Após dez meses de batalhas permanentes com o PT e o governo, o destino do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), poderá ficar nas mãos de dois deputados petistas. A reportagem ouviu segunda (9) e terça-feira (10) 16 dos 21 integrantes do Conselho de Ética e oito deles disseram que as declarações de Cunha à imprensa no fim de semana reforçam a necessidade levar adiante as investigação por quebra de decoro: quatro deputados da oposição (PSDB, DEM e PPS), um do PSB, um do PDT e um do PT, além do presidente do Conselho, José Carlos Araújo (PSD-BA), que só votará em caso de empate.
Caso o relator da representação, Fausto Pinato (PRB-SP), confirme a sinalização de que dará seguimento ao processo contra Cunha, faltariam dois votos para obter a maioria. Além de Zé Geraldo (PT-PA), que disse que votará pela abertura, o PT tem mais dois integrantes no Conselho: Valmir Prascidelli (SP) e Leo de Brito (AC).
A reportagem ouviu Prascidelli, que disse que irá aguardar o relatório de Pinato para se pronunciar, mas sinalizou que, com base no que veio à tona até agora, há indícios suficientes para dar andamento ao processo. Brito não atendeu às ligações. Zé Geraldo, no entanto, disse que sua posição será de defender a continuidade do processo. Ele diz que não houve qualquer pressão do PT ou do governo e que, em relação à admissibilidade, não adiantarão apelos para que mude de posição.
“Eu defenderei a continuidade, ainda mais agora, depois da defesa que ele apresentou na imprensa. Não dá para brincar com a inteligência do povo brasileiro. O PT não falou nada e nem acho que vá falar, mas nessa coisa aí não adianta apelo”, disse Zé Geraldo.
Rompimento tucano
Na terça-feira, o PSDB reuniu à noite sua bancada e, por unanimidade, decidiu romper com Cunha. Os tucanos prometem, a partir de agora, discursar em plenário pedindo a saída do presidente, o que agrava a situação do deputado na Câmara. Ao longo do dia, reforçando a posição da oposição no Conselho de Ética, os líderes do PSDB, Carlos Sampaio (SP), e do DEM, Mendonça Filho (PE), fizeram declarações contra Cunha.
Os tucanos Betinho Gomes (PE) e Nelson Marchezan Júnior (RS) também afirmaram que não há como evitar o andamento do processo. Marchezan disse que a sociedade não “perdoaria o parlamento” caso o Conselho arquivasse sumariamente o processo contra Cunha. Betinho Gomes reforça o entendimento: “Há elementos suficientes para dar seguimento ao processo no Conselho. Seria um escândalo nacional arquivar sumariamente”.
“O que foi apresentado contra o presidente Eduardo Cunha é sério e grave, e, até agora, a defesa que ele apresentou é confusa e deficiente. Mesmo sabendo que há uma causa maior, que é o impeachment, o PSDB jamais vai transigir com a ética”, disse Sampaio.
“ O que levou a oposição a se posicionar foi o embaraço do presidente em sair com entrevistas à imprensa achando que ia cessar os questionamentos. Ao meu ver, ele aumentou os questionamentos. A defesa tem furos e evidentemente a imprensa, a sociedade e o próprio parlamento irão questionar isso em busca dos esclarecimento às graves denúncias. Eu sempre disse que não ia blindá-lo e nem prejulgá-lo. O tempo só complica ainda mais o cenário”, acrescentou Mendonça Filho.
A oposição pressiona Cunha pela abertura do impeachment contra a presidente Dilma Rousseff e vinha dando declarações pouco efetivas contra o presidente da Câmara. Cunha, por sua vez, vinha usando sua prerrogativa de decidir sobre os pedidos para equilibrar-se entre o apoio do governo e da oposição. Na terça-feira, em mais um movimento para não perder de vez o apoio dos oposicionistas, Cunha sinalizou a líderes que pode assinar o pedido de impeachment até o dia 24, data prevista para a votação do relatório no Conselho de Ética.
Todos os deputados da oposição tomam cuidado de não entrar no mérito da representação feita pelo PSol e pela Rede contra o presidente da Casa, para evitar acusação de prejulgamento, mas afirmam que existem evidências que obrigam o conselho a aprofundar as investigações. “É até importante que se dê continuidade para que o presidente possa se defender. O foro adequado é o conselho. O processo deve andar”, afirmou o deputado do DEM, Paulo Azi (BA).
Mesmo entre os deputados mais próximos de Cunha no Conselho, muitos preferem não declarar voto e dizem querer aguardar o relatório de Pinato para se posicionar. É o caso dos deputados Arnaldo Faria de Sá (PTB-SP), Cacá Leão (PP-BA), Ricardo Barros (PP-PR) , Washington Reis (PMDB-RJ) e Wellington Roberto (PB). O único a defender abertamente o arquivamento imediato da ação é Paulinho da Força (SD-SP).
Barroso vota por manter exigência de decisão judicial para responsabilizar redes por ofensas
Dias de pânico: o que explica a disparada do dólar e dos juros
Congresso fecha lista do “imposto do pecado”; veja o que terá sobretaxa e o que escapou
Como funciona a “previdência militar” que o Congresso vai rever