| Foto: Sergio Lima/Folhapress

A explosiva combinação de crise política e econômica, que se intensificou no Brasil desde o início de 2015, colaborou, e muito, para o andamento do processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT).

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Após a derrota no último domingo (17) na Câmara dos Deputados, a esperança do governo está agora no Senado. Porém, é provável que o mandato de Dilma acabe não resistindo.

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Algumas atitudes da presidente ajudaram a construir esse cenário, como a decisão de se contrapor à candidatura de Eduardo Cunha (PMDB-RJ) à presidência da Câmara e as decisões equivocadas no campo econômico.

Confira a seguir os erros da presidente que a levaram à situação atual:

1. Menosprezar os efeitos das manifestações

Os protestos contra a presidente Dilma começaram em março do ano passado – quando foram registradas 80 mil pessoas nas ruas de Curitiba – e voltaram a ganhar força com a abertura do processo de impeachment da petista, pelo presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), em dezembro.

Os movimentos foram intensificados no mês passado com o avanço das investigações da operação Lava Jato e a suspeita de envolvimento do ex-presidente Lula no esquema da Petrobras. No primeiro protesto de 2016, em 13 de março, as manifestações reuniram ao menos 3 milhões de pessoas em atos em todos os estados.

Manifestações levaram milhões às ruas de todo o Brasil. 
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2. Confrontar Eduardo Cunha na disputa pela presidência da Câmara

O posto de presidente da Câmara dos Deputados é estratégico para fazer caminhar as pautas do governo federal no Congresso. Porém, Dilma resolveu enfrentar a candidatura de Eduardo Cunha (PMDB-RJ) para o posto, em fevereiro do ano passado, e lançou como candidato Arlindo Chinaglia (PT-SP), que recebeu 136 votos.

Com um discurso de independência do parlamento, Cunha alçou 267 votos na eleição. Dilma e o peemedebista sempre mantiveram uma relação difícil e era esperado que, com a derrota do governo, a relação com a Câmara ficaria estremecida. Logo no primeiro discurso como presidente da Casa, Cunha lançou munição contra o governo.

Em julho, o peemedebista anunciou o rompimento com o governo e disse ser de oposição. A decisão ocorreu pouco depois da situação de Cunha na Lava Jato se complicar. Na época, ele acusava o Planalto e o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, de orquestrarem uma ação para incriminá-lo.

Eduardo Cunha aceitou a denúncia de impeachment contra Dilma Rousseff. 

3. Apostar em partidos sem vínculo histórico para formar base na Câmara

Mantendo suas bases com aliança a partidos de esquerda e centro-esquerda, “o PT não conseguiria formar uma maioria”, aponta o professor de ciência política do grupo Uninter André Ziegmann. Até alguns meses atrás, o governo Dilma tinha em sua base partidos ideologicamente sem vínculo com o programa petista, como PMDB, PP, PR, PSD e PDT.

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O apoio custou cargos do primeiro escalão ao governo, mas não garantiu apoio na votação do impeachment. Dos partidos citados, apenas PR e PDT orientaram seus deputados a votarem contra o processo. Mesmo assim, nem todos seguiram a orientação.

O deputado Alfredo Nascimento, por exemplo, renunciou ao cargo de presidente do PR para votar pelo impeachment. Nascimento foi ministro dos Transportes no primeiro mandato de Dilma e deixou a pasta sob suspeitas de participar de um esquema de corrupção.

4. Concentrar as decisões sobre política econômica

A má condução da política econômica brasileira já havia sido usada como munição por adversários de Dilma na campanha de 2014. Com a vitória do PT nas urnas, porém, a direção tomada na área descarrilou.

Houve tentativas de retomada da austeridade no plano econômico, com a nomeação de Joaquim Levy para o Ministério da Fazenda, em novembro de 2014. Porém, a política econômica foi mantida com “excessiva centralização na Presidência da República” e não houve apoio nem dentro do próprio governo para implantar as mudanças necessárias.

Nelson Barbosa (à esquerda) assumiu o Ministério da Fazenda no lugar de Joaquim Levy (à direita). 
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5. Não conseguir firmar um articulador político

Oficialmente, apenas o vice-presidente Michel Temer atuou na articulação política do governo Dilma. Mas a participação dele foi curta: assumiu a função em abril de 2015, quando a presidente começou a ser o alvo principal de centenas de protestos pelo país, e deixou o cargo em agosto. Nesses quatro meses, o trabalho do peemedebista foi pouco efetivo e a crise na relação Dilma e Legislativo só se agravou.

Em outubro de 2015, Jacques Wagner assumiu a Casa Civil. “Foi quando o governo teve alguém de peso à frente da articulação política. Mas, talvez, tenha sido tarde demais”, avalia o professor de ciência política do grupo Uninter André Ziegmann. A última tentativa do governo de ter um articulador político eficiente foi a nomeação do ex-presidente Lula para a Casa Civil.

Mas, a atitude acabou desencadeando mais uma crise para o governo, após a divulgação de uma conversa da presidente com Lula. No diálogo, aparentemente Dilma parece tentar usar a nomeação para garantir foro privilegiado para Lula. Após o episódio, Lula teve o cargo questionado na Justiça, que ainda não decidiu sobre a legalidade da nomeação. Apesar disso, o ex-presidente passou a atuar como articulador informal para tentar barrar o impeachment. Na Câmara, não funcionou.

Jacques Wagner teria assumido a Casa Civil tarde demais.