O ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha (PMDB), o mais próximo ao presidente Michel Temer, aparece como alvo central em pelo menos três pedidos de abertura de inquérito que a Procuradoria-Geral da República apresentou ao Supremo Tribunal Federal (STF) contra políticos suspeitos de receber dinheiro da Odebrecht. Um dos pedidos de investigação também atinge o ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Moreira Franco. Segundo pessoas com acesso à delação da Odebrecht, o caso envolvendo os dois ministros conteria mais detalhes do que o que implica Temer no acerto de contribuição financeira em um jantar no Palácio do Jaburu, residência oficial na vice-presidência, com a presença do então presidente da empreiteira Marcelo Odebrecht em 2014.
O pedido de inquérito, um dos mais detalhados da lista de 83 apresentadas pelo procurador-geral Rodrigo Janot ao STF na semana passada, diz respeito a suposto pagamento de propina relacionada à concessão de aeroportos no país ainda no governo Dilma Rousseff. A acusação tem como base depoimentos de ex-executivos da Odebrecht que, depois de fazerem acordo de delação, relataram pagamentos vinculados a interesses da empreiteira no setor. Parte do assunto é abordada na delação do ex-diretor de Assuntos Institucionais da Odebrecht Cláudio Mello Filho que já veio a público.
Ao relembrar encontros e conversas com Padilha e Moreira, o ex-diretor menciona diversas tratativas sobre aeroportos no Rio de Janeiro, São Paulo e Goiás. Em um dos trechos da delação, o executivo fala especificamente sobre um pedido de dinheiro que Moreira Franco teria feito a ele em reunião na Secretaria de Aviação Civil em 2014, ainda durante o governo da ex-presidente Dilma Rousseff. Chefe do lobby da Odebrecht em Brasília, Mello transmitiu o pedido imediatamente ao superior hierárquico Benedicto Junior, o segundo homem mais importante na Odebrecht, naquele período.
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“Transmiti essa demanda a Benedicto Junior, já que, evidentemente, um pedido de ministro para realizar um pagamento de dinheiro poderia nos trazer prejuízos em caso de não atendimento ou, ainda, vantagens em caso de atendimento. O fato é que pagamentos ocorreram em razão de um pedido feito por um ministro de Estado em ambiente institucional e por ocasião de uma reunião de trabalho”, relatou o executivo, conforme consta em rascunho da delação premiada tornada pública.
Interesse em aeroporto do Rio de Janeiro
No mesmo encontro do pedido de dinheiro, Moreira e o executivo trataram dos interesses da empreiteira, especialmente no Galeão. Mais tarde, Moreira foi substituído por Padilha no cargo, mas os negócios foram mantidos. “Algumas vezes fui cobrado por Eliseu Padilha a respeito do pagamento que havia sido solicitado por Moreira Franco. Novamente transmiti a Benedicto Junior o pedido. Ficou clara a existência de correlação entre a quantia em dinheiro almejada e o cargo de Ministro de Estado ocupado pelas duas pessoas que, em momentos distintos, fizeram o mesmo pedido”, disse o executivo.
Mello explica ainda porque levou o pedido ao superior em vez de cuidar do caso pessoalmente. Para ele, o local do encontro, a sede da Secretaria de Aviação Civil, era um indicativo do peso da negociação em curso naquele momento. “O local em que os pedidos foram feitos carrega relevante simbologia que não pode ser desconsiderada, já que acredito ter pesado no momento da definição que coube internamente a Benedicto Junior”, disse o executivo.
Delatores teriam fornecido mais detalhes sobre negociações
Outros delatores trataram do tema e forneceram mais detalhes. Um deles teria apontado Temer como um dos articuladores dos interesses manifestados por Padilha e Moreira nos encontros com os dirigentes da Odebrecht. Os relatos seriam mais ricos em detalhes que o encontro no Jaburu em 2014. No jantar, organizado por Temer, o então vice-presidente teria pedido dinheiro a Marcelo Odebrech para financiar campanhas do PMDB. A partir dali, teria sido acertado o repasse de R$ 10 milhões. A captação de recursos relacionadas à concessão de aeroportos teria detalhes mais graves.
Mello lembra ainda que, em 2015, com a Lava Jato em pleno vapor, Padilha o procurou para expressar solidariedade a Odebrecht, que já estava no centro das investigações sobre corrupção na Petrobras. Caberá ao ministro Edson Fachin, relator da Lava Jato no STF, deliberar sobre estes e os demais pedidos de investigação.
Procurado pela reportagem, Moreira Franco disse, por meio de sua assessoria de imprensa, que já contratou advogado e “prestará todos os esclarecimentos na esfera judicial tranquilamente”. Padilha não retornou o recado deixado com uma de suas secretárias.