Em depoimento nesta quarta-feira à CPI dos Bingos, o empresário Roberto Colnaghi deixou em situação delicada o ministro da Fazenda, Antonio Palocci. Colnaghi disse que Palocci viajou pelo menos três vezes num jatinho de sua propriedade, o mesmo em que teriam sido transportados dólares vindos de Cuba para a campanha do PT, em 2002. Segundo o empresário, em pelo menos duas oportunidades Palocci usou o avião Sêneca exercendo o cargo de ministro.
A informação contraria nota oficial divulgada por Palocci mês passado, quando o assunto veio à tona. Na nota, o ministro negava ter viajado no avião em 2003 e 2004.
Pressionado pelos senadores, Colnaghi revelou que estava presente em uma das viagens, juntamente com o então presidente do PT, José Genoino. Ele contou que ia de Brasília para Penápolis, em São Paulo, e que Palocci e Genoino pegaram uma carona para Ribeirão Preto. Segundo ele, no meio do caminho os dois pediram para voltar a Brasília e foram atendidos.
- Em Ribeirão Preto, eles foram fazer as coisas deles e eu tive que aguardar. Depois, voltamos para a Brasília e só depois fui para a minha cidade - contou Colnaghi, que disse desconhecer os motivos que levaram Palocci e Genoino a mudar o planejamento neste dia.
Para os senadores de oposição, a viagem é suspeita e reforça a necessidade de Palocci se explicar à CPI. O ministro não quis comentar o depoimento.
- Considero muito estranha essa viagem. Este avião passou a fazer táxi aéreo para essas pessoas - disse o presidente da comissão, senador Efraim Morais (PFL-PB).
O empresário disse ainda que, na campanha eleitoral de 2002, cedeu o avião "cinco ou seis vezes" para petistas, entre eles o ex-deputado José Dirceu. Mas disse que o fez atendendo ao pedido do amigo de infância Ralf Barquete, ex-assessor de Palocci na Prefeitura de Ribeirão Preto e citado em denúncias de corrupção feitas à CPI. Barquete morreu em 2004.
- Cedi (o avião) e não foi ao PT. O Ralf foi meu colega de escola. Eu entrei nessa história mas não tenho nada a ver.
Colnaghi confirmou ainda que emprestou seu avião para que Vladimir Poleto, ex-assessor de Palocci, transportasse três caixas de uísque de Brasília para São Paulo. A CPI dos Bingos investiga se as caixas continham dólares do governo de Cuba para a campanha de Lula, em 2002. Poleto alega ter carregado apenas bebidas.
O empresário disse que cedeu o avião mais uma vez a pedido de outro ex-assessor da prefeitura de Ribeirão Preto, Ralf Barquete, e que foi informado que ele transportaria pessoas, e não caixas:
- Foi este o avião do problema. Mas eu estava a mais de mil quilômetros de lá (de Brasília). Apenas atendi a um pedido de um amigo.
Colnaghi, dono de três empresas de tubos e conexões, também foi indagado sobre seus negócios em Angola. Desde 2002, eles tornou-se um dos principais exportadores para aquele país, em processo de reconstrução após a guerra civil. Ele exporta de material de construção a caminhões, mas negou ter sido favorecido por alguma autoridade brasileira.
- Comecei em 2002 a procurar países em que pudesse falar a língua. Por isso, tenho negócios em Angola e Moçambique. Mas sempre exportei com carta de crédito de lá, dinheiro de Angola.
Para a surpresa de integrantes da oposição na CPI, durante o depoimento Colnaghi revelou ser filiado antigo do PFL. Disse ainda ter emprestado seu avião para dois deputados do PSDB de São Paulo: Julio Semeghini e Mendes Thame.
- Foi durante a campanha. Uma vez para um e outra vez para outro. Mas não era uma coisa sistemática - disse.
Moraes eleva confusão de papéis ao ápice em investigação sobre suposto golpe
Indiciamento de Bolsonaro é novo teste para a democracia
Países da Europa estão se preparando para lidar com eventual avanço de Putin sobre o continente
Ataque de Israel em Beirute deixa ao menos 11 mortos; líder do Hezbollah era alvo
Deixe sua opinião