Depois de ver a desaprovação popular maciça da atuação policial na “batalha” do Centro Cívico, que completa uma semana nesta quarta-feira (6), o governo estadual discute internamente uma série de substituições no alto escalão para atenuar o desgaste com o episódio. Dentre os secretários com o cargo ameaçado estão Fernando Francischini, da Secretaria de Segurança, e Eduardo Sciarra, da Casa Civil.
Trocas são respostas de curto prazo, diz cientista político
Típicas em momento de crise, as possíveis substituições de secretários que devem ser levadas a cabo pelo governador Beto Richa (PSDB) nos próximos dias será uma “resposta de curto prazo”, que servirá apenas para acalmar os ânimos das ruas. A avaliação é do cientista político Emerson Cervi, da Universidade Federal do Paraná (UFPR).
Basicamente, as mudanças no alto escalão seriam uma tentativa de satisfazer as pessoas que se indignaram com o que houve no dia 29, mas que não pertencem à categoria de servidores estaduais. Para os professores e as demais categorias que estão mobilizadas, as mudanças significariam muito pouco. “O governo terá que negociar com eles de outra maneira”, afirma Cervi.
No fundo, as substituições não atingirão o âmago da organização política de Richa, avalia o cientista político. “Não haverá mudança administrativa e nem para a base política. Essas mudanças só se justificam porque as primeiras ações do governo não funcionaram, então tem que elevar a resposta, falar para quem não estava envolvido”, diz Cervi.
Clima do interior
Para o especialista, o governador deve ter tomado a dimensão dos acontecimentos apenas depois do feriado de 1º de maio, após ver a repercussão em protestos de rua e ouvir relatos de deputados da base que “mediram o clima” no interior.
Como as manifestações não cessaram no decorrer dos dias, ele se sentiu compelido a dar uma satisfação mais efetiva. “Toda vez que [o governo] vem a público defender o que houve no dia 29, ele gera uma nova leva de críticas. Essa tentativa de mostrar que houve um confronto não está colando”, afirma. (AA)
Outras trocas apuradas pela Gazeta do Povo devem ser na Secretaria da Educação, no comando da Polícia Militar (PM) e na representação do Paraná em Brasília. Apenas esta última foi confirmada oficialmente pelo governo até a noite desta terça-feira (5).
A vice-governadora Cida Borghetti (Pros) foi nomeada para o Escritório de Representação Política no Distrito Federal, substituindo Amauri Escudero, que estava no cargo desde o início do governo Beto Richa (PSDB). Esposa do deputado federal Ricardo Barros (PP), vice-líder do governo Dilma Rousseff (PT) na Câmara, Cida Borghetti é vista como peça-chave para articular assuntos do estado em Brasília.
Essa substituição não tem relação com os incidentes do Centro Cívico. As demais, porém, guardam relação com a forma como foi conduzida a crise com os professores.
Tido como intransigente e com pouca capacidade de diálogo, Fernando Xavier Ferreira deve sair do comando da Educação. Quem tende a entrar é João Carlos Gomes, atual secretário de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior.
Na PM, é esperada a saída do comandante-geral César Kogut, que assumiu a culpa pelos excessos no dia 29. Francischini também afirmou, à imprensa, que as decisões do episódio teriam sido tomadas diretamente pela PM, se isentando de culpa.
A terça-feira foi tomada por várias reuniões da alta cúpula para tratar das substituições, incluindo conversas com Francischini e Kogut. À noite, tanto a Secretaria de Segurança quanto a PM informaram, que, por ora, não havia alterações formais em seus quadros.
Tampouco havia definição sobre a possível saída de Sciarra na Casa Civil – apontado pela oposição como quem ordenou à PM “meter bomba” nos manifestantes. O secretário nega a acusação.
As possíveis trocas seriam uma resposta do governo Richa para se recuperar do desgaste do conflito em frente da Assembleia Legislativa, que teve como saldo mais de 200 pessoas feridas.
Desde o dia 29, o estado viu várias manifestações populares de indignação contra o episódio. Milhares de pessoas foram às ruas protestar na quinta (30), sexta (1.º) e nesta terça (5). Houve grito generalizado de “fora, Beto Richa” no estádio Couto Pereira – que uniu as torcidas do Coritiba e Operário na final do Campeonato Paranaense – e na plateia do Teatro Guaíra, durante o show do rapper Criolo.
Prevendo novas levas de greves e manifestações, o governador teria decidido mudar a forma com que estava lidando com a situação – o que inclui as mudanças no secretariado e o reconhecimento de que houve excessos na ação da Polícia Militar na semana passada.
MP ouve 80 testemunhas
Cerca de 80 pessoas prestaram depoimentos e 150 e-mails, com imagens e vídeos, foram recebidos pelo Ministério Público do Paraná (MP) nas investigações sobre os excessos na repressão da manifestação dos professores no último dia 29. O MP apura se houve crime e violação de direitos humanos no incidente. Quem desejar colaborar com as investigações pode enviar imagens e fotos pelo e-mail denuncias29deabril@mppr.mp.br, criado pelo órgão exclusivamente para receber denúncias.
Dança das cadeiras
O governo do Paraná começou nesta terça-feira (5)a promover mudanças no primeiro escalão, mas ainda sem relação com a batalha do Centro Cívico. Veja qual foi essa mudança e quem pode sair do governo nos próximos dias:
mudança confirmada
Escritório do Paraná em Brasília
Sai: Amauri Escudero
Entra: Cida Borghetti (vice-governadora).
especulações
Secretaria da Segurança
Sai: Fernando Francischini
Entra: indefinido
Comando da PM
Sai: César Kogut
Entra: indefinido
Casa Civil
Sai: Eduardo Sciarra
Entra: indefinido
Secretaria da Educação
Sai: Fernando Xavier Ferreira
Entra: João Carlos Gomes
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