Em meio à intensificação da movimentação entre os partidos da base aliada pelo afastamento da presidente Dilma Rousseff, o Palácio do Jaburu, residência oficial do vice-presidente da República, Michel Temer, passou a virar ponto de encontro de políticos pró-impeachment.
No mesmo dia em que o PP decidiu desembarcar do governo, integrantes da legenda participaram de encontro no Jaburu que também contou com a presença de representantes do PR, PSD e do PMDB, partido liderado por Temer.
“Muitos deputados estavam lá. Foi feita uma verdadeira romaria. Teve até congestionamento para entrar, uma loucura. Parecia que tinham combinado para fazer um comício lá”, afirmou ao jornal O Estado de S. Paulo o deputado José Priante (PMDB-PA).
O parlamentar foi ao local acompanhado do líder do PMDB, Leonardo Picciani (RJ), que na véspera, logo após a comissão especial da Câmara aprovar o processo de impeachment, já havia se reunido com Temer. Na ocasião, Picciani acertou com o vice de liberar a bancada no dia da votação do processo de afastamento de Dilma, prevista para ocorrer no próximo domingo (17).
Brasília se organiza para receber grupos a favor e contra o impeachment
A liberação da bancada significa que o partido na Câmara não se posicionará nem contra nem a favor do afastamento de Dilma. Essa “neutralidade” do líder é considerada, porém, como um enfraquecimento da estratégia do Planalto de barrar o impeachment, uma vez que sem uma orientação de bancada a favor do governo, os deputados poderão votar como quiserem no plenário sem correrem o risco de serem alvo de alguma penalidade.
Além da liberação da bancada, Picciani deve ser pressionado a declarar publicamente a posição da maioria dos deputados da legenda, a favor do impeachment. Ele, no entanto, deve fazer a ressalva de que, pessoalmente, se mantém contra a saída de Dilma. Uma reunião da bancada para discutir o encaminhamento do partido no próximo domingo deve ocorrer nesta quinta-feira, 14, na Câmara.
Após o encontro com Picciani e Priante, ocorrido no início da noite de ontem, Temer se reuniu com um pequeno grupo de deputados do PMDB ainda indecisos. “Foi uma palavra para todos, diante da possibilidade concreta de acontecer o desfecho do impeachment. Ele está preocupado com a unidade do partido”, disse Priante.
Confiança
Nas rodinhas formadas no Palácio do Jaburu ao longo desta terça-feira, um dos principais temas de discussão foi a decisão do PP em deixar o governo e apoiar o afastamento de Dilma. “Ofereceram o ministério da Saúde para os caras e centenas de cargos do segundo e terceiro escalão e eles disseram: Não! Isso é muito forte”, comemorou um integrante do grupo mais próximo do vice-presidente Temer.
Segundo o peemedebista, o clima nas conversas realizadas na residência oficial do vice-presidente é de muito otimismo. Nos cálculos das lideranças do partido, com os votos do PP o número de votos a favor do impedimento deve chegar a pelo menos 350.
Brasília se organiza para receber grupos a favor e contra o impeachment
Às vésperas da votação do processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff, o clima tenso dos palácios e gabinetes de Brasília ainda não atingiu avenidas e gramados da capital federal. A previsão, no entanto, é de um grande público na Esplanada dos Ministérios no fim de semana, quando o plenário da Câmara analisa o pedido de afastamento. Os movimentos sociais a favor do governo saíram na frente, com um acampamento que, até esta terça-feira, reunia duas mil pessoas numa área próxima ao Estádio Mané Garrincha. Os grupos contrários à presidente tinham apenas 25 pessoas no seu acampamento, montado no Parque da Cidade.
Protestos, aumento de policiais e instalação de muros e alambrados na região central, nos últimos dias, não alteraram a rotina de uma cidade acostumada a mobilizações políticas e esquemas especiais de segurança.
Gerências de quatro hotéis de luxo e quatro de categoria simples ouvidas pela reportagem disseram que a taxa de ocupação ao longo desta semana está em torno de 40%, porcentual considerado normal para este período. Os empresários esperam atingir o dobro no sábado e no domingo. Num grande hotel próximo às residências oficiais do Jaburu e do Alvorada, a estimativa de ocupação, no entanto, é de 46,8% – índice que leva em conta reservas efetuadas até a tarde de segunda-feira (11).
Movimentos de rua contra e a favor do impeachment dizem que ocuparão totalmente os espaços que lhes foram reservados pela Secretaria de Segurança Pública no gramado da Esplanada e na frente do Congresso. Um muro de placas de aço foi instalado para dividir, entre os dois grupos, a tradicional área de manifestações populares. O maior número de pessoas previstas para acompanhar a votação deve vir de Brasília, das cidades satélites e da Região do Entorno do Distrito Federal.
O Movimento Sem Terra (MST) e a Central Única dos Trabalhadores (CUT) coordenam a manifestação pró-Dilma. A expectativa é que o acampamento do Mané Garrincha se multiplique por 20 na próxima sexta-feira, com a chegada do economista João Pedro Stédile, líder do MST. “O fantasma do golpe voltou com Michel Temer e Eduardo Cunha, vamos derrotá-los e evitar que eles passem por cima dos sonhos dos brasileiros”, disse Alexandre Conceição, da executiva do MST, em assembleia preparatória realizada na tarde desta terça.
O MST espera trazer dez mil pessoas especialmente do Nordeste. Ismael César, da executiva da CUT, estima a chegada de 50 mil representantes de sindicatos de São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Goiás.
Muro
O grupo a favor da presidente aceitou a decisão do governo do Distrito Federal de instalar o muro de placas de aço. “Esse muro representa de fato a divisão da sociedade. O muro apenas se materializou”, disse Rafaela Alves, do Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA). “Nós defendemos apenas um projeto em que os trabalhadores do campo possam viver bem, com direitos básicos.”
O reforço ao grupo contra Dilma é prometido por entidades setoriais. É o caso da Confederação Nacional da Agricultura, que espera trazer 20 mil agricultores. A grande presença de público na manifestação do dia 13 de março pelo impeachment anima o grupo. Na manhã de ontem, representantes dos movimentos Limpa Brasil, Resistência Popular e Vem Pra Rua fizeram um ato em frente ao Congresso para criticar a instalação do muro e a proibição de bonecos infláveis e de carros de som de grande porte.
Eles chegaram a dizer para o comandante da PM que a Esplanada deveria ser ocupada apenas por quem defende o impeachment - alegam, por exemplo, que protocolaram primeiro o pedido para protestar no local. “Esse muro é uma vergonha. O Brasil não está dividido, somos 93%” disse Beatriz Kicis, do Resistência Popular, sem apontar a fonte de sua estimativa.
Sob o sol escaldante do cerrado, o ato teve um tom quase místico por conta da proibição do Pixuleco, um boneco inflável do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva vestido de presidiário. Jailton Almeida, do Vem Pra Rua, não se conformava com a decisão. “Eles não podem proibir a presença do Pixuleco, símbolo desta caminhada”, disse ao microfone. “Com a graça de Deus, dia 17 será mais uma vitória.”
Ao menos nos discursos, não há previsão de desmontagem de acampamento de um lado ou outro do Eixo Monumental. Beatriz disse que só deve desarmar as barracas do Parque da Cidade quando o “comunismo” for “afastado” do País. Já Rafaela Alves, afirmou que a desmobilização dos movimentos sociais a favor de Dilma vai depender da “conjuntura”. “Não posso dizer que vamos ficar só até o dia 17.” As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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