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Horas depois ter novamente seu nome ligado à lista que o procurador-geral, Rodrigo Janot, entregou ao Supremo e que relaciona políticos envolvidos no esquema de corrupção da Petrobras, o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), devolveu nesta terça-feira ao governo a MP que acaba com política de desonerações. Para cientistas políticos ouvidos pelo GLOBO, o gesto do até então fiel aliado do Planalto pode ser sinal de que o senador começa a articular sua defesa e ainda de que a relação já problemática do governo Dilma com o PMDB e com o Congresso tende a se agravar.

“Não acredito que ele tenha devolvido a MP por convicção. Se já foi avisado que seu nome está na lista, sabe que precisa de apoio, por exemplo, se mais tarde for aberto um processo no Conselho de Ética. Ontem, ao devolver a MP, ele se aproximou da oposição, dando um recado de que não é subserviente ao Planalto e de que está indignado. É como se estivesse jogando para a sociedade e enfrentando o governo”, diz a cientista política Lucia Hippolito.

Para ela, as últimas decisões de Renan já devem ter feito acender uma luz vermelha no Planalto: “Se tiver sensatez, o governo entendeu que vai ser muito difícil passar o ajuste fiscal e começa a distribuir os cargos do segundo escalão”.

Insatisfação do PMDB

Principal aliado de Dilma, o PMDB tem se mostrado há tempos “insatisfeito e preterido”. Para os especialistas, a atitude de Renan, que anteontem já havia faltado ao jantar da cúpula da sigla com a presidente, é mais um indício da crise que marca a relação entre o partido e o governo desde o início do segundo mandato.

A situação piora, segundo eles, por conta da inabilidade que o núcleo duro do Planalto, composto por ministros como Aloizio Mercadante (Casa Civil) e Pepe Vargas (Relações Institucionais), tem mostrado durante a articulação política. A eleição de Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que também teria sido citado na lista de Janot, para a presidência da Câmara seria o exemplo mais claro.

“O Renan, até então visto pelo Planalto como um contraponto ao Cunha, fez a segunda desfeita em dois dias. Mas o PMDB já se mostra insatisfeito com a distribuição dos ministérios e acredita não ser consultado pelo governo com a frequência que deveria faz tempo. Ou o governo integra o partido na elaboração das políticas ou tem a perspectiva de colecionar mais e mais derrotas no Congresso”, diz Daniel Aarão Reis, professor da UFF.

Professor da PUC-Rio, Ricardo Ismael diz que a dificuldade do Planalto cresce se Renan decidir ficar mais independente. Para ele, no entanto, a situação se torna mais complexa como o nome do senador e de Cunha na lista entregue ao Supremo. “Isso fará com que fiquem na defensiva, o que pode fazer com que o ano seja ainda mais difícil do que esperávamos em 2014. Por exemplo, o Planalto quer o pacote do ajuste fiscal aprovado o mais rápido possível, mas as Casas podem querer mostrar independência. O nome dos dois na lista do Janot vai tornar o jogo das votações ainda mais complexo”.

De acordo com Reis, a postura de Renan já aponta que o governo terá que “redefinir a política com o Congresso”. “Nas circunstâncias atuais vai ser difícil manter a arrogância habitual da Presidência”.

Cunha

Para ele, se Renan também tiver agido nos episódios do jantar e da devolução da MP por perceber que Cunha vinha ganhando espaço e que estava numa posição subalterna, a situação complica mais. “Mesmo o (Michel) Temer (vice-presidente), o maior fiador do Planalto, já não se sente contemplado pelo governo. Se o Renan achar que perde espaço... Acredito que só a lista seria capaz de enfraquecê-lo e também ao Cunha e ao Congresso. Tendo que se preocupar com a defesa eles vão perder poder”.

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