E disse que espera liberar o processo do mensalão o mais rápido possível.
O ministro Marco Aurélio Mello afirmou que nada mudará o andamento do processo. "O presidente Lula tem uma forma toda própria de tocar sua atuação e respeitamos essa forma, mas ela não pode evidentemente ter influência no campo do julgamento", disse Mello. "Lula fez os pedidos como cidadão comum, ele não é advogado. Quem o ouviu deve partir dessa premissa de que quem está falando é o cidadão comum e deve dar o desconto cabível."
Integrantes da oposição na Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do Cachoeira anunciaram ontem que vão pedir explicações a Lula e ao ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Gilmar Mendes sobre o encontro em que o ex-presidente teria feito lobby para adiar o julgamento do mensalão. Lula teria oferecido a Mendes uma suposta proteção da base aliada na investigação que está sendo feita pela CPMI.
Reportagem da revista Veja informa que Lula, em encontro com Mendes realizado em abril, propôs blindar qualquer investigação envolvendo o ministro do STF na CPMI que investiga as relações do bicheiro Carlinhos Cachoeira com políticos e empresários. Em troca da blindagem, Mendes teria de trabalhar pelo adiamento do julgamento do mensalão, que deve ocorrer ainda neste ano.
A proposta de Lula a Mendes, segundo a revista, foi feita no escritório do ex-ministro do STF Nelson Jobim, em Brasília. Veja informa ainda que Lula teria insinuado que Mendes poderia ser citado na CPMI porque fez uma viagem a Berlim (Alemanha) na qual teria se encontrado com o senador Demóstenes Torres (sem partido-GO). Demóstenes tem forte relação com Cachoeira e é um dos alvos da CPMI. Mendes teria reagido indignado à proposta de proteção: "Vou a Berlim como você vai a São Bernardo (do Campo). Minha filha mora lá", disse ele Lula. E completou: "Vá fundo na CPI".
Mendes não deu detalhes do encontro, mas confirmou a proposta de Lula. A assessoria de Lula negou o conteúdo da conversa e afirmou que ele nunca interferiu em processo judicial. Jobim confirmou o encontro, mas negou que o mensalão tenha sido discutido na conversa.
O caso, porém, inflamou o ambiente na CPMI. O senador Alvaro Dias (PSDB-PR) afirmou que estuda interpelar judicialmente Lula. "O que foi noticiado é uma afronta tanto ao Parlamento como ao STF". O deputado Fernando Francischini (PSDB-PR) defendeu a convocação de Lula para que ele conte sobre "quais parlamentares da CPI ele diz ter influência".
O senador Randolfe Rodrigues (PSol-AP) disse que ele e Pedro Taques (PDT-MT) vão pedir esclarecimentos a Mendes. O deputado federal Miro Teixeira (PDT-RJ) afirmou que o episódio "é gravíssimo".
Porém, como a oposição não tem maioria na comissão, um requerimento de convocação de Lula dificilmente seria aprovado. E a base aliada já começou a trabalhar para proteger Lula. O senador Wellington Dias (PT-PI), suplente da CPMI, defendeu o ex-presidente. "É impensável ele fazer uma proposta dessa natureza." O deputado Paulo Teixeira (PT-SP), também da comissão, disse que não cabe à CPMI apurar o caso.
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