Ampliar ou não a participação do Estado na economia será o eixo central da discussão ideológica da campanha presidencial de 2010. O tema já esteve presente nas disputas de 2002 e 2006 e será usado novamente para polarizar as visões de PT e PSDB. Nas duas ocasiões, Lula saiu ganhando ao se posicionar dentro da "esquerda nacionalista" e encurralar José Serra e Geraldo Alckmin como representantes da "direita privatista".

CARREGANDO :)

Embalados pela descoberta do pré-sal e pela crise dos mercados financeiros internacionais em 2008, os petistas vão abusar do antigo trunfo. As diretrizes para o programa de governo de Dilma Rousseff, apresentadas durante o Congresso Nacional do partido em fevereiro, têm um viés bem mais estatizante do que os conceitos aplicados na gestão Lula.

O texto defende o crescimento das empresas públicas e o crescimento dos programas de crédito mantidos por órgãos públicos, como o Banco Nacional de Desenvolvi­­mento Social, Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal. Na mesma linha, apoia o polêmico 3.º Programa Nacional de Direitos Humanos, a proposta de redução da jornada de trabalho para 40 horas semanais e a intensificação dos assentamentos de trabalhadores rurais sem-terra.

Publicidade

Até agora, o debate tem colocado os tucanos na defensiva. "Desde o segundo turno de 2006 o PSDB não conseguiu reagir aos ataques de partido privatista", diz Paulo Uebel, diretor-executivo do Instituto Mille­­nium (entidade que defende valores como a economia de mercado).

Segundo ele, a solução é desmontar a tese de que o crescimento do Estado promove o bem-estar social. O instituto fez uma pesquisa neste ano sobre a intervenção estatal na economia dos cinco países com os melhores índices de desenvolvimento humano (Noruega, Austrália, Islândia, Canadá e Irlanda) e detectou que todos eles têm regras de mais liberdade econômica que o Brasil. "O Estado brasileiro precisa primeiro fazer o básico em saúde, educação e segurança pública para depois se credenciar a outras tarefas."

Para o economista Carlos Lessa, ícone da esquerda desenvolvimentista e presidente do BNDES durante o primeiro governo Lula, a discussão tem sido conduzida de maneira mais propagandística do que prática. "Não há grande diferença entre os dois principais candidatos (Serra e Dilma)", explica Lessa, que foi professor da petista na Universidade de Campinas e conviveu com Serra durante o exílio do governador paulista no Chile (entre 1965 e 1973).

Para o economista, o debate deveria girar em torno da reestatização de vários setores, como o de energia elétrica. "A ineficácia das agências reguladoras e o aumento nas tarifas são motivos suficientes para essa mudança. Mas não vejo interesse em transgredir essa linha, vão ficar na história de sempre.".

PT

Publicidade

Defende que o Estado tenha mais participação na economia. Usa como caso de sucesso a atuação dos bancos públicos (BNDES, Caixa e Banco do Brasil) no enfrentamento à crise econômica de 2008 e o papel da Petrobras.

PSDB

Tem adotado um posicionamento ambíguo desde as eleições de 2006. Serra defende uma postura estatizante, mas enfrenta o histórico de privatizações do partido – muitas delas consideradas um sucesso, como no setor de telefonia.