Lula: ironias nas respostas ao delegado da Polícia Federal.| Foto: Adonis Guerra/SMABC

No último dia 4, o ex-presidente Lula foi conduzido coercitivamente para prestar depoimento à Polícia Federal no âmbito da Operação Lava Jato. Durante a oitiva, Lula negou ser dono de imóveis atribuídos a ele e disse desconhecer a existência de um esquema de corrupção na Petrobras. Visivelmente irritado e impaciente, Lula não economizou na ironia ao prestar esclarecimentos à força-tarefa. A reportagem da Gazeta do Povo separou os momentos mais “inacreditáveis” da oitiva:

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Leia aqui a íntegra do depoimento de Lula à PF

1 – Cães -guias no Planalto

 
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Para tentar explicar a proximidade com o pecuarista José Carlos Bumlai, preso na Lava Jato e que era circulava rotineiramente no Palácio do Planalto, o ex-presidente Lula disse que recebeu até cães-guias durante seu mandato. “Nunca antes da história do Brasil, um presidente da República fez tanto debate com empresário dentro do Palácio do Planalto como eu, nunca”, disse. “Não só debate com empresário, mas debate com favelado, debate com sem teto, debate com prostituta, com LGBT, até cachorro, cão-guia, eu fiz reunião lá dentro, pra falar com os donos, não com os cachorros”, disse o ex-presidente.

2 – Maior que Bill Clinton

 

Lula afirmou cobrar US$ 200 mil por palestra proferida no exterior: Como base para o cálculo, usou o exemplo do ex-presidente dos Estados Unidos Bill Clinton. “Nós pegamos um valor do Bill Clinton e falamos o seguinte: ‘Nós fizemos mais do que ele; então nós merecemos pelo menos igual’, e aí passamos a viajar, eu viajei muito em 2011, até porque eu queria sair do Brasil para não ficar atrapalhando a presidente [Dilma Rousseff] que tinha tomado posse”, explicou Lula.

3 – “Nem em casa eu cuido disso”

Lula ironizou quando o delegado da Polícia Federal perguntou o montante médio de recursos que o Instituto recebe por ano. “Nem no instituto e nem em casa eu cuido disso [das finanças]. Em casa tem uma mulher chamada dona Marisa que cuida e no instituto tem pessoas que cuidam”, disse Lula.

4 – A polêmica do pedalinho

Ao ser questionado sobre o sítio em Atibaia (SP), Lula disse ficar “chateado de ver um delegado de Polícia Federal se preocupar com pedalinho”. O petista se referiu aos brinquedos encontrados no sítio, usado por ele e sua família. Os dois pedalinhos do lago do sítio custaram R$ 5.600.

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5 – Presidência em 2018

Vou ser candidato à Presidência em 2018 porque acho que muita gente que fez desaforo pra mim, vai aguentar desaforo daqui pra frente. Vão ter que ter coragem de me tornar inelegível.”

Lula

Visivelmente irritado, o ex-presidente reclamou que o Brasil vive um momento em que as pessoas são condenadas “pelas manchetes dos jornais”. Para Lula, há um pré-julgamento dos envolvidos na Lava Jato através de notícias veiculadas na mídia. Ele comparou o caso com o mensalão, quando o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu foi condenado. “[Os envolvidos no mensalão] não poderiam entrar num restaurante, não poderiam sair na rua, não poderiam ir pra lugar nenhum. É o que estão tentando fazer comigo agora, só que o que estão tentando fazer comigo vai fazer com que eu mude de posição, eu que estou velhinho, estava querendo descansar, vou ser candidato à Presidência em 2018 porque acho que muita gente que fez desaforo pra mim, vai aguentar desaforo daqui pra frente. Vão ter que ter coragem de me tornar inelegível”, disse o ex-presidente.

6 – Pedido de desculpas

No fim do depoimento, Lula disse que espera um pedido de desculpas da força-tarefa no final das investigações da Lava Jato. “Eu espero que quando terminar isso aqui alguém peça desculpas. Alguém fale: ‘Desculpa, pelo amor de Deus, foi um engano’.”

7 – Dormiu pouco?

O delegado da PF pergunta a Lula se ele atuou em favor das empresas que doaram para o instituto. Como resposta, uma ironia:

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Delegado: – Em razão das doações ao Instituto Lula, o senhor já gestionou pelos interesses dessas empreiteiras em contratos e financiamentos?

Lula: – Não entendi a pergunta. [Você] dormiu pouco essa noite?”

8 – Falar de boca cheia

O depoimento foi interrompido para o ex-presidente tomar um café, mas Lula disse que não se importava em falar de boca cheia:

Lula:– Se quiser continuar, pode continuar, eu sei falar de boca cheia.

Delegado: – Não, não, eu só não quero atrapalhar o seu café.

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Lula: – Na fábrica a gente trabalhava em horário corrido, você tinha meia hora para comer, então era uma desgraça, você comia falando, então... Quem tirou tanta gente da miséria tem direito a comer também.”

Se quiser continuar [o interrogatório], pode continuar, eu sei falar de boca cheia.”

Lula dizendo ao delegado da PF que poderia continuar a depor enquanto comia.

9 – Atentado às Torres Gêmeas

 

O atentado ao World Trade Center, em 2001, nos Estados Unidos, também foi utilizado como exemplo pelo ex-presidente Lula para ironizar o depoimento à força-tarefa:

Delegado: – Certo. Vamos mudar de tema agora, José Carlos Bumlai e Schahin Engenharia, é...

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Lula: – Eu já respondi isso em Brasília, não é possível que vocês não estejam... Você sabe que o...

Delegado: – O senhor está respondendo por fatos aqui, não é por pessoas.

Lula: – Você sabe que o atentado às torres, uma das coisas que dizem que aconteceu aquele atentado foi porque a polícia não se comunicava. Eu já fui à Brasília pra... [falar desse assunto]”

10 – Sacanagem homérica e saco cheio

O ex-presidente ironizou a investigação sobre o apartamento no Guarujá. “Eu acho que eu estou participando do caso mais complicado da história jurídica do Brasil, porque tenho um apartamento que não é meu, eu não paguei, estou querendo receber o dinheiro que eu paguei, um procurador disse que é meu, a revista Veja diz que é meu, a Folha [de S.Paulo] diz que é meu”, disse Lula. O ex-presidente disse ainda que a PF “inventou a história do triplex” e diz “que foi uma sacanagem homérica” para ligá-lo à Lava Jato. O ex-presidente aproveitou para criticar a atuação do promotor do Ministério Público de São Paulo (MP-SP) Cassio Conserino, que conduz investigações paralelas contra o petista. Lula disse ainda estar “de saco cheio de ficar respondendo bobagens”.

11 – Presidente de honra não manda nada

Para desconversar sobre os gastos do Instituto Lula, o ex-presidente usou mais uma vez a ironia para responder o delegado da PF:

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Delegado: – Não, não, eu não pergunto números, o senhor autoriza que seja gasto...

Lula: – Eu não autorizo porque eu não, no instituto hoje eu sou só presidente de honra e você sabe que se um dia você for presidente de honra da Polícia Federal aqui você não representa mais nada, ou seja, então o presidente de honra é um cargo de honra só, eu não participo das reuniões da diretoria, eu não participo das decisões, porque o instituto tem uma diretoria própria.

12 – O carro de boi de Zezé de Camargo e Luciano e o vinho

 

Enquanto o delegado da PF se preocupava em saber sobre o transporte de objetos da Presidência depois do fim do mandato de Lula, o ex-presidente aproveitou para “ostentar” presentes que ganhou enquanto exerceu o cargo: “Mas por que essa pergunta do vinho [que recebeu de presente], especificamente? Mas por que essa pergunta do vinho? Porque o vinho é um transporte que é igual o carro de boi que o Zezé de Camargo e o Luciano me deram. Igual aos bonecos de barro de presépio da dona Marisa, aquele presépio que ficava na frente do palácio, quando eu era presidente. A dona Marisa embarcou carneirinho, embarcou o Jesus Cristo, embarcou o rei mago e levou tudo pra lá. Qual é a importância da pergunta extensiva ao vinho?”