Após uma reunião entre os partidos da oposição, o líder do PSDB, Arthur Virgílio (CE), subiu à tribuna para acalmar os ânimos e fazer um recuo em relação à decisão de interromper os trabalhos e se recusar a trabalhar com Renan Calheiros (PMDB-AL) na presidência. Os oposicionistas decidiram dar até terça-feira, dia marcado por Renan para a reunião da Mesa Diretora, para que os membros da direção do Senado decidam pelo pedido para que a Polícia Federal (PF) conclua a perícia nos documentos de Renan. Se a Mesa tomar qualquer decisão diferente dessa, a oposição promete tomar providência drásticas.

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- Peço que os companheiros do PSDB tomem a atitude de se retirar da Casa. Ele (Renan) está isolado ao PT e metade do PMDB - disse o presidente tucano, Tasso Jereissati (CE) na tarde desta quinta-feira.

O senador Demóstenes Torres (DEM-GO) tentou anular a decisão de Renan, argumentando que ele é pessoa envolvida no assunto. Mas o vice-presidente do Senado, Tião Vianna (PT-AC), negou o pedido.

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- Como alguém que está sendo investigado comanda seu próprio processo de investigação? - perguntou Demóstenes.

A expectativa era de que a reunião da Mesa Diretora - que vai decidir se pede ou não à Polícia Federal nova perícia nos documentos do senador - fosse nesta quinta-feira. De acordo com o regimento, só Renan pode convocar uma reunião da Mesa do Senado. O adiamento cria o risco de a solicitação à PF só ser feita depois do recesso, que começa no dia seguinte à reunião, dia 18, e vai até 31 de julho.

O presidente do Senado é acusado de ter despesas pessoais pagas por um lobista e de ter apresentado notas fiscais frias para comprovar seus rendimentos. Ele negou que o adiamento da reunião fosse uma manobra protelatória:

- Ninguém tem interesse em acabar com isso mais rápido do que eu. Mas mandaram para a Mesa três documentos e o terceiro chegou só às 16h32m - disse Renan, argumentando que marcou o encontro da Mesa para o próximo dia em que haverá sessão no Senado.

Irritado, Renan mandou um recado direto a Jereissatti e ao líder do DEM, José Agripino Maia (RN):

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- Quem tem 28 votos não marca reunião da Mesa. Quem marca da reunião da Mesa é quem ganhou a eleição - disse Renan, em referência ao número de votos que Agripino teve na eleição para presidente do Senado, quando foi derrotado por Renan.

Relator aliado ameaça apresentar voto em separado

O senador Almeida Lima (PMDB-SE), integrante da comissão de senadores que analisa o processo contra Renan, avisou, também nesta quinta-feira, que, se não concordar com o andamento das investigações do caso pode apresentar um voto em separado. Aliado de Renan, Almeida Lima tem tido várias discordâncias com outros dois relatores, Renato Casagrande (PSB-ES) e Marisa Serrano (PSDB-MS).

Em resposta, Casagrande e Serrano disseram que as posições contrárias do peemedebista não enfraquecem as investigações e que vão trabalhar "até o último minuto" para apresentar um relatório único.

- Eu espero fazer um relatório único. Se não for possível, vamos ver o que faremos - disse a relatora.

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O Conselho de Ética fechou uma lista com 30 questionamentos para atestar a veracidade da defesa do senador. A decisão contou com o apoio de Casagrande e Marisa Serrano, mas teve voto contrário de Almeida Lima. O peemedebista argumentou que a apuração da PF depende de aprovação do Supremo Tribunal Federal (STF). Trata-se do mesmo argumento utilizado pelos advogados de Renan. Já Casagrande e Serrano argumentaram que o pedido não precisa passar pelo Supremo por ser um documento administrativo. Há o temor de que as reivindicações do aliado de Renan ganhem corpo e que a Mesa acabe por restringir a investigação da PF.

A comissão de relatores não aprovou o pedido de quebra dos sigilos fiscal e bancários do senador, como queria o PSOL, autor da representação contra Renan no Conselho de Ética. O colegiado só voltará a discutir o caso Renan com reunião geral da comissão em agosto, após o recesso parlamentar.

Após sofrer pressão do Planalto, que temia a reação da oposição, Renan não presidiu na quarta-feira a sessão que aprovou a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO ). Se Renan insistisse em presidir a votação, seria alvo de protestos da oposição e o Orçamento ficaria ameaçado de não ser votado, prejudicando o início do recesso parlamentar, previsto para a próxima quarta. Haveria ainda o recrudescimento da crise política.

O vice-presidente da Câmara, Nárcio Rodrigues (PSDB-MG), presidia a sessão que aprovou a LDO . A ausência na votação foi o primeiro indício mais concreto desde o início das denúncias de que Renan está perdendo as condições mínimas de continuar presidindo o Senado. Pelo acordo firmado, a oposição aceitou evitar os protestos que já tinha preparado, para não tripudiar de Renan.

Renan critica enquete sobre imagem do Senado

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Renan recebeu mal a enquete do jornal "O Globo" que mostrou que grande parte dos senadores acredita que a crise envolvendo o peemedebista prejudica a imagem do Senado. Dos 59 parlamentares ouvidos, 37 concordaram com a repercussão negativa do escândalo sobre instituição. Apenas 13 não viram problemas, enquanto quatro disseram não ter posição e cinco votaram em branco.

- São 37 votos, 38 com você - insistiu Renan, ao ser questionado por um jornalista.

A maior parte dos senadores também avalia que é motivo para cassação do mandato a comprovação de irregularidades fiscais na contabilidade de seus empreendimentos agropecuários, apresentada pela defesa de Renan como prova de que tem recursos próprios e que não teve contas pessoais pagas por empreiteira. Essa foi a posição adotada por 33 senadores, contra 15 que responderam não, indicando que os senadores avaliam que problemas fiscais podem constituir quebra de decoro a ser punida com cassação.