Depois de uma série de reuniões na segunda-feira (6) para tentar conter o agravamento da crise política, a presidente Dilma Rousseff (PT) decidiu partir para o confronto direto com a oposição com o objetivo de defender o seu mandato. Em entrevista publicada nesta terça (7) pelo jornal Folha de S. Paulo, Dilma chamou de “um tanto golpista” o grupo de opositores que defende seu impeachment e a realização de novas eleições. A oposição reagiu e acusou o PT de ser golpista. E, assim, o impeachment passou a ser discutido abertamente, tanto pelos favoráveis quanto pelos contrários.
Base aliada apoia Dilma
Diante do agravamento da crise, presidentes de partidos aliados e líderes da base de Dilma no Congresso divulgaram, nesta terça-feira (7), nota em defesa do mandatos da presidente. Assinada por líderes de 11 partidos, a nota defende o respeito à Constituição e da vontade popular expressa nas urnas.
O embate em torno do impeachment começou no domingo (5), quando a possibilidade de Dilma não terminar o mandato foi discutida abertamente na convenção nacional do PSDB. A reação de Dilma não foi a de tentar apaziguar os ânimos, mas de tentar colar nos oposicionistas a pecha de “golpistas”. “Eu não vou cair. Eu não vou, eu não vou. Isso aí é moleza, é luta política”, disse a presidente na entrevista à Folha de S. Paulo. “Vão provar que algum dia peguei um tostão? Vão? Quero ver algum deles provar. Todo mundo neste país sabe que não. Quando eles corrompem, eles sabem quem é corrompido.”
Segundo a presidente, as doações recebidas por sua campanha foram regulares e não há motivos para justificar seu afastamento do cargo. Essas contribuições, segundo delatores que colaboram na investigação da Operação Lava Jato, eram uma forma de disfarçar o pagamento de propinas ao PT. Apesar disso, Dilma disse que não há base para um pedido de impeachment e que não teme essa possibilidade. “Não tem base para eu cair, e venha tentar. Se tem uma coisa que não tenho medo é disso”, afirmou.
O presidente do PSDB, senador Aécio Neves (MG), ironizou as declarações de Dilma. “Para o PT, se o TSE [Tribunal Superior Eleitoral] investiga ilegalidades na prestação de contas das campanhas eleitorais da presidente da República, trata-se de golpe. (...) Tudo que contraria o PT, e os interesses do PT, é golpe!”, afirmou. Candidato derrotado nas últimas eleições presidenciais, o mineiro afirmou que golpe é o discurso de petistas, que tem como objetivo “constranger e inibir instituições legítimas”.
Para o líder do DEM no Senado, Ronaldo Caiado (GO), Dilma está “escrevendo o script” de quem está deixando o poder. “É o discurso do ‘eu me garanto’, ‘não me intimidam’, ‘estou acostumada com isso’”, disse ele. Caiado negou atitude golpista de partidos da oposição e ponderou que “as regras estão sendo seguidas à risca”, em referência aos questionamentos sobre as pedaladas fiscais, em análise pelo Tribunal de Contas da União (TCU), e sobre suposto crime na campanha que reelegeu a presidente, em estudo pelo TSE. “Ela é imune a tudo? É uma postura imperial, não é uma postura republicana”, afirmou o senador.
O presidente nacional do PSB, Carlos Siqueira, reiterou que seu partido por ora não defende o impeachment, mas ele reclamou da tese de “golpismo” usada pelo governo. “O que me aborrece é essa tese de que é golpe. [O impeachment] já foi feito [antes, no caso de Fernando Collor]. Nós apoiamos, o PT apoiou, forças políticas democráticas apoiaram, então não faz sentido dizer que é golpismo.”
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