Para especialistas, solução é a mídia

Especialistas acreditam que a mídia é a única válvula de escape de políticos contra o corporativismo. O professor de Ciências Políticas da Pontifícia Universidade Católica (PUC), em Londrina, César Bueno, considera a função dos "marginalizados" como fundamental e a única ferramenta desses deputados é recorrer à imprensa.

Leia a matéria completa

CARREGANDO :)

Justus nega ingerência política

O presidente da Assembléia Legislativa, deputado Nelson Justus (DEM), considera que as alegações dos parlamentares reclamando de boicote são "inócuas, inoportunas e inverídicas". Para ele, alguns casos de projetos desses deputados não irem adiante podem ser creditados à inexperiência. "Não existe boicote. O que ocorre é que muitas vezes alguns deputados apresentam projetos inconstitucionais e têm dificuldades de serem aprovados nas comissões. Daí, as alegações de que há ingerência política. Mas isso não é verdade", diz.

Leia a matéria completa

Não bastasse serem chamados de minoria na Assembléia Legislativa, alguns deputados estaduais paranaenses vêm recebendo, como eles próprios alegam, "boicotes" por parte dos colegas e acusam que há um "corporativismo" na Casa. Tudo porque eles seriam oposicionistas mais ferrenhos ao governo do estado e por não comungarem de algumas atitudes dos parlamentares mais antigos na forma de legislar e agir.

Publicidade

Dentre as críticas recebidas por eles estão as de falsos-moralistas, a de que gostam de aparecer para a mídia e a de inexperientes. Essas são as mais leves. Um desses deputados boicotados conta que quando presidiu a comissão para analisar a proposta de diminuição do recesso parlamentar e acatou uma emenda acabando com o pagamento das sessões extras houve um outro deputado, que está há mais de 30 anos no cargo, que o chamou no canto e disse: "você não vence mais eleição nem para síndico da Assembléia".

O deputado ameaçado é Reinhold Stephanes Júnior (PMDB). E a emenda colocando fim às verbas extras era de Tadeu Veneri (PT), mais um acusado de ser falso-moralista. Das atitudes do pestista que mais o levaram à rejeição pelos colegas está a do projeto de lei contra o nepotismo. Já o peemedebista, que também assinou essa outra proposta de Veneri, virou uma "ovelha negra" porque propôs o título de persona non grata ao presidente da Venezuela, Hugo Chávez, e votou favorável à criação da Comissão Especial de Investigação (CEI) sobre os gastos com publicidade do governo do estado nos anos de 2005 e 2006.

Quem também figura na lista da minoria praticamente execrada, que encontra muitas dificuldades de verem seus projetos passarem nas comissões da Casa e irem a plenário, é Marcelo Rangel (PPS). Ele foi o autor dos pedidos de informações sobre os gastos da administração de Roberto Requião (PMDB) com publicidade e ganhou os holofotes com a ação.

Há ainda o deputado Fábio Camargo (PTB), que tentou, no início do ano, criar a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar as organizações não-governamentais. Ele teve a proposta barrada e ganhou o boicote em algumas novas ações. Esses deputados se declaram independentes e não agem como a maioria, o que provoca a ira de muitos, que tentam desacreditá-los.

"O boicote ocorre em todas as instituições e empresas. Mas na Assembléia Legislativa, por ser uma Casa especificamente política, ocorre mais. Há diferentes interesses em jogo", afirma Stephanes Júnior. Segundo ele, naquela ocasião houve muito incômodo. "E para ver como há boicote, dou como exemplo a situação do Veneri no caso contra o nepotismo. Há alguns que não assinam o projeto não porque são a favor do nepotismo, mas porque não gostam do Veneri. É uma birra pessoal."

Publicidade

Rangel também admite que sente muita dificuldade para trabalhar. Ele tira a paz dos colegas, que tiram a dele. "Os encaminhamentos das minhas propostas têm sido difíceis. Sou considerado 'café com leite'. E estou no meu primeiro mandato. Não dá para brigar com os mais velhos. Somos vulneráveis." No caso da CEI da publicidade, Rangel reclama que foi ele quem a pediu e não pode presidí-la. O deputado, no entanto, está confiante que vai superar os boicotes. "E farei isso com trabalho, personalidade e posicionamento."

Para Vaneri pelos colegas, o boicote é natural. "No Legislativo há uma série de mecanismos resistentes a transformações. Assim como no Judiciário, o Legislativo é pouco permeável. A administração pública não está amadurecida", diz. De acordo com ele, a crítica não é dirigida a um ou outro parlamentar, mas ao parlamento. "A lógica do parlamento é a de não se criar dificuldades. A cultura do não mostrar foi construída a década."

Segundo o petista, há um mal no parlamentar, que é o de achar que é o dono do lugar. "O político presta contas na campanha. Depois fica quatro anos como se estivesse em moratória, achando que não precisa mais fazer isso durante esse período. Por isso, a população tem de cobrar." Ele vê na tentativa de desqualificação por parte de alguns deputados uma atitude de omissão e de patrulhamento do trabalho.

Mas Veneri, se mostrando um otimista, acredita que, com o tempo, a situação pode mudar. "Hoje se discute temas sem sentido, como a aposentadoria dos deputados e o uso de carros oficiais. É óbvio que não pode haver a aposentadoria e os carros oficiais têm de ter identificação. Mas isso vai virar peça de museu e os meus netos vão falar: 'como o meu avô discutia isso'."