Criada inicialmente para apurar as relações do doleiro Carlos Chater com empresas ligadas ao ex-deputado federal José Janene (falecido em 2010), a Operação Lava Jato já resultou na abertura de oito processos contra 42 pessoas, tirou o deputado federal André Vargas do PT e pode ainda trazer complicações para várias pessoas e empresas.
Estão na mira, principalmente, aqueles que fizeram negócios com o doleiro Alberto Youssef e com o ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa. Youssef, conforme apurou a PF, atuava como uma espécie de doleiro-mor, centralizando diferentes esquemas de desvio de recursos e lavagem de dinheiro. Costa, ex-diretor de Abastecimento e Refino da Petrobras, era o elo de Youssef com os milionários negócios da estatal. Na próxima semana, a força-tarefa do Ministério Público encarregada do caso deve apresentar mais quatro denúncias que serão analisadas pelo juiz Sérgio Moro e novos protagonistas podem surgir.
Dois novos inquéritos já foram abertos pela PF depois da análise do primeiro lote de documentos apreendidos, e outros podem ser instaurados a partir da conclusão de novos laudos sobre o farto material recolhido no primeiro dia da operação. Investigadores estão de olho sobretudo na análise das mensagens trocadas a partir dos 34 celulares apreendidos com Youssef.
A PF e o Ministério Público Federal devem pedir ainda a quebra do sigilo de ao menos mais 60 contas bancárias. "Mais de 80 mil documentos foram apreendidos. Muitos não foram analisados ainda. Muita coisa vai aparecer. Estamos apenas na fase preliminar", disse o procurador Carlos Fernandes, um dos integrantes da força-tarefa.
O elo inicial
A Operação Lava Jato nasceu para apurar a relação entre o doleiro Carlos Habib Chater e o ex-deputado paranaense José Janene (PP), falecido em 2010. Foi a partir dos dois que surgiram os demais personagens. "O objeto da apuração foi ampliado para diversos outros doleiros que se relacionavam entre si para o desenvolvimento das atividades, mas que formavam grupos autônomos e independentes", diz o relatório da Força-Tarefa que embasa as denúncias contra os acusados. Janene, porém, ganhou destaque ainda antes. Líder do PP na Câmara na época do mensalão, foi absolvido no processo de cassação em 2005. De acordo com a Procuradoria da República, como líder da bancada do PP ele captou pelo menos R$ 3 milhões do valerioduto para garantir o apoio do partido ao governo e usou a corretora Bônus Banval para distribuir o dinheiro. Em sua defesa, Janene admitiu ter recebido R$ 700 mil para ajudar o ex-deputado Ronivon Santiago (AC) a pagar advogados e negou acusação de venda de voto.
O doleiro
Nascido em Londrina, Alberto Youssef é personagem central do noticiário político e policial brasileiro desde o começo da década passada. Youssef ficou conhecido durante a investigação das contas CC-5 do Banestado. É acusado de ser um dos principais operadores do esquema que movimentou cerca de US$ 28 bilhões. O doleiro acabou condenado, mas fez um acordo de delação premiada com a Justiça. Ele entregou outros doleiros que participavam do esquema, pagou uma multa de R$ 1 milhão e comprometeu-se a não se envolver mais com operações de câmbio. Permaneceu em liberdade, mas continuou a operar. Ele voltou a aparecer durante a investigação do mensalão, na CPI dos Correios. Youssef seria o verdadeiro dono da corretora Bônus-Banval, usada para repassar R$ 1,2 milhão aos então deputados Pedro Henry (PP-MT), Pedro Corrêa (PP-PE) e José Janene (PP-PR). A ligação, porém, nunca foi oficialmente comprovada. Na Lava Jato, Youssef é descrito como personagem central que une os diferentes núcleos investigados.
O parlamentar
Nascido em Assaí, no Norte Pioneiro, André Vargas teve sua ascensão no mundo político interrompida pelas revelações da Operação Lava Jato. Vargas galgou seu crescimento na estrutura partidária e na Câmara com a bênção do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. No PT, o deputado tornou-se secretário de Comunicação defendendo bandeiras do partido como a regulação da mídia. Foi indicado pelo partido para ocupar a vice-presidência da Câmara dos Deputados com o apoio do chamado baixo clero da Casa. O calvário do parlamentar paranaense começou com uma matéria do jornal Folha de S.Paulo mostrando que o deputado tinha voado em um jatinho do doleiro Alberto Youssef, que posteriormente foi preso pela Polícia Federal. Vargas disse que a carona no voo foi um "equívoco" e negou qualquer outra relação com Youssef. Informações da investigação divulgadas na sequência desmentiram a versão do deputado. Mensagens interceptadas pela PF mostraram que Vargas teria feito lobby no Ministério da Saúde a pedido do doleiro.
O dirigente
Nascido em Telêmaco Borba e formado em Engenharia Mecânica pela Universidade Federal do Paraná (UFPR), Paulo Roberto Costa foi funcionário de carreira da Petrobras, especializado em Engenharia de Instalações no Mar. Diretor de distribuição da Petrobras entre 2004 e 2012, o paranaense cuidou dos projetos técnicos da refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco. A obra, iniciada em 2007 com custo estimado de US$ 2 bilhões, ainda não foi concluída. Seu custo já bate na casa dos US$ 18 bilhões. Para a PF, Costa seria o elo do doleiro Alberto Youssef com a Petrobras em esquema que envolvia empresas de fachada de Youssef e grandes fornecedores da estatal. Mesmo depois de deixar a empresa, Costa continuou cobrando propina para intermediar contratos fraudados por meio de sua consultoria, a Costa Global. Durante as investigações, a PF também descobriu que Paulo Roberto ganhou um Land Rover no valor de R$ 250 mil pago pelo doleiro. Para a Justiça, o presente foi produto de desvios de recursos da usina.
O juiz
Tido como juiz enérgico, ágil e atuante, Sérgio Fernando Moro, atualmente titular da 13ª Vara Federal de Curitiba, é velho conhecido do doleiro Alberto Youssef. Ele foi o magistrado responsável pelas ações relacionadas as contas CC-5, do Banestado. Boa parte das informações prestadas por Youssef no acordo de delação premiada foi usada na sequência, durante a Operação Farol da Colina. Na época, Moro chegou a decretar a prisão de 123 pessoas de uma vez só. Na sequência, continuou lidando com processos de grande repercussão. Na chamada Operação Fênix, o juiz decretou a prisão de 11 pessoas ligadas ao traficante Luiz Fernando da Costa, o Fernandinho Beira-Mar. Entre elas estava inclusive o advogado de Beira-Mar. Moro também teve papel de importância no julgamento do caso mensalão pelo Supremo Tribunal Federal (STF). O juiz foi convocado pela ministra Rosa Weber para auxiliá-la em seu voto.
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