Dilma Rousseff ganha holofotes com o status de pré-candidata do PT: boa estratégia, na visão de analistas políticos.| Foto: Roberto Jayme/Reuters

No Nordeste, experiências opostas

De todas as disputas recentes pelo Palácio do Planalto, uma delas teve uma candidatura antecipada que deu certo – a de Fernando Collor de Mello, eleito em 1989 – apesar de ele não ter se mantido no cargo (sofreu um processo de impeachment em 1992).

O consultor político Vinicius Nagem, da ABCOP, diz que a candidatura de Collor é um exemplo de antecipação bem sucedida. "Ele era representante da Globo em Alagoas, e isso lhe abriu portas. Por dois anos antes das eleições, ele teve espaço na mídia para aparecer como o ‘caçador de marajás’. Era tido como paladino da justiça", lembra. Collor também saiu em vantagem porque soube costurar bem as alianças. "Ele fechou o apoio com partidos menores e com isso apareceu muito nas inserções gratuitas um ano antes."

No caso de Roseana Sarney, o diretor da ABCOP diz que o problema não foi a antecipação da candidatura. A candidata do clã Sarney aparecia em segundo lugar nas pesquisas de intenção de voto para a Presidência da República em fevereiro de 2002, atrás apenas de Lula. Em 1º de março, a Polícia Federal invadiu a empresa Lunnus, de propriedade de Roseana, onde encontrou cerca de R$ 1,3 milhão em dinheiro, cuja origem não foi bem explicada. Isso minou a pré-candidatura dela, que na época concorreria pelo PFL.

"Favor" de detonar

"Fizeram o favor de detonar a candidatura (de Roseana) naquele momento, pois, caso durasse mais, poderia vir à tona coisa pior, com potencial para atingir outros membros da família", diz Nagem.

O consultor Alexandre Bandeira também diz que o lançamento antecipado da campanha não teve relação direta com o escândalo. "Independentemente da veracidade das denúncias, o que houve foi um fato grave de imagem. Não ocorreu porque ela se candidatou antecipadamente." (RF)

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Antecipações que deram certo e que erraram
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A movimentação política no início deste ano, visando às eleições de 2010, deixa a impressão de que lançar antecipadamente uma pré-candidatura significa obter sucesso nas urnas. No entanto, o resultado das disputas eleitorais recentes no Brasil mostra que essa estratégia tende a prejudicar o concorrente, ao invés de ajudá-lo.

No pleito de 2008, por exemplo, das nove maiores capitais do país, apenas em duas delas o prefeito eleito foi o mesmo que despontava como favorito nas pesquisas de um ano antes (veja tabela). Em 2002, outra candidatura bem cotada nos levantamentos naufragou bem antes de iniciada a campanha presidencial: a de Roseana Sarney.

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Apesar dos riscos inerentes à candidatura antecipada – os adversários têm mais tempo para tentar associar o político a algum escândalo –, a maioria dos especialistas concorda com as estratégias utilizadas pelos expoentes da política regional e local. Para eles, quem não é visto não é lembrado. Por isso, Dilma Rousseff (PT), ministra-chefe da Casa Civil, desconhecida da maior parte dos eleitores, precisa de superexposição. Por outro lado, em casos como o do prefeito Beto Richa (PSDB), que já ocupa um papel de destaque e é bem conhecido da população, negar a candidatura antecipada é a melhor opção. Ele deve concorrer à sucessão do governador Roberto Requião (PMDB), em 2010.

Alternativa

Não é de hoje que os partidos lançam candidaturas com antecedência. Mas, desta vez, ela está mais intensa. Um dos fatores que contribui para isso é que, pela primeira vez desde a redemocratização, Luiz Inácio Lula da Silva não participará da disputa pela Presidência da República.

Sem sua grande estrela, o PT precisa encontrar uma alternativa viável. Com tempo de sobra – faltam 20 meses para a eleição de 2010 –, é possível testar um nome e, caso o cenário não se desenrole bem, trocá-lo.

Dilma, apesar de não assumir, é a candidata do PT. O palanque dela tem sido as obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Com o discurso oficial de que precisa fiscalizar o andamento dos projetos, ela tem viajado por todo o Brasil – muitas vezes ao lado de Lula, seu grande cabo eleitoral. A oposição, capitaneada pelo PSDB, também tem se antecipado para 2010, com o objetivo de não perder muito terreno.

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"A estratégia do governo federal é muito boa. Há uma reserva de tempo antes das eleições, caso a pré-candidata não emplaque. O PSDB, da mesma forma, toma uma atitude inteligente, pois não está deixando o principal concorrente, o PT, fazer campanha sozinho", observa Alexandre Bandeira, diretor-executivo da consultoria política Strattegia.

Necessidade

Segundo Vinicius Nagem, diretor da Associação Brasileira dos Consultores Políticos (ABCOP) no Paraná, quando o candidato é desconhecido, como Dilma, é "quase que uma necessidade" a candidatura antecipada. "Qualquer pessoa, por mais gabaritada que seja, se não for conhecida da população, não tem chance nenhuma", observa. Ele cita como exemplo a candidatura fracassada de Carlos Augusto Moreira Júnior (PMDB) na disputa pela prefeitura de Curitiba, no ano passado. "Ninguém discute a capacidade e inteligência dele. Mas ele apareceu como candidato a apenas três meses da eleição. Não deu tempo para o povo conhecê-lo". O peemedebista teve 1,9% dos votos válidos.

Reeleição

A possibilidade de reeleição, que começou a vigorar no Brasil em 1998, contribui para o antecipação das candidaturas, avalia o cientista social Emerson Cervi. "O governo, principalmente aquele que tenta se manter no poder, está continuamente em campanha. A oposição, que tem o papel de criticar permanentemente a situação, também acaba por se antecipar", observa.

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Mas ele também diz que, apesar de a antecipação ser uma estratégia perigosa, às vezes é necessária, especialmente quando se trata de alguém pouco conhecido. "O José Serra faz o oposto da Dilma: ele já foi candidato à presidente, é governador de São Paulo e só precisa aparecer na hora H da eleição. Não precisa se desgastar antes."

Só para adversários

O marqueteiro Chico Santa Rita, com experiência em várias disputas pelo Brasil, só aponta desvantagens em candidaturas antecipadas. Ele diz isso com a experiência de quem elegeu Orestes Quércia, que aparecia em último lugar nas pesquisas, como governador de São Paulo, em 1986, e de quem participou da campanha do segundo turno que elegeu Fernando Collor de Mello, em 1989. Para ele, quem tem interesse em se candidatar precisa sim trabalhar bastante, bem antes de ter início o período de campanha oficial. "Mas isso não quer dizer que ele precisa se revelar como candidato. Ao fazer isso, ele está preparando o adversário para enfrentá-lo." Santa Rita diz que os políticos ainda cometem muitos erros. "O fato de se antecipar não quer dizer nada. Pode ser um tiro n’água. Eleição é decidida quando vai para a cabeça das pessoas, e isso só ocorre poucas semanas antes da votação."