A presidente Dilma Rousseff procurou ontem (6) desvincular o governo da suspeita de participar, em dobradinha com o PT, de uma estratégia para combinar perguntas e respostas com os depoentes da CPI da Petrobras no Senado, evitando prejuízos ao projeto de reeleição. "Acho estarrecedor que seja necessário alguém de fora da empresa elaborar perguntas para a Petrobras", afirmou Dilma.
Irritada com a pergunta sobre o novo caso envolvendo a estatal, ela usou tom irônico para dizer que achava "extraordinária" a tentativa de vincular o governo com a CPI. "O Palácio do Planalto não é expert em petróleo e gás. Expert em petróleo e gás é a Petrobras", reagiu ela, após participar de sabatina na Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA).
Dilma chegou a fazer menção de deixar a entrevista, mas decidiu prosseguir com a resposta. "Eu queria saber se vocês podiam me informar quem elabora perguntas e respostas sobre petróleo e gás para a oposição. Muito obrigada. Não é o Palácio do Planalto nem nenhuma sede de nenhum partido", afirmou.
Horas depois da entrevista da presidente, o secretário executivo da Secretaria de Relações Institucionais, Luiz Azevedo, divulgou nota afirmando ter atuado na CPI da Petrobras. Ele justificou a iniciativa sob a alegação de que atender às demandas da comissão faz parte de suas atribuições.
"Por se tratar de uma ação investigativa do Parlamento envolvendo uma empresa estatal, evidentemente a articulação política do governo não deve se omitir de participar dos debates com parlamentares, inclusive para a formação do roteiro e da estratégia dos trabalhos", escreveu Azevedo, que, segundo o jornal Folha de S.Paulo, coordenou a atuação da Petrobras e da liderança do PT na CPI do Senado. "Trabalhos esses que foram, desde o início, boicotados pela oposição, que agora se utiliza de oportunismo para explorar politicamente o factoide criado", afirmou o secretário executivo na nota.
Segundo reportagem da revista Veja, o servidor Paulo Argenta, também da Secretaria de Relações Institucionais, foi um dos autores das perguntas encaminhadas ao relator da CPI, José Pimentel (PT-CE), para que elas fossem repassadas à presidente da Petrobras, Graça Foster, ao ex-presidente da estatal José Sergio Gabrielli e ao diretor internacional Nestor Cerveró. O ministério, comandado por Ricardo Berzoini, responsável pela articulação política do Planalto com o Congresso, nega atuação eleitoreira no episódio.
"Quem sabe das perguntas sobre petróleo e gás só tem um lugar no Brasil... (Aliás), eu não diria um, eu diria vários lugares no Brasil: a Petrobras e todas as empresas de petróleo e gás", afirmou Dilma. Questionada se esquecera de mencionar a Agência Nacional de Petróleo, a presidente emendou: "Mas a Petrobras sabe mais. Há uma simetria de informações entre nós, mortais, e o setor de petróleo. O setor de petróleo é altamente oligopolizado, extremamente complexo tecnicamente."
Indagada sobre o que achava da possibilidade de Graça Foster ter bens bloqueados pelo Tribunal de Contas da União no processo que apura o caso Pasadena, Dilma disse à repórter: "Você já julgou, querida?". "Eu te agradeço por não fazer isso. Acho que, se não houve julgamento, não gera constrangimento nenhum. Peço para você não fazer uma pergunta sobre o julgamento de uma corte que não foi feito. Não é correto."
"Omissão"
Para o ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Gilberto Carvalho, a oposição "força a barra" para atingir a candidatura de Dilma. "Vejo uma tentativa de criar um escândalo que, se ocorreu, ocorreu por uma brutal omissão da oposição que entendeu que não deveria participar da CPI", disse Carvalho, que criticou Aécio Neves, candidato do PSDB à Presidência, insinuando que ele não comparece ao Senado. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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