O governo vai agir nesta semana para evitar a convocação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, de seus parentes e de pessoas ligadas ao petista em comissões do Congresso. A estratégia dos governistas é obstruir sessões e apontar ausência de relação entre as denúncias, o alvo das investigações dos colegiados e os personagens próximos ao antecessor de Dilma Rousseff na Presidência.
A oposição ganhou novo ânimo após as investigações da Polícia Federal chegaram a Luís Cláudio Lula da Silva, filho do petista, e ao ex-ministro Gilberto Carvalho, na nova fase da Operação Zelotes, deflagrada nesta segunda-feira (26). Além disso, está na mira dos oposicionistas o pecuarista José Carlos Bumlai, amigo de Lula e alvo da Operação Lava Jato.
O presidente da CPI do Carf, Ataídes de Oliveira (PSDB-TO), afirmou que vai colocar em pauta a convocação ex-ministros e Luís Cláudio para falarem à comissão. “Quero ouvir a ex-ministra [da Casa Civil] Erenice [Guerra], o ex-ministro Gilberto Carvalho e o filho do Lula”, afirmou.
Os requerimentos de convocação foram negados anteriormente por senadores que alegaram que as suspeitas de compra de MPs não estavam ligadas aos assuntos da CPI. Para o senador, o ex-conselheiro do Carf, José Ricardo, e o lobista Alexandre Paes Santos, que foram presos ontem, “são do núcleo nervoso” das fraudes. “Eu acredito que essas prisões mudam toda a história da Operação Zelotes, inclusive os trabalhos da CPI do Carf aqui no Senado.”
Com o objetivo de garantir a convocação de Luís Cláudio, o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) apresentou à CPI pedidos para quebrar sigilos bancário, fiscal e telefônico da empresa LFT Marketing Esportivo. Ele afirmou que é prudente aprovar a quebra de sigilo da LFT para tentar comprovar pagamentos feitos pela Marcondes & Mautoni Empreendimentos. “Para não correr o risco de ter o segundo requerimento rejeitado, vamos fazer a apreciação dos requerimentos de quebra de sigilo.”
Explicações
Na Câmara, o líder do PPS na Câmara, deputado Rubens Bueno (PR), também quer convocar Lula, Luis Cláudio e Carvalho na Comissão de Fiscalização Financeira e Controle. O parlamentar quer que eles expliquem as denúncias de que teria havido pagamento de R$ 36 milhões na Medida Provisória 471, de 2009, que resultou na prorrogação de 2011 a 2015 da política de descontos no IPI de carros produzidos nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste. Bueno quer ouvir também lobistas e representantes das montadoras Caoa e Mitsubishi. “É impressionante o número de pessoas ligadas ao ex-presidente Lula que são alvo de operações da Polícia Federal. Parece um saco de caranguejo. Puxa um e vem outro grudado”, disse Bueno em nota.
As CPIs do BNDES e dos Fundos de Pensão também serão usadas pela oposição para atingir Lula, mas governistas se preparam para reagir. A CPI que investiga irregularidades envolvendo fundos de pensão tentará novamente aprovar a convocação de Bumlai.
Na semana passada, a CPI já havia tentando aprovar o requerimento, mas o governo obstruiu a sessão. Uma nova votação de requerimentos pode acontecer nesta quinta-feira. “A pressão da opinião pública é essencial para que a gente consiga alguns votos que são sensíveis a este sentimento de querer se aprofundar a investigação”, afirmou o presidente da CPI, Efraim Filho (DEM-PB). “Nossa vantagem é que uma CPI comandada pela oposição não tem influência do governo na blindagem das pautas. Mas é preciso ter maioria para aprovar.”
Na CPI do BNDES, há requerimentos para convocar Lula e um outro filho do petista, Fábio Luis Lula da Silva, o Lulinha. Para o presidente da comissão, Marcos Rotta (PMDB-AM), os requerimentos, porém, só devem ser aprovados se houver um “cochilo” da base governista. “A CPI não é delegacia de polícia, que você chega lá com qualquer briga e faz um boletim de ocorrência. Tem que ter nexo”, disse o deputado Carlos Zarattini (PT-SP), que questiona a relação de personagens como Lulinha e Bumlai com o objeto de apuração da CPI.