A EBC (Empresa Brasil de Comunicação), que controla veículos estatais de comunicação – como a TV Brasil, a Agência Brasil e a Radiobrás – deixou de usar o termo “presidenta” para distinguir o gênero do cargo de presidente da República em reportagens produzidas e distribuídas pelas instituições. O termo vinha sendo usado pelo governo federal desde a posse de Dilma Rousseff para seu primeiro mandato, em 2011.
Segundo a reportagem apurou, desde o final da semana passada os funcionários são orientados a mudar a forma de tratamento do cargo no feminino na televisão e também na agência de notícias. Ainda não houve mudança na rádio, o que é esperado para esta semana.
Apenas funcionários da TV receberam essa orientação por e-mail. “Por orientação da gerente executiva, informamos que a TV Brasil passa a adotar a forma ‘presidente’ independente do gênero. Deixamos, portanto, de usar presidenta”, diz e-mail interno, ao qual a reportagem teve acesso.
Na Agência Brasil – que produz conteúdo gratuito em texto para todo o país – ainda não houve uma determinação formalizada por comunicado interno, mas a orientação teria sido passada a editores na última segunda-feira (30). Em matéria publicada na segunda-feira (30), sobre o discurso de Dilma Rousseff na UnB (Universidade de Brasília), a agência já se refere a ela com o termo “presidente afastada”.
Procurada, a EBC confirmou a mudança. A estatal informou que os dois termos – no masculino e no feminino – são aceitos pela norma da língua portuguesa. “Sendo assim a EBC decidiu por utilizar a terminologia ‘presidente’ para adequar a linguagem ao que vem sendo praticado pelos demais veículos de comunicação do país”, disse a estatal, em nota.
MUDANÇA
Quando Dilma assumiu, em 2011, os veículos estatais começaram a usar o termo “presidenta” em substituição a “presidente”. Era uma novidade, já que Dilma foi a primeira mulher a comandar o país.
Apesar de o termo constar no dicionário, a mudança gerou o debate de até onde iria a ingerência de um governo específico sobre um veículo estatal. A orientação teria partido da própria Dilma, que preferia ter seu cargo citado no feminino, algo utilizado por ministros e lideranças políticas aliadas.
Veículos de comunicação já usavam “presidente” para gestores mulheres de empresas e instituições em geral. A maioria dos veículos de imprensa não adotou a forma sugerida e manteve o título de “presidente”, por entender que a palavra contempla os dois gêneros (o presidente / a presidente). “Presidenta” é usada apenas em declarações (entre aspas) e em textos de autores que fizerem a opção pelo seu uso.
NOVO COMANDO
Com o afastamento de Dilma do cargo, o governo interino de Michel Temer nomeou o jornalista Laerte Lima Rimoli para a presidência da EBC, em substituição a Ricardo Melo. Rimoli foi chefe da assessoria de comunicação do Ministério do Esporte no governo de Fernando Henrique Cardoso e coordenador da campanha de Aécio Neves (PSDB) nas últimas eleições presidenciais.
Em dezembro passado, ocupou, a convite do deputado federal Eduardo Cunha (PMDB-RJ), o comando do setor de comunicações da Câmara. Em postagem recente nas redes sociais, Rimoli já se pronunciou contra o governo petista e elogiou o papel da imprensa privada no país. “Se não existisse TV Globo o país já teria se tornado uma Venezuela. Viva o JN [‘Jornal Nacional’, da Globo] e a novela diária da corrupção petista chefiada por Lula”, publicou Rimoli no início do ano.
ARROZ COM FEIJÃO
Em sua primeira declaração como presidente da EBC, Rimoli disse que os veículos públicos farão o básico, o “arroz com feijão” no jornalismo, sem servir “a propósitos que não sejam de informação”.
Funcionários ouvidos pela reportagem temem ingerência na parte editorial, em tudo que possa ser relacionado a uma ideologia de esquerda ou remeter ao legado social do PT.
A nova administração já começou um processo de reformulação, com a suspensão de contratos com pessoas jurídicas que prestavam serviço nas empresas. Segundo o Portal Comunique-se, a suspensão desses contratos chega a R$ 3 milhões. De acordo com a reportagem, a EBC estaria com déficit de R$ 60 milhões em seu caixa.
Há ainda o temor entre funcionários de que a referência ao “arroz com feijão” signifique o fim das reportagens especiais, distribuídas gratuitamente para jornais do país, principalmente veículos regionais.
O portal da Agência Brasil, por exemplo, destaca cinco especiais produzidos pelos jornalistas da casa: “Amazônia Ameaçada”, “O caminho do pódio”, “Desafios da mulher brasileira”, “Sobradinho: de volta ao sertão”, “O Estatuto do Desarmamento sob ameaça”.
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