Brasília - A oposição quer que a ex-secretária da Receita Federal Lina Maria Vieira explique no Congresso o pedido que a ministra Dilma Rousseff (Casa Civil) lhe teria feito, no fim do ano passado, para "agilizar a fiscalização do filho do Sarney". Em entrevista ao jornal "Folha de S. Paulo", Lina disse que entendeu o pedido da ministra como um recado "para encerrar" as investigações.
Parlamentares ouvidos pela reportagem classificaram como "gravíssima" a afirmação da ex-chefe do fisco, demitida no mês passado, e não descartaram a possibilidade de convocar Dilma para esclarecer as acusações. O pedido da ministra teria sido feito em reunião no Planalto, depois de o juiz Ney Bello Filho, da 1ª Vara federal do Maranhão, ter autorizado uma ampliação das investigações da Operação Boi Barrica.
O juiz autorizou o aprofundamento das investigações em setembro de 2008. No final do ano, Sarney decidiu sair candidato ao comando do Legislativo, sendo eleito em fevereiro. Estavam sob auditoria da Receita as empresas da família Sarney, que são geridas por Fernando Sarney, filho do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP). A assessoria de Dilma negou que a reunião com Lina tivesse ocorrido e disse que a ministra jamais teria feito tal pedido.
Depoimento
O senador José Agripino (DEM-RN), líder do Democratas, defendeu mais uma vez a convocação da ex-secretária para depor na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que investigará contratos de patrocínio da Petrobras, supostas irregularidades da estatal na construção e reforma de plataformas, além da mudança contábil feita pela empresa que teria, com isso, deixado de recolher, R$ 1,14 bilhão aos cofres públicos.
"É um fato gravíssimo porque é uma insinuação para que não se investigasse", disse o senador. "Essa reportagem reforça a necessidade da Lina ir à CPI da Petrobrás para esclarecer entre outros assuntos esse", acrescentou.
Na semana passada, o relator da CPI, senador Romero Jucá (PMDB-RR), rejeitou o requerimento que pedia a convocação de Lina. Senadores da oposição defendem a ida da ex-secretária à comissão para que ela explique a investigação que o órgão começou a fazer na Petrobras após o anúncio de que a empresa havia feito a operação de compensação tributária. A Receita chegou a se manifestar formalmente contra operação da estatal essa foi uma das justificativas para a demissão de Lina no dia 15 de julho passado.
O senador Alvaro Dias (PSDB-PR), autor do requerimento arquivado por Jucá, disse que a oposição vai insistir na convocação de Lina. "Ela tem muita coisa a dizer", avaliou. Se a oposição não conseguir , a ex-secretária poderá comparecer a uma audiência pública dentro de uma das comissões permanentes da Casa.
Em defesa de Dilma, o ministro José Múcio (Relações Institucionais) disse que esse assunto não pode politizar a CPI da Petrobras. "É preciso que as coisas sejam despartidarizadas. Conhecendo a ministra Dilma como conheço, não acredito que ela tenha feito tal pedido." Para ele, "está aberta a temporada de ressentimentos e denuncismo".
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