Viajar mais pelo país foi uma das estratégias adotadas pela presidente Dilma Rousseff para defender seu mandato e tentar desidratar o apoio popular ao processo de impeachment. Desde 2 de dezembro, quando o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), deu início ao processo, Dilma se mobilizou e, durante 20 dias, dobrou o número de viagens pelo Brasil em relação a todo o mês de novembro. De 2 a 22 de dezembro, a petista visitou sete municípios, enquanto nos 30 dias do mês anterior fez apenas três viagens pelo país.
Em janeiro, a maratona deve continuar. Com o Congresso e o Judiciário em recesso, o Planalto buscará neutralizar a maré de notícias negativas que dominou o noticiário nos últimos meses, tentando criar uma “agenda positiva”. A ideia é fazer o máximo de viagens possível, com inaugurações de obras e eventos públicos.
Paralelamente, a presidente está disposta, segundo interlocutores, a debater com os aliados propostas para fazer a economia reagir, além de pôr na mesa propostas de reforma da Previdência. Segundo um ministro do Palácio do Planalto, mesmo que esses temas sejam complexos, eles vão além do ajuste fiscal puro e simples, que dominou 2015 e é considerado uma pauta negativa.
Dilma também deve aproveitar janeiro para divulgar uma agenda mais programática, para tirar do foco o ajuste fiscal. Um dos temas abordados serão as Olimpíadas de 2016. A intenção é evitar que o evento seja alvo de críticas, como foi a Copa do Mundo.
Inaugurações
Em dezembro, já no primeiro fim de semana após a decisão de Cunha, Dilma foi ao Recife para lançar o plano nacional de enfrentamento ao mosquito Aedes aegypti, como medida de combate aos casos de microcefalia. Apesar do número elevado de casos, antes de a Câmara dar início ao processo de impeachment, Dilma acompanhava o assunto de longe, com conversas restritas com ministros e governadores em seu gabinete no Planalto.
A petista também não perdeu a oportunidade de participar de diversas inaugurações, para defender seu mandato e demonstrar que o governo não está paralisado. Além das habituais entregas de unidades do Minha Casa Minha Vida, que ocorreram em Boa Vista (RR) e Camaçari (BA), ela participou da inauguração do Museu de Congonhas, no interior de Minas Gerais, e do Museu do Amanhã, no Rio de Janeiro.
Embora na maioria dos eventos tenha sido recebida com palmas e gritos de “Não vai ter golpe”, na inauguração do metrô na Bahia a recepção não foi tão calorosa, e parte da plateia vaiou a presidente.
Dilma conciliou duas viagens em uma só data. No mesmo dia em que foi até a Bahia, ela também foi até Floresta, no sertão de Pernambuco, para inaugurar uma estação de bombeamento do projeto de transposição do Rio São Francisco que já funcionava há mais de dois meses.
Não fosse a posse dos ministros da Fazenda (Nelson Barbosa) e do Planejamento (Valdir Simão), Dilma teria ido até Dourados (MS), na última segunda-feira, para conhecer o Sistema Integrado de Monitoramento de Fronteira (Sisfron). No entanto, optou por participar apenas da Cúpula do Mercosul, no Paraguai, e voltar a Brasília para o evento de mudança no primeiro escalão.
Outra viagem internacional feita nos últimos dias pela presidente foi à Argentina, onde ela participou da posse do presidente Mauricio Macri. Embora no Brasil o assunto impeachment estivesse em pauta, a presidente preferiu manter o compromisso, para evitar que o noticiário interno contamine ainda mais a imagem do Brasil no cenário internacional.