Um é católico, O outro, evangélico. O primeiro, como ele próprio se define, é de família tradicional de Curitiba. O segundo, sindicalista. Também não fazem parte do mesmo partido político. Um é do PMDB, que terá o governador Roberto Requião como candidato à reeleição. O outro, é coligado ao PPS, que vai lançar Rubens Bueno para o governo do estado. Apesar de poucas características em comum, o deputado estadual Rafael Greca – que tenta a reeleição – e o vereador Manassés Oliveira – pré-candidato a deputado federal – estarão de "braços dados" nas eleições de outubro.

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Esse pragmatismo, ou fisiologismo, para se ganhar a eleição, com políticos se apoiando mutuamente, são as chamadas "dobradas eleitorais". Elas funcionam da seguinte forma: um candidato que tem votação expressiva apóia um outro candidato a outro cargo eletivo que precisa angariar votos, pois ainda é inexpressivo, desconhecido em determinada região.

Eles dividem a estrutura de campanha – como carros de som, folhetos e cabos eleitorais –, cumprem a mesma agenda e posam juntos para fotos. O candidato mais procurado para fazer uma "dobrada" é normalmente aquele que está mais próximo à base eleitoral, que tem mais tempo de mandato e recebeu mais votos nos pleitos anteriores.

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Definição

Essa manobra, que confunde o eleitor, é difícil de ser explicada até mesmo por cientistas políticos. "Na realidade, essas ‘dobradas’ são trocas de favores, nas quais mais de um político se beneficia", afirma o professor de Ciências Sociais Renato Perissinotto, da Universidade Federal do Paraná (UFPR). "Essa transferência de votos é estranha. É um loteamento eleitoral e afeta a autonomia do eleitor. O cidadão vota em um candidato e alimenta outra candidatura", diz.

"E se é permitido legalmente, é pouco provável que o político vá deixar de aproveitar a oportunidade. Dentro do contexto de regras, um não vai abrir mão se o outro faz. Deveria haver mudanças na legislação eleitoral", opina Perissinotto.

A confusão em relação às "dobradas" e a mistura que elas provocam causam divergências entre especialistas no assunto. "Sendo políticos do mesmo partido, não vejo problemas em haver a ‘dobrada’. O que as pessoas não entendem é que o voto é para o partido, e não para a pessoa. Hoje vivemos baseados no voto personalista", opina Luciana Veiga, professora de Ciências Sociais da UFPR.

Ela explica que a idéia dos candidatos é obter o maior número de votos para o partido ao qual pertencem. "Se o político é um puxador de votos, vai atrair a maior quantidade de votos para o partido." Luciana admite, no entanto, que é um problema sério quando políticos de partidos diferentes fazem parceria durante a campanha.

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Segundo a professora, essa é uma estratégia partidária pragmática e o retorno eleitoral é dado ao cidadão quando o partido consegue maior bancada no Legislativo. "Tendo um maior número de políticos com mandatos, consegue-se levar mais recursos para a região. É a maximização partidária", diz.