Entrevista
Ricardo Oliveira, cientista político da UFPR.
Como a crise na Assembleia Legislativa interfere na formação de alianças?
A crise desgasta todos os parlamentares, todos os partidos. A série "Diários Secretos" é um marco divisor na história da Assembleia. Haverá seguramente uma maior taxa de renovação. Além disso, os deputados estaduais perdem capital político. Eles estão entrando na negociação com o passe desvalorizado. Vale lembrar que essa é uma crise que ainda está em desenvolvimento. Teremos mais uma passeata do movimento caça-fantasmas na semana que vem, continuam as denúncias. Os partidos não sabem onde isso vai acabar.
Como fica o cenário eleitoral com três candidatos expressivos: Beto, Osmar e Pessuti?
Pelas pesquisas de opinião, Beto e Osmar concentram a maior parte das intenções de voto. O Pessuti ainda é uma incógnita, não dá para saber como ele crescerá como governador. O problema do Osmar é a necessidade de alianças, de tempo na televisão. O PDT é um partido pequeno e ele está certo em apostar em uma coligação. Beto Richa tem a candidatura mais estável, mas também tem suas limitações. Quem disser que está tudo definido está mentindo.
Concorrer sem apoio de uma grande aliança é mesmo uma aventura para Osmar Dias?
O calcanhar de Aquiles do Osmar é o tempo de televisão. Sem tempo e uma coligação de partidos fortes, ele não consegue enfrentar a estrutura montada a favor do PSDB. Por isso ele está protelando qualquer decisão e com razão. Mas será muito ruim se ele for candidato ao Senado porque ele passou anos dizendo que seria candidato a governador. Além disso, política não tem fila. Se ele desiste agora, com chances de ser governador, vai para o último lugar. A aliança com o PT ainda é o caminho porque Gleisi Hoffmann tem o amparo do marido e ministro Paulo Bernardo, que é hoje um dos nomes mais fortes da República. Toda essa disputa entre Osmar e o PT lembra aquele casal que briga muito, mas que nunca se separa.
A 25 dias do começo das convenções partidárias, as dez principais legendas do Paraná esperam pelo posicionamento do senador Osmar Dias (PDT) e pelo desdobramento da crise na Assembleia Legislativa para fechar alianças. O pedetista diz que é pré-candidato a governador, mas que só oficializará a decisão se conseguir montar uma chapa competitiva. O outro caminho é concorrer à reeleição para o Senado.
Os impasses interferem diretamente nos rumos das legendas nas coligações majoritárias e proporcionais e nos palanques para os presidenciáveis. E se todos esperam por uma resposta de Osmar, o senador devolve a expectativa. "Não tenho que estabelecer um prazo porque essa não é uma decisão que depende de mim ou do PDT, mas de outros partidos."
Parte do cenário, porém, começou a ser definida na semana passada. Após encontro com o presidente nacional do PT, José Eduardo Dutra, Osmar praticamente descartou uma aliança com os petistas. Dois dias antes, ele recebeu uma proposta formal do PSDB para ser candidato a senador na chapa encabeçada pelo ex-prefeito de Curitiba, Beto Richa.
Além de PSDB e PT, Osmar também negocia com o PMDB, do governador e pré-candidato ao Palácio Iguaçu, Orlando Pessuti. "Estamos trabalhando em silêncio, mas acho que ainda é possível formar uma grande chapa com PMDB, PT e PDT. Nós também queremos contar com o Osmar como senador", afirma o presidente estadual do PMDB, deputado estadual Waldyr Pugliesi.
O deputado convocou para hoje uma reunião com os 17 deputados estaduais e 7 federais da legenda para discutir uma estratégia para as eleições. A intenção é consolidar a candidatura de Pessuti e apaziguar setores que preferem apoiar Beto ou Osmar. Do encontro deve sair a data da convenção peemedebista (todas as convenções precisam ocorrer entre 10 e 20 de junho).
Além dessas frentes de negociação, o senador conta com a fidelidade dos presidentes estaduais do DEM, PR e PSC. "O Osmar é a "noiva" desta eleição porque, se ele decidir que não será candidato a governador, vence o nome que ele apoiar", afirma o presidente do DEM, Abelardo Lupion, que enfrenta uma forte dissidência interna pró-Beto.
Lupion disse que vai marcar a convenção do partido para o dia 30 de junho para ter o máximo de tempo disponível para tomar uma decisão. Segundo ele, será uma eleição atípica devido à crise na Assembleia, cujo presidente, Nelson Justus, é do DEM. "Estamos falando de todo um poder alijado das decisões sobre política. Qual partido tem hoje coragem de indicar um deputado estadual como candidato a vice-governador?"
Segundo maior partido em número de filiados, o PP está bem próximo de fechar um acordo com o PSDB. Ainda assim, o presidente estadual do partido, Ricardo Barros, mantém o mistério. "Nós só vamos nos definir quando houver realmente um quadro definido."
O partido quer uma coligação nas eleições proporcionais e o direito de indicar Barros como candidato ao Senado. Coligação na disputa para o Legislativo também é exigência do PTB, outro indeciso. "Nosso objetivo é eleger mais um deputado federal", diz o presidente do partido no Paraná e único petebista do estado na Câmara, Alex Canziani.
Por último, o PPS trabalha com duas opções. A primeira é manter a aliança de 2006 e 2008, com Osmar e Beto do mesmo lado. Se isso não for possível, há chance de o partido lançar o presidente estadual, Rubens Bueno, como candidato.
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