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Brasília (Folhapress) – Aparentando bastante tranqüilidade, o ministro Antônio Palocci (Fazenda) deu ontem uma longa entrevista para rebater as acusações de seu ex-assessor Rogério Buratti. Ele disse que irá permanecer no cargo a pedido do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e que a economia brasileira não será afetada por denúncias, em um claro recado ao mercado financeiro. "O presidente Lula pediu para que eu transmitisse a vocês a sua decisão. Ele não deseja que eu saia do Ministério da Fazenda. Ele disse que não autorizará o meu afastamento, mesmo temporário."

Na última sexta-feira, Buratti afirmou a promotores do Ministério Público do Estado de São Paulo que Palocci, quando ainda era prefeito de Ribeirão Preto, recebia R$ 50 mil por mês de empresa de lixo em troca de favorecimento em licitação. Além disso, a última edição da revista Veja diz que o advogado atuou como lobista de empresários junto ao gabinete de Palocci. Ele negou todas as acusações. "Queria negar categoricamente essas acusações. Negar com veemência porque são falsas. Eu não recebi nem autorizei ninguém a receber recursos para o diretório nacional ou outras instâncias", disse.

Na entrevista, de mais de duas horas, ele reafirmou que sua conduta no ministério é "transparente", que abre o seu sigilo fiscal e telefônico caso os promotores entendam que isso é necessário e que irá a alguma Comissão Parlamentar de Inquérito caso convocado. "Eu estou tranqüilo porque sei do que fiz e o que não fiz. As coisas que ocorreram não me preocupam."

Palocci afirmou por repetidas vezes, assim como outros membros do governo Lula já fizeram, que o papel das instituições públicas está mais forte e que a democracia brasileira está mais madura. "Não temos que temer eventos como esse (crise política). Se somos democráticos, a verdade vai aparecer."

Acrescentou ainda que acredita que embora não entenda o motivo que levou Buratti a fazer as denúncias, compreende que deveria estar sobre forte pressão. "Causou-me perplexidade as informações porque são absolutamente falsas."

Sobre o comportamento do promotor que divulgou o depoimento de Buratti, ele disse que enviará uma carta ao governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB) sobre o que ele considerou como "equívocos" do Ministério Público. Além disso, irá estudar durante a semana medidas legais que eventualmente podem ser tomadas contra Buratti, mas acrescentou que ele "não é um inimigo, nem tão pouco um amigo".

Palocci reafirmou que não tem "apego a cargos" e que a economia brasileira tem fundamentos sólidos que não serão alterados por uma mudança na Fazenda. "Penso que a economia brasileira não reagirá de maneira negativa a fatos que envolvam pessoas."

Por conta dessa solidez, o ministro disse que o Brasil chegará ao final do ano que vem muito mais "saudável".

Troca de torpedos

A seguir, as principais acusações de Rogério Buratti contra Antônio Palocci e as explicações do ministro.

Ataque

Segundo seu ex-assessor Rogério Buratti, Antônio Palocci recebia, quando prefeito de Ribeirão Preto, uma propina mensal de R$ 50 mil da empresa Leão Leão, responsável pela coleta de lixo na cidade. O dinheiro seria repassado ao ex-tesoureiro do PT, Delúbio Soares.

Uma gravação feita com autorização judicial em julho de 2004 mostra Buratti e outro ex-assessor de Palocci, Vladimir Poleto, negociando um encontro entre o ministro e o presidente do banco Prosper, Edson Menezes. O encontro ocorreu em outubro.

Segundo a revista Veja, o chefe de gabinete de Palocci, Juscelino Dourado, pediu, por e-mail, a ajuda de Buratti para a compra de um aparelho de espionagem telefônica. Juscelino teria feito o pedido em nome do "chefe"

A quebra do sigilo telefônico de Buratti mostrou ligações para Dourado, para Ralf Barquete (ex-assessor de Palocci em Ribeirão e assessor da presidência da Caixa Econômica Federal até morrer em junho de 2004) e para a casa de Palocci.

Defesa

Palocci nega não apenas ter recebido a propina, mas até a possibilidade de o esquema ter funcionado sem seu conhecimento.

Diz que o contrato com a Leão Leão foi firmado antes de sua gestão e que Buratti fez a acusação sob pressão do Ministério Público.

Segundo Palocci, Menezes pediu o encontro a seu chefe de gabinete e foi recebido na condição de presidente da Bolsa de Valores do Rio de Janeiro. O encontro se deu três meses depois da gravação.

Segundo Palocci, Dourado negou as acusações em resposta à Veja e recebeu da repórter uma mensagem que afirmava não ser ele o remetente do e-mail a Buratti. Dourado também teria pedido uma cópia do e-mail, mas sem recebê-la da revista.

O ministro diz que Buratti e Dourado são amigos e que pode ter recebido alguma ligação de Buratti em 2003. Afirma que escolheu sua equipe com critérios técnicos, e os poucos auxiliares trazidos de Ribeirão Preto não tratam de política econômica.

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