Chefe do órgão no Paraná corre risco de demissão
Apadrinhado de Luiz Antônio Pagot, o superintendente do Dnit no Paraná, José da Silva Tiago, tem grandes chances de ser demitido assim que o Palácio do Planalto concluir a reorganização do comando do Ministério dos Transportes. Em Brasília, a superintendência paranaense é considerada uma das que apresentam as denúncias mais graves entre elas, nas obras do Contorno Norte de Maringá e da Estrada da Boiadeira.
Governistas descartam insatisfação da base aliada
Líder de governo na Câmara dos Deputados, Cândido Vaccarezza (PT-SP), afastou ontem possibilidade de que a "limpeza" venha a provocar um novo racha na base aliada do Palácio do Planalto
Depois de semanas sofrendo pressão do Palácio do Planalto para pedir exoneração, o diretor-geral afastado do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), Luiz Antônio Pagot, oficializou ontem sua demissão para evitar o constrangimento de ser demitido assim que retornasse de suas férias. Externamente, o governo procurou tratar o assunto com discrição. Mas Pagot fez questão de se despedir do Dnit com um discurso inflamado a cerca de 500 ex-subordinados. Em sua fala, o ex-diretor destilou ressentimento e mandou recados velados ao governo. Pagot saiu aplaudido.
No discurso, Pagot disse que não aceita a pecha de corrupto e rebateu o ministro-chefe da Controladoria-Geral da União (CGU), Jorge Hage, para quem o órgão é um antigo foco de corrupção. "Discordo do ministro Jorge Hage, quando diz que o Dnit tem o DNA da corrupção", protestou, segundo relatos de pessoas estavam presentes. "Aqui o que há é o DNA do trabalho e da dedicação dos servidores."
Indiretamente, Pagot criticou também a presidente Dilma Rousseff que, após as denúncias no Ministério dos Transportes e nos órgãos da pasta, exigiu a reestruturação completa no setor, a seu ver caótico e ineficiente. Pagot afirmou que o Dnit executa um orçamento de mais de R$ 1 bilhão por mês e ressaltou que só se consegue isso com trabalho e eficiência. "Somos o órgão de maior execução orçamentária da Esplanada", gabou-se. "Somos líderes absolutos do PAC [Programa de Aceleração do Crescimento] e temos o dobro da execução da Caixa", exemplificou.
Ao contrário do que afirmou Dilma, Pagot disse que conseguiu esses resultados num órgão sucateado. "Nem computadores adequados temos", disse ele, acrescentando que o Dnit trabalha com um terço do número de servidores necessário. Disse ainda que a conquista não foi mérito exclusivo seu, mas de "todos os funcionários e assessores". Pediu que seus agradecimentos fossem transmitidos aos superintendentes e chefes dos diversos departamentos do órgão espalhados no país.
Pagot informou ainda que o Dnit tem 1.156 contratos em execução no país e seria impossível esperar que não houvesse alguma irregularidade num volume de obras tão grande. Mas ressalvou que não houve nem sequer uma denúncia sem apurar ou uma recomendação do Tribunal de Contas da União (TCU) que não fosse atendida ou irregularidade corrigida. A seguir agradeceu a colaboração de todos.
Com capacidade para 500 pessoas, o auditório estava lotado. Pagot foi aplaudido de pé e saiu de forma apoteótica, cumprimentando os servidores até a saída.
Ao contário do que fez com seus subordinados, Pagot não teve a mesma deferência com o ministro Paulo Sérgio Passos, seu chefe imediato: mandou emissários lhe entregarem uma carta comunicando que havia suspendido as férias e pedido demissão do cargo em caráter irrevogável. Outra carta de demissão foi entregue pelo próprio Pagot às 11 horas ao ministro Gilberto Carvalho, chefe da Secretaria-Geral da Presidência, pouco depois do seu discurso de despedida do Dnit. Carvalho se negou a divulgar o teor da carta.
Décimo sétimo
Pagot é o 17.º dirigente a cair em meio à crise que se arrasta desde o começo de julho, com a revelação de um esquema de corrupção, tráfico de influência e cobrança de propina de empreiteiros que o Partido da República (PR) teria montado no Ministério dos Transportes. O ministro Alfredo Nascimento foi um dos primeiros a pedir demissão.
Dilma exigiu uma "limpa" completa no setor e Pagot estava incluído na primeira leva de dirigentes a serem afastados. Mas ele se antecipou à degola e entrou com pedido de férias em 4 de julho, evitando ser demitido.
Pagot tentou se manter no cargo ao poupar o governo da revelação de supostas informações comprometadores durante os dois depoimentos que prestou no Congresso. Mas Dilma manteve a decisão de reformular toda a cúpula dos Transportes e a demissão de Pagot era dada como certa.
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